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Algoritmos: como funciona a caixa preta que define o que vemos ao acessar uma rede social

Algoritmos: como funciona a caixa preta que define o que vemos ao acessar uma rede social | Inovação Educacional | Scoop.it
Apesar da frequência com que se fala de algoritmos, pouco se discute a lógica por trás dos sistemas de recomendação que selecionam o conteúdo que vemos ao acessar uma rede social ou plataforma. Eles fazem uma curadoria do que vemos a partir de padrões de consumo de perfis semelhantes ao nosso. A lógica por trás disso vem da identificação de comunidades de gosto, uma ideia que a sociologia já conhecia e que a computação traduziu em códigos e previsões algorítmicas.

A música foi um grande laboratório de tudo que aconteceria com o consumo cultural online e outros campos, como as questões ambientais, a comunicação e questões e campanhas políticas, por ser facilmente digitalizável e compartilhável. Foi o primeiro tipo de conteúdo a sofrer os impactos da internet — pirataria, crise da indústria fonográfica — e por isso atraiu esforços de inovação tecnológica. Assim, os primeiros sistemas de recomendação foram desenvolvidos para sugerir músicas. A partir dessa lógica de comunidades de gosto, o modelo foi sendo replicado para outros tipos de conteúdos, como vídeos, notícias, textos e anúncios, ou seja, todo tipo de conteúdo online.


Os algoritmos fazem uma curadoria do que vemos a partir de padrões de consumo de perfis semelhantes ao nosso Foto: Adobe Stock
Os algoritmos do gosto
Para você


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Esses sistemas de recomendação trabalham a partir da análise do comportamento de grandes grupos de usuários. Quando você consome um conteúdo, o sistema cruza seus dados com os de outras pessoas que tiveram comportamentos semelhantes. Ele não prevê o seu gosto individual, mas o da comunidade de gosto à qual você pertence. Esse é o princípio da recomendação colaborativa. O sistema associa o indivíduo a um grupo com padrões de consumo parecidos e, com base nisso, sugere conteúdos de que você provavelmente vai gostar, se interessar ou achar relevante baseado no que alguém com perfil parecido com o seu consumiu ontem. Parece algo muito inteligente, mas é simplesmente uma identificação de padrões.

No começo, houve uma tentativa de analisar o conteúdo a partir de elementos da própria música — por exemplo, o timbre de bateria ou guitarra — para prever o próximo conteúdo a ser oferecido, como se houvesse um “dna” musical que determinasse a preferência dos usuários. Logo percebeu-se que era mais eficiente prever com base no comportamento de outros usuários. Isso porque a comunidade não consome um tipo de conteúdo totalmente homogêneo. Ela combina conteúdos diferentes na sua preferência, mas cria identidade a partir dos perfis. Isso muda totalmente a lógica da curadoria. Esses sistemas de recomendação algorítmica passaram então a organizar a oferta e a demanda dos conteúdos. Isso foi genial para as empresas, já que nesse sistema não há excedente: todo conteúdo chega em algum usuário, de alguma maneira.

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Impacto na indústria cultural
Antes, apenas cerca de 20% dos produtos culturais geravam lucro — era a chamada cultura pop, que vendia tanto que acabava pagando os outros 80%. Por outro lado, a sociedade pressionava por mais diversidade cultural, de conteúdos, opiniões. Mas a diversidade não era viável economicamente. Com os sistemas de recomendação, mesmo os conteúdos de nicho se tornaram monetizados, porque esses conteúdos passaram a ser direcionados para o público certo. Isso salvou setores como o fonográfico e o audiovisual, que passaram a depender da recomendação de conteúdo personalizada para tornar a diversidade lucrativa.


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Essa lógica, porém, beneficia muito mais as plataformas do que os criadores, que seguem sendo mal remunerados. As plataformas centralizam tudo: dados, distribuição, publicidade, e ainda definem e controlam as métricas de performance que entregam aos artistas. O criador não sabe quantas vezes sua música foi tocada e não sabe os critérios utilizados para a recomendação de conteúdo, a não ser pelos números que a própria plataforma oferece a cada um deles. Essa questão do direito autoral é muito séria. As plataformas estimulam que os artistas produzam conteúdos e os coloquem lá de graça porque concentram todo o poder de distribuição e definem os padrões de consumo. Esse material então passa a ser encarado como divulgação e o artista tem que ganhar dinheiro de outra forma.

Controle máximo, transparência mínima
Na área da comunicação, os efeitos são ainda mais preocupantes. Especialmente por conveniência, as pessoas se deixam levar e passaram a confiar na curadoria algorítmica da mesma forma que confiavam na programação de rádio ou na manchete de um jornal. Imaginavam que aquela música tinha sido selecionada por alguém porque tinha uma relevância social, e não porque alguém pagou — o chamado jabá, que inclusive é proibido no Brasil e muitos países. As pessoas seguem confiando na curadoria e, para além disso, acreditam que o que aparece nas plataformas foi selecionado de forma neutra. Mas o algoritmo é uma programação feita por humanos, com pesos baseados em interesses e ganhos econômicos. E o que vemos é que as plataformas priorizam o que gera mais atenção e lucro, não o que é mais relevante, de qualidade ou confiável. O que engaja mais, aparece mais.

A transparência sobre como as plataformas funcionam é mínima. Quando essas empresas de tecnologia surgiram, elas eram vistas como startups inovadoras, que entregavam tudo de graça para as pessoas, dando acesso à informação e fazendo uma revolução cultural. Essa visão foi cultivada durante vinte anos e teve algumas consequências. Uma delas, de ordem cultural, é essa confiança na curadoria algorítmica. E essa excessiva confiança e esperança depositada na tecnologia teve consequências econômicas e jurídicas: essas empresas cresceram muito e avançaram sem nenhuma regulamentação. Quando abrimos os olhos, elas eram as empresas mais poderosas do mundo, possuindo mais dados do que qualquer Estado (e até mesmo regimes autoritários) jamais teve sobre cada um dos cidadãos. Elas são os novos gatekeepers da informação. E trabalham para manter e aumentar esse poder, sem regulamentação, sob a bandeira de que não produzem conteúdo – fazem “apenas” curadoria – e, portanto, não têm responsabilidade sobre o que as pessoas colocam nas plataformas. A consequência disso tudo é que informações de baixa qualidade ou falsas circulam com mais intensidade que conteúdos jornalísticos sérios.

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Muitos veículos jornalísticos acabaram se submetendo a essa lógica do conteúdo de baixa qualidade para aumentar engajamento, feito sem nenhum investimento. Os grandes veículos de comunicação, por sua vez, aqueles que têm poder econômico, começaram a brigar com as plataformas, porque elas não pagam o direito autoral, e porque, enfim, estão disputando o mercado publicitário. Paralelamente, há um incômodo global sobre essa quantidade de conteúdo de baixa qualidade dentro das redes sociais. As plataformas então começaram a buscar os conteúdos de empresas tradicionais de comunicação, especialmente os de menor porte, que precisam de visibilidade para sobreviver. Elas oferecem “apoio técnico” e monetário e, com isso, moldam o formato e a lógica da produção de conteúdo jornalístico. O Google, por exemplo, financia projetos jornalísticos no mundo todo, mas ensina como produzir conteúdos mais “recomendáveis” para o seu sistema. Ou seja, as plataformas criaram um modelo em que o jornalismo precisa delas para sobreviver.

A regra que vale no jornalismo, estabelecida com muita luta, é que se há dinheiro ou permuta por trás de uma recomendação, é jabá — e o público precisa saber. Nas redes sociais esse debate não avançou, deixando oculto se há pagamento nas sugestões. Isso escancara a falta de neutralidade algorítmica e a desigualdade da visibilidade: os conteúdos têm pesos diferentes.

Desinformação como mercado rentável
A desinformação sempre existiu, mas nos dias de hoje opera como uma indústria global, com escala mundial e instantaneidade. E não é mais, necessariamente, uma questão política ou ideológica. É um mercado profissionalizado que atrai interesse de diversos setores. E se antes havia grupos que atuavam como militantes ou hackers isolados, agora ela é movida por interesses políticos, econômicos e criminosos e prospera nas plataformas graças ao alcance massivo, pouca regulação e algoritmos que premiam o sensacionalismo. Vemos isso claramente na política, na saúde e no meio ambiente.

Nas eleições, por exemplo, há uso massivo de desinformação para manipular a percepção pública e interferir nos resultados. Essa indústria passa a fazer parte do conjunto de empresas que são contratadas em campanhas eleitorais para a produção de peças de propaganda para manipular o eleitor. Elas atuam disseminando informações falsas sobre candidatos, governos etc.; ou turbinando artificialmente algum assunto de interesse – dando a sensação de que a opinião pública está indo para um determinado lado, que as pessoas estão discutindo algum assunto porque o consideram relevante, quando na verdade nada disso é real. Vimos isso acontecer em 2016, na campanha eleitoral de Trump, nos Estados Unidos, e no referendo do Brexit, no Reino Unido. Ali surgiu a propaganda computacional que manipula o debate público em larga escala. Bots e perfis falsos inflam engajamento, fabricam controvérsias, atacam adversários e ampliam discursos extremistas. A chegada das ferramentas da inteligência artificial (IA) generativa tornam esse campo ainda mais complexo, com a possibilidade de gerar conteúdos em massa que parecem legítimos, mas foram criados para enganar, manipular ou apenas lucrar.

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Especialmente nas campanhas eleitorais, é preciso garantir acesso à informação de qualidade e transparência, para que as pessoas possam tomar suas decisões com base no que é real. Se não há informação qualificada, se a população é manipulada com base em informações falsas, a democracia está realmente ameaçada.

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A tempestade perfeita
Nos últimos cinco anos, a indústria da desinformação se sofisticou e cresceu sem nenhuma punição ou monitoramento. Sua atuação no campo da saúde, por exemplo, é extremamente preocupante. Nas redes, influenciadores, grupos e empresas promovem curas milagrosas e desinformação sobre vacinas, cultivando um enorme problema de saúde pública.

Na pauta ambiental, há uma guerra de desinformação para sabotar políticas públicas e desacreditar a ciência climática. São operações com objetivos claros e financiamentos diversos — de grupos políticos a setores econômicos. A desinformação virou ferramenta de lobby. E mesmo quem não acredita nela sofre os seus efeitos.

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Grupos políticos que eram mais outsider, especialmente de extrema direita, usaram as plataformas para disseminar suas narrativas e conteúdos, e começaram a se estruturar no mundo digital. À margem da mídia tradicional — que tinha espaço para a direita, mas não para a extrema direita — ocuparam o novo espaço digital e passaram a defender as plataformas como aliadas estratégicas.

Ou seja, eles não estão inseridos no establishment tradicional e têm a rede como infraestrutura. Em troca da visibilidade que recebem, atuam contra qualquer tentativa de regulação. É uma relação de conveniência: as plataformas garantem espaço e alcance, e esses grupos oferecem apoio político para manter o ambiente desregulado. Com a falta de regulamentação das redes, eles próprios têm a garantia de que não serão responsabilizados pelos discursos de ódio ou pelas estratégias de comunicação baseadas em desinformação. Esses grupos de extrema direita se apropriaram da narrativa da liberdade de expressão para proteger um ambiente que lhes é extremamente favorável. Aliaram interesse econômico e o interesse político. Um casamento perfeito ou, no meu ponto de vista, uma tempestade perfeita.

Modelo centrado no lucro, mas poderia ser diferente
O enfrentamento desse problema envolve ações e soluções que passam por três camadas: cultural, política e econômica. Primeiro, precisamos entender que a desinformação não é um problema individual, mas coletivo. Não se trata, por exemplo, de ensinar o usuário a identificar fake news ou de responsabilizar pais, mães e cuidadores pelos conteúdos a que os adolescentes têm acesso hoje nas redes. A responsabilidade precisa ser das plataformas — e não do usuário. As plataformas não são apenas espaços técnicos ou neutros — elas são ambientes com implicações sociais e políticas profundas. Precisamos discutir qual modelo de comunicação digital queremos como sociedade. Hoje, o modelo é centrado na atenção e no lucro das grandes empresas. Mas poderia ser outro, baseado em direitos, diversidade e interesse público. Essa mudança exige engajamento social, mobilização e vontade política. E, principalmente, exige que deixemos de naturalizar o caos informacional em que estamos vivendo.

Do ponto de vista econômico, uma das saídas passa pela articulação social de setores da economia que percebam a gravidade e o impacto da desinformação para o seu próprio negócio. Da sua mobilizacão e força para enfrentar o interesse dessas empresas específicas, que precisam de algum limite. No campo político, não há outra saída: é necessário regulamentar. Precisamos exigir transparência nos sistemas de recomendação e responsabilização das plataformas. Isso passa por regulamentação e fiscalização, além de legitimidade e força política para aplicação de leis já existentes.

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Marie Santini é Professora da Escola de Comunicação e diretora do NetLab (Internet and Social Media Research Lab), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
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Curadoria por Luciano Sathler. CLIQUE NOS TÍTULOS. Informação que abre caminhos para a inovação educacional.
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September 10, 2024 9:19 AM
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Igualdade Artificial, um risco para a educação. Por Luciano Sathler

Igualdade Artificial, um risco para a educação. Por Luciano Sathler | Inovação Educacional | Scoop.it

O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa?
Luciano Sathler
É PhD em administração pela USP e membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais
As diferentes aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa são capazes de criar novos conteúdos em texto, imagens, áudios, vídeos e códigos para software. Por se tratar de um tipo de tecnologia de uso geral, a IA tende a ser utilizada para remodelar vários setores da economia, com impactos políticos e sociais, assim como aconteceu com a adoção da máquina a vapor, da eletricidade e da informática.
Pesquisas recentes demonstram que a IA generativa aumenta a qualidade e a eficiência da produção de atividades típicas dos trabalhadores de colarinho branco, aqueles que exercem funções administrativas e gerenciais nos escritórios. Também traz maior produtividade nas relações de suporte ao cliente, acelera tarefas de programação e aprimora mensagens de persuasão para o marketing.
O revólver patenteado pelo americano Samuel Colt, em 1835, ficou conhecido como o "grande equalizador". A facilidade do seu manuseio e a possibilidade de atirar várias vezes sem precisar recarregar a cada disparo foram inovações tecnológicas que ampliaram a possibilidade individual de ter um grande potencial destrutivo em mãos, mesmo para os que tinham menor força física e costumavam levar desvantagem nos conflitos anteriores. À época, ficou famosa a frase: Abraham Lincoln tornou todos os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais.
Não fazemos aqui uma apologia às armas. A alegoria que usamos é apenas para ressaltar a necessidade de investir na formação de pessoas que sejam capazes de usar a IA generativa de forma crítica, criativa e que gerem resultados humanamente enriquecidos. Para não se tornarem vítimas das mudanças que sobrevirão no mundo do trabalho.
A IA generativa é um meio viável para equalizar talentos humanos, pois pessoas com menor repertório cultural, científico ou profissional serão capazes de apresentar resultados melhores se souberem fazer bom uso de uma biblioteca de prompts. Novidade e originalidade tornam-se fenômenos raros e mais bem remunerados.
A disseminação da IA generativa tende a diminuir a diversidade, reduz a heterogeneidade das respostas e, consequentemente, ameaça a criatividade. Maior padronização tem a ver com a automação do processo. Um resultado que seja interessante, engraçado ou que chama atenção pela qualidade acima da média vai passar a ser algo presente somente a partir daqueles que tiverem capacidade de ir além do que as máquinas são capazes de entregar.
No caso dos estudantes, a avaliação da aprendizagem precisa ser rápida e seriamente revista. A utilização da IA generativa extrapola os conceitos usualmente associados ao plágio, pois os produtos são inéditos – ainda que venham de uma bricolagem semântica gerada por algoritmos. Os relatos dos professores é que os resultados melhoram, mas não há convicção de que a aprendizagem realmente aconteceu, com uma tendência à uniformização do que é apresentado pelos discentes.
Toda Instituição Educacional terá as suas próprias IAs generativas. Assim como todos os professores e estudantes. Estarão disponíveis nos telefones celulares, computadores e até mesmo nos aparelhos de TV. É um novo conjunto de ferramentas de produtividade. Portanto, o desafio da diferenciação passa a ser ainda mais fundamental diante desse novo "grande equalizador".
Se há mantenedores ou investidores sonhando com a completa substituição dos professores por alguma IA já encontramos pesquisas que demonstram que o uso intensivo da Inteligência Artificial leva muitos estudantes a reduzirem suas interações sociais formais ao usar essas ferramentas. As evidências apontam que, embora os chatbots de IA projetados para fornecimento de informações possam estar associados ao desempenho do aluno, quando o suporte social, bem-estar psicológico, solidão e senso de pertencimento são considerados, isso tem um efeito negativo, com impactos piores no sucesso, bem-estar e retenção do estudante.
Para não cair na vala comum e correr o risco de ser ameaçado por quem faz uso intensivo da IA será necessário se diferenciar a partir das experiências dentro e fora da sala de aula – online ou presencial; humanizar as relações de ensino-aprendizagem; implementar metodologias que privilegiem o protagonismo dos estudantes e fortaleçam o papel do docente no processo; usar a microcertificação para registrar e ressaltar competências desenvolvidas de forma diferenciada, tanto nas hard quanto soft skills; e, principalmente, estabelecer um vínculo de confiança e suporte ao discente que o acompanhe pela vida afora – ninguém mais pode se dar ao luxo de ter ex-alunos.
Atenção: esse artigo foi exclusivamente escrito por um ser humano.
O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciano Sathler foi "O Ateneu" de Milton Nascimento.

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August 22, 3:00 PM
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We must build AI for people; not to be a person

We must build AI for people; not to be a person | Inovação Educacional | Scoop.it
We must build AI for people; not to be a person
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August 22, 2:56 PM
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O Começo da Vida: A Série | Episódio 02 - Tornar-se pai, tornar-se mãe

Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.

O segundo episódio da série, “Tornar-se pai, tornar-se mãe”, aborda as alegrias e os desafios da parentalidade, em um episódio bem-humorado e sensível.

Quer ir além da série? Acesse: http://ocomecodavida.com.br
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August 22, 2:55 PM
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O Começo da Vida: A Série | Episódio 04 - Infância Negada

Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.

O quarto episódio da série, “Infância Negada”, mostra que mesmo desejando o melhor para seus filhos, nem todos os pais são capazes de fornecer um ambiente seguro e saudável. O episódio ressalta que para cuidar de bebês e de crianças, é necessário primeiro ajudar o adulto responsável por elas.

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August 22, 2:55 PM
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O Começo da Vida | Filme Completo

Um dos maiores avanços da neurociência é ter descoberto que os bebês são muito mais do que uma carga genética. O desenvolvimento de todos os seres humanos encontra-se na combinação da genética com a qualidade das relações que desenvolvemos e do ambiente em que estamos inseridos. O Começo da Vida convida todo mundo a refletir como parte da sociedade: estamos cuidando bem dos primeiros anos de vida, que definem tanto o presente quanto o futuro da humanidade?

Quer ir além do filme? Acesse: http://ocomecodavida.com.br
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August 22, 2:36 PM
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MEC vai punir cursos de medicina mal avaliados em exame a partir de 2026; entenda

MEC vai punir cursos de medicina mal avaliados em exame a partir de 2026; entenda | Inovação Educacional | Scoop.it
Faculdades que persistirem com baixo desempenho no Enamed poderão ter cursos cancelados
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August 22, 2:33 PM
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Estudantes com autismo vão a Justiça após terem cota negada por universidades

Estudantes com autismo vão a Justiça após terem cota negada por universidades | Inovação Educacional | Scoop.it
Jovem do Espírito Santo teve diagnóstico questionado e matrícula cancelada. Morador de Alagoas foi matriculado após decisão da Justiça. Para especialistas, maior dificuldade de perceber barreiras em casos de autismo de nível um de suporte e falta de diretriz nacional para bancas impõem desafios. MEC e Ministério dos Direitos Humanos dizem que estudam padronização. Universidades defendem autonomia.
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August 22, 2:31 PM
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SP vai premiar escolas por frequência e desempenho

SP vai premiar escolas por frequência e desempenho | Inovação Educacional | Scoop.it
O bônus será repassado por meio do PDE (Prêmio de Desempenho Educacional), que até este ano premiava os servidores pela assiduidade.

A frequência dos profissionais ainda será considerada na premiação, mas os repasses podem aumentar conforme metas de desempenho individuais e coletivas forem alcançadas.
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August 22, 2:30 PM
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Com IA e deepfake nudes, pais deveriam parar de postar fotos dos filhos nas redes

Com IA e deepfake nudes, pais deveriam parar de postar fotos dos filhos nas redes | Inovação Educacional | Scoop.it
Os chamados aplicativos “nudificadores” são simples e baratos para qualquer pessoa usar, com alguns até oferecendo testes gratuitos. Eu dei uma olhada em alguns deles. Esses aplicativos estão sendo amplamente usados por estudantes nas escolas e, para as vítimas, ter nudes gerados artificialmente divulgados publicamente tem sido tão traumático quanto se as fotos fossem reais.
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August 22, 2:29 PM
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Por que é um retrocesso pensar em reprovação escolar?

Por que é um retrocesso pensar em reprovação escolar? | Inovação Educacional | Scoop.it
Pesquisas indicam que a reprovação escolar é ineficaz e prejudicial. Entenda caminhos possíveis para esse debate
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August 22, 2:27 PM
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Educação: 11 estados diminuíram desigualdades pós-pandemia

Educação: 11 estados diminuíram desigualdades pós-pandemia | Inovação Educacional | Scoop.it
De 2019 para 2023, antes e depois da pandemia, somente 11 estados brasileiros conseguiram melhorar o desempenho de estudantes negros e pobres no ensino básico. O levantamento, feito pelo instituto Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), analisou os resultados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) por raça e grupo socioeconômico.

Por outro lado, São Paulo, a maior rede de educação do país, registrou piora no aprendizado de alunos considerados vulneráveis. No período observado, o percentual de estudantes de baixo nível socioeconômico com conhecimento satisfatório em matemática diminuiu quase três pontos, passando de 15,7% para 13,3%.
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August 22, 2:24 PM
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Inteligência Artificial Desplugada na Educação

O IA.Edu/NEES e a Fundação Tellescom realizam mais um debate da série sobre Inteligência Artificial e Educação, desta vez com foco no paradigma da IA Desplugada na Educação (IAED-U).

A nova Nota Técnica apresenta como a IA pode apoiar ensino e aprendizagem mesmo em contextos de infraestrutura limitada — com internet precária, escassez de dispositivos, lacunas na formação docente e desigualdades regionais.

O documento traz princípios, estágios de aplicação e exemplos práticos, como:
- Avaliação automática de redações manuscritas;
- MathAIde para personalização em matemática;
- Resolução de dúvidas offline com LLMs em celulares de baixo custo;
- Plataforma EIDU, combinando alfabetização, numeracia e apoio ao professor.

O lançamento contará com a participação de:
- Américo Mattar (diretor-presidente da Fundação Tellescom)
- Diego Dermeval (conselheiro do NEES)
- Mílada Tonarelli Gonçalves (gerente global de Inovação e Produto na Fundação ProFuturo)

📌 Mediação: Seiji Isotani, cofundador do IA.edu

Assista e conheça como a IA Desplugada pode se consolidar como política pública, garantindo equidade e inclusão em redes de ensino de todo o Brasil.

#IAEdu #NEES #UFAL #IAnaEscola #Educação #Tellescom #InteligênciaArtificial #PolíticaEducacional #NotaTecnica #IADesplugada
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August 22, 1:54 PM
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Lula não compra todos os livros didáticos para escolas

Lula não compra todos os livros didáticos para escolas | Inovação Educacional | Scoop.it

O MEC (Ministério da Educação) não comprou todos os livros didáticos necessários para o ensino básico em 2026, mesmo após afirmar ter garantido a verba necessária para isso.
Como a Folha mostrou, a União precisava adquirir 240 milhões de exemplares até agosto. O problema foi resolvido parcialmente.
Ficou faltando a encomenda de 52 milhões de unidades, ao menos, segundo estimativa do mercado editorial. A situação é pior nos anos finais do ensino fundamental (6º ano 9º), aos quais foram comprados apenas livros de português e matemática, deixando de lado os de história, geografia, ciências e artes.

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August 22, 3:00 PM
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Pesquisa mostra que crianças até 6 anos usam telas de 2 a 3 horas por dia, em média | Jornal Hoje

Pesquisa mostra que crianças até 6 anos usam telas de 2 a 3 horas por dia, em média | Jornal Hoje | Inovação Educacional | Scoop.it
Pediatras recomendam exposição bem menor às telas.O levantamento foi encomendado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal ao Datafolha.
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August 22, 2:56 PM
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O Começo da Vida: A Série | Episódio 01 - O Bebê Fantástico

Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.

O primeiro episódio da série, “O Bebê Fantástico”, explora a importância das interações humanas nos primeiros anos de vida, tornando-se um começo extraordinário para que os bebês alcancem seu verdadeiro potencial.

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August 22, 2:55 PM
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O Começo da Vida: A Série | Episódio 03 - Livre Para Aprender

Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.

O terceiro episódio da série, “Livre para Aprender”, retrata diferentes estágios e aspectos do aprendizado, desde a gestação até o resto da vida, que envolve o brincar, a imaginação, desenvolvimento de linguagem, entre outros.

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August 22, 2:55 PM
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O Começo da Vida: A Série | Episódio 05 - Criando Junto

Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.

O quinto episódio da série, “Criando Junto”, reconhece a importância do amor como parte da economia e da reconstrução da humanidade, explicando como todos são responsáveis pelas crianças que chegam ao mundo, em um movimento de criar bebês junto com a sociedade.

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August 22, 2:37 PM
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Pesquisa revela hábitos de leitura de moradores da periferia de SP

Pesquisa realizada pela Organização Social Poiesis na cena literária das periferias paulistas mostrou que as mulheres jovens lideram o grupo de leitura, sendo 70% do público nas oito unidades das Fábricas de Cultura analisadas entre janeiro de 2024 e junho de 2025.

O percentual é maior do que a média nacional de mulheres leitoras (61%). O levantamento mostra ainda que a média mensal por biblioteca em 2024 foi de 197 empréstimos, com interesse nos mangás, na literatura negra, LGBTQIAPN+ e indígena, além dos clássicos e best-sellers contemporâneos.

O estudo, que analisou hábitos de leitura de frequentadores das bibliotecas das Fábricas de Cultura em Brasilândia, Capão Redondo, Diadema, Iguape, Jaçanã, Jardim São Luís, Osasco e Vila Nova Cachoeirinha, mostra uma diversidade que desafia estereótipos. Nas prateleiras desses territórios da capital, região metropolitana e litoral sul, as sagas japonesas de One Piece e os contos de horror de Junji Ito dividem espaço com o escritor russo Fiodor Dostoiévski e o clássico inglês William Shakespeare.
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August 22, 2:36 PM
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Justiça condena governo de SP por intermediar estágio

Justiça condena governo de SP por intermediar estágio | Inovação Educacional | Scoop.it
A ação foi movida pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) a partir da denúncia de que escolas da rede estadual em Porto Feliz, no interior de São Paulo, intermediaram a contratação de estudantes para empresas de forma irregular, sem registro de menor aprendiz, com jornada de trabalho acima do permitido e previsão de atividades ilegais para pessoas menores de 18 anos.
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August 22, 2:32 PM
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Inclusão escolar: as implicações para políticas educacionais

Inclusão escolar: as implicações para políticas educacionais | Inovação Educacional | Scoop.it
Enquanto alguns profissionais apontam subnotificação em áreas com pouco acesso a saúde especializada, outros alertam para uma possível “indústria de laudos”, com diagnósticos feitos em consultas rápidas ou com critérios pouco rigorosos. O debate, polarizado, desvia de um ponto central: a diversidade de necessidades entre estudantes, diagnosticada ou não, é uma realidade que as políticas precisam endereçar com responsabilidade e preparo.


Especialistas alertam que muitas necessidades dos estudantes poderiam ser atendidas com apoios simples e suporte psicopedagógico. No entanto, a tendência crescente de transformar dificuldades de aprendizagem ou de comportamento em diagnósticos clínicos — processo conhecido como “medicalização” — tem gerado preocupação, pois pode desconsiderar singularidades e invisibilizar esses alunos.


Além disso, professores relatam aumento de quadros comportamentais críticos após a pandemia, ampliando a complexidade do trabalho nas escolas quando não amparada pelo suporte adequado das políticas de saúde e assistência social.


O Ministério da Educação lançou em 2025 um curso nacional de práticas pedagógicas inclusivas, com meta de 1,2 milhão de vagas até 2026. Apesar do avanço, sabe-se que a formação continuada isolada não resolve os desafios do cotidiano escolar.
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August 22, 2:31 PM
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Pé-de-Meia estará todo no Orçamento do ano que vem | Brasil

Será a primeira vez que o programa terá suas despesas passando pelo Orçamento Geral da União, já que o Executivo vinha pagando o incentivo fora das regras fiscais, numa manobra que levou à atuação do Tribunal de Contas da União (TCU).
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August 22, 2:30 PM
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‘Infância não pode esperar um ano’, diz especialista sobre prazo para valer a lei de adultização

Texto para combater exploração sexual infantojuvenil na internet foi aprovado na Câmara, mas ainda deverá demorar para entrar em vigor
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August 22, 2:29 PM
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Svetlana Jitomirskaya: descobrir é a beleza da matemática

Svetlana Jitomirskaya: descobrir é a beleza da matemática | Inovação Educacional | Scoop.it
Ao lado de Artur Avila, a professora universitária cobriu as lacunas do Problema dos Dez Martinis
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August 22, 2:25 PM
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Por que levar ciência de dados para as escolas? ‘Ainda ensinamos Matemática como há cem anos’

Por que levar ciência de dados para as escolas? ‘Ainda ensinamos Matemática como há cem anos’ | Inovação Educacional | Scoop.it

A professora da faculdade de Educação da Universidade de Stanford (EUA) Jo Boaler tem chamado a atenção mundialmente ao defender uma Matemática com menos símbolos e mais conectada com a vida real, com menos respostas certas e mais estimativas. E uma das formas de ensinar essa “Matemática criativa e diversa”, afirma, é incluindo a ciência de dados nos currículos e tendo menos álgebra, trigonometria, cálculo. “Continuamos apenas ensinando a mesma Matemática que ensinávamos cem anos atrás”, afirma a pesquisadora.

A educadora, que causou polêmica ao ajudar a reescrever o novo currículo da Califórnia, usa descobertas da neurociência para também derrubar o mito de que existe um cérebro matemático. “Muitos pais e alunos acreditam nisso, então se eles começam a achar algo difícil em uma aula de Matemática, passam a pensar que não têm o cérebro certo e, aí, as coisas pioram.”

Ela explica que todos podem ser bons em Matemática se “exercitarem o cérebro”, mudarem atitudes com relação à disciplina e entenderem a importância do erro e de se deparar com atividades difíceis. “Um dos melhores momentos para o nosso cérebro é quando estamos cometendo erros. Apenas acertar tudo não é exercitar o cérebro. Se as crianças forem levadas a se sentirem mal por causa dos erros, isso realmente vai afastá-las do aprendizado.”

Para você


Jo está no Brasil esta semana para palestras em eventos do Instituto Sidarta e da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca), além de lançar seu novo livro, Matematicando. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

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Por que você acha que as pessoas acreditam que não são boas em Matemática e que isso nunca mudará?
Por causa de várias coisas, uma delas é o mito generalizado de que existe algo como um cérebro matemático e que apenas algumas pessoas o têm. Muitos pais e alunos acreditam nisso. Se eles começam a achar algo difícil em uma aula de Matemática, pensam que não têm o cérebro certo e, aí, as coisas começam a piorar. Esses mitos combinados com a maneira como a matemática é frequentemente ensinada, com muitos procedimentos para memorizar, mesmo que os alunos sejam bons nisso, é muito pouco inspirador. Eles não têm a oportunidade de usar suas ideias e reflexões, se afastam do assunto. Além disso, temos esses estereótipos sobre quem pode ser bom em matemática e tem muito a ver com ser masculino e ser de certa etnia. Tudo isso se combina neste sistema horrível e muitas pessoas pensam que a Matemática não é para elas.
Mas o que se descobriu nos últimos anos sobre como o cérebro aprende Matemática?
Aprendemos como o cérebro funciona e processa Matemática, mas tudo sempre demora muito para entrar nas escolas. Uma das grandes descobertas importantes da neurociência foi que não existe um cérebro matemático. E que os cérebros de todo mundo estão mudando, construindo e se desenvolvendo o tempo todo. Também descobrimos que há vários caminhos diferentes no cérebro que podemos usar para pensar sobre Matemática, e queremos exercitar todos eles. Já faz muito tempo que apenas pedimos aos alunos para calcular com números, e isso só exercita parte do cérebro. Podemos pedir também que visualizem e desenhem, vejam representações visuais. Isso envolverá os caminhos visuais no cérebro. Assim temos também uma experiência matemática mais multidimensional, construída fisicamente, movendo, desenhando e escrevendo, de várias maneiras diferentes. É importante também que os alunos sejam informados de que seus cérebros estão sempre se adaptando, mudando e crescendo, e que não são fixos. Mas raramente vejo qualquer uma dessas coisas sendo discutidas com os alunos, e acho que os sistemas escolares ainda acreditam na ideia de que apenas alguns podem fazer Matemática. Outra descoberta importante foi que um dos melhores momentos para o nosso cérebro é quando estamos lutando, cometendo erros.

Há um mito generalizado de que existe algo como um cérebro matemático e que apenas algumas pessoas o têm. Muitos pais e alunos acreditam nisso.

Jo Boaler

Pode explicar melhor por que o erro é tão importante?
É quando o cérebro está fervendo na construção de conexões e criando novos caminhos. Os mapeamentos do cérebro humano durante testes mostraram que quando as pessoas cometiam erros, se elas têm um mindset de crescimento, havia muita conectividade e desenvolvimento. Se elas tinham um mindset fixo, não era tão bom. Quando as pessoas acreditam que cometer erros é bom, e cometem erros, isso resulta em muita atividade cerebral. Quando você está aprendendo, é muito importante encontrar coisas difíceis, errar, corrigir, seguir adiante, cometer mais erros. Apenas acertar tudo não é realmente exercitar o cérebro. Se as crianças forem levadas a se sentirem mal por causa dos erros, isso realmente vai afastá-las do aprendizado no futuro. Eles devem ser incentivados a enfrentar dificuldades e se sentirem bem com isso.


Aula de Matemática na Escola Estadual Elisa Rachel, na zona leste de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Como você aconselharia os pais a reagir às notas baixas das crianças na escola?
A mensagem para estudantes que têm notas baixas na escola é que qualquer pessoa pode mudar sua aprendizagem a qualquer momento. Não sentir que isso significa: ‘eu não sou bom em Matemática, já posso desistir’ e, sim, perceber o que é preciso fazer de diferente daqui para frente e encontrar maneiras de ter sucesso. Qualquer um pode realmente mudar sua própria jornada de aprendizagem. Quando se entrevistam alguns dos grandes matemáticos e outras pessoas bem-sucedidas, eles contam que tiraram notas baixas e não se saírem bem em certos momentos de suas vidas. Um dos meus matemáticos favoritos, Steve Strogatz, da Cornell University, conta que quando fez Matemática na universidade, tirava notas mais baixas do que em qualquer outra matéria. Mas ele continuou e não deixou isso desanimá-lo e agora ele é um matemático renomado.

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Você também fala muito sobre a importância de trabalhar duro com o cérebro, de treiná-lo. Como você vê a inteligência artificial nesse contexto, com ela fazendo tudo pelos nossos cérebros?
Quando se trata de Matemática, a IA é realmente boa apenas em cálculos, que é uma pequena parte da Matemática, e realmente já temos computadores e celulares para fazer isso há muitos anos. As outras partes importantes, que é pensá-la de forma flexível e criativa sobre diferentes maneiras de trabalhar, compreendendo os cálculos e pensando sobre como eles se aplicam às situações, nada disso pode realmente ser feito com IA. Então, acho que a IA, se for o caso, empurra os alunos para esse trabalho mais importante, que sempre pedimos na educação. Entender os cálculos, falar sobre eles e por que você escolhe um método em detrimento de outro, realmente aprender a ser flexível no uso dos números. Todas essas coisas são ainda mais importantes agora que temos IA para fazer o cálculo.

No seu novo livro você fala também de uma Matemática mais flexível, que considera estimativas e você chama de math-ish, é isso que falta nas escolas?
O meu argumento é que as salas de aula de Matemática são sempre sobre precisão. E isso é o que assusta muitos jovens, eles sempre têm que estar certos e parece ser muito ruim estar errado. Mas, no mundo real, quando usamos Matemática, na maioria das vezes usamos números estimados. Por exemplo, quanto tempo leva para chegar ao aeroporto, quanto de chuva caiu na noite passada, quanta tinta preciso para pintar a parede. Tenho vídeos de professores que ajudam seus alunos a encontrar números estimados nas suas aulas e ficam surpresos sobre como as crianças estão dispostas a compartilhar seus pensamentos. Mesmo os que eram muito quietos, com medo da Matemática, ficam mais dispostos a dar ideias. Isso abre a Matemática para mais crianças. Existe também uma rica história dos números que é tão interessante, eles vêm de várias partes do mundo, incluindo da Amazônia brasileira. Esses diferentes sistemas numéricos são fascinantes e mostram muitas formas visuais do pensamento numérico. Tudo isso ajuda a desenvolver o interesse na Matemática, a ver que não é invenção de homens ocidentais.

As salas de aula de Matemática são sempre sobre precisão. E isso é o que assusta muitos jovens, eles sempre têm que estar certos e parece ser muito ruim estar errado. Mas no mundo real na maioria das vezes usamos números estimados

Jo Boaler

Você acha que aprendemos muitas coisas nas escolas que são inúteis de Matemática?
Sim, acredito que continuamos apenas ensinando a mesma Matemática que ensinávamos cem anos atrás. Os currículos estabelecidos em diferentes países são exatamente os mesmos do passado. Não nos atualizamos e não estamos incorporando Matemática que é usada no mundo agora. Não estamos trazendo a ciência de dados, por exemplo. Definitivamente, acredito que precisamos modernizar a Matemática que é ensinada. E parte do problema que muitos professores enfrentam é que eles sentem que há muita coisa no currículo. É preciso apressar os professores, apressar os alunos, sem aprofundar em nada. Enxugar e retirar conteúdos que não são mais úteis ajudaria muito e permitiria aos professores aprofundar-se nas ideias mais importantes.

Mas é muito difícil mudar currículos, não? Você enfrentou uma verdadeira guerra ao fazer isso na Califórnia.
Nos EUA, a Matemática é uma matéria fortemente estruturada, em que crianças são colocadas em diferentes tipos de grupos de habilidade desde cedo. Decide-se muito cedo qual caminho o aluno vai trilhar pelas suas notas de Matemática. Participei da equipe que elaborou uma nova estrutura de Matemática para a Califórnia e propusemos não decidir o que os estudantes podem fazer quando têm 7 anos. Vamos dar-lhes mais chances de avançar e mostrar o que podem fazer. Mas esse sistema tem beneficiado os estudantes privilegiados por muito tempo. Eles me escolheram para atacar e, você sabe, alguns grupos quando tentam impedir mudanças, tendem a mirar em uma pessoa, frequentemente um acadêmico. Foi bastante desagradável para mim, tentaram destruir minha reputação. As pessoas têm se oposto a qualquer mudança em Matemática. E, de fato, todos os educadores, toda a comunidade de educação matemática, está de acordo que precisamos dessas mudanças. Mas, de certa forma, vencemos porque a estrutura foi aprovada e essas mudanças estão entrando lentamente nas escolas. Uma das novas coisas que introduzimos no currículo é a ciência de dados.

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Qual a importância das crianças aprenderem ciência de dados?
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Eu me juntei a um economista famoso, Steven Levitt, que escreveu Freakonomics. Ele me procurou há alguns anos porque, ao olhar a lição de casa de Matemática dos seus filhos, percebeu que ainda estavam fazendo a mesma Matemática. E onde estão os dados? Então nos unimos e começamos a falar sobre a importância disso na educação. Essa literacia de dados só fica mais e mais importante para os jovens e para todas as pessoas. Todo mundo precisa ser capaz de entender o sentido das representações de dados, de separar fato de ficção, há muita desinformação por aí. Precisamos que os estudantes tenham literacia de dados para estar seguros. Esse foi um dos impulsos do novo currículo da Califórnia, de ter um curso de ciência de dados no ensino médio. Mas foi alvo do grupo de tradicionalistas que apenas queriam álgebra, trigonometria e cálculo. Foi muito confuso para as escolas, e enquanto isso, outros Estados dos EUA estão abraçando a ciência de dados.

E como você vê os professores nessa mudança? Eles estão interessados em mudar?
Houve uma grande pesquisa feita nos EUA com professores de Matemática de ensino fundamental e médio, que foram perguntados se deveríamos ter apenas cálculo, apenas ciência de dados ou ter ambos para crianças. E 95% dos professores disseram que deveria haver ciência de dados ou ambos. Só 5% disseram apenas cálculo. Há grande apoio por parte dos professores. Eles veem a natureza antiquada da Matemática que ensinam para os alunos no ensino médio. Uma das recomendações é que todos usem dados, em todas as idades, não se trata só de um curso de ensino médio, mas que todos os professores tragam dados e ensinem com eles. Mas há muitos professores que também têm medo de Matemática. Pedir para ensinarem algo mais é um pouco assustador. Mas o que descobrimos é que, quando os professores tentam uma investigação de dados, veem como os alunos estão engajados.

Que tipo de experiências já existem nesse sentido na educação?
Temos alunos do 2º ano que resolveram fazer um banco de dados da suas próprias tartarugas. Outros, do 4º ano, ajudaram, com pesquisa de dados, a biblioteca da escola a descobrir quais livros os alunos mais gostavam para que pudessem ser comprados; eles apresentaram seus resultados, pensaram em como usar o dinheiro. E esses alunos estavam aprendendo todos esses importantes dados, Matemática, mas combinados a outras coisas, comunicação, por exemplo. A ciência de dados se integra muito bem em todas as diferentes matérias, é importante também para notícias, para saber quão precisa é alguma informação. Uma pesquisa feita pelo Freakonomics perguntou a todos que acessam seu site quais tópicos da Matemática estão usando em suas vidas diárias: álgebra, trigonometria, cálculo, mas também visualizações de dados usando planilhas, leitura de tabelas, gráficos. Todos não achavam que usavam nada da Matemática tradicional e, sim, essas habilidades de dados, que precisam em seus trabalhos. Preparar os alunos para aprender sobre dados os ajudará no futuro, nas suas vidas, em seus empregos, qualquer que seja.

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Durante o ensino fundamental e médio, a maioria dos alunos, mesmo aqueles que adoravam Matemática, começam a não gostar mais. Por que isso acontece?
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Bem, não sei exatamente como as escolas de fundamental 2 e ensino médio ensinam Matemática no Brasil, mas nos EUA, quando você vai progredindo nas séries, as aulas são cada vez mais apenas sentar e ouvir o professor mostrar métodos. Quando você é um adolescente em desenvolvimento, você quer usar suas próprias ideias, ser ouvido, ser uma pessoa completa. Então, exigir que esses jovens apenas sentem, ouçam, façam o que é mostrado, sem autonomia e pensamento próprio, faz com que muitas vezes eles não queiram continuar com a Matemática.

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