Aos 77 anos, Lia Maria Aguiar, filha do fundador do Bradesco, Amador Aguiar, prepara seu legado. Sem herdeiros, ela registrou em testamento o desejo de que todo seu patrimônio bilionário fique para a fundação beneficente que criou há seis anos, em Campos do Jordão (SP), e que leva seu nome.
A Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA - lê-se "flima") atende a 400 crianças e adolescentes carentes da comunidade local, entre 6 e 21 anos, com aulas de música, dança e teatro musical. E os planos para o futuro são ainda maiores.
"Nem acredito que fiz tudo isso. Quando cheguei aqui [Campos de Jordão], só pensei que queria fazer algo bom pelas pessoas", contou ao Valor. "Agora, quero garantir que a obra continue e cresça mesmo depois que eu morrer."
O testamento revela também um pouco da cicatriz pela briga familiar, além da vontade de assegurar o futuro de sua própria obra. Mas ela evita polemizar sobre o passado. "Está enterrado", disse.
Lia tem 6,7% da holding dona do Bradesco, a sociedade Cidade de Deus - que comanda 48,6% e 24,3% do capital votante e total do banco. Há ainda pequena participação indireta no banco por meio de outra empresa, a NCF.
As filhas de Amador Aguiar - há mais duas - estão amarradas às respectivas posições, para comporem a holding controladora. As ações na Cidade de Deus são "instransferíveis e inalienáveis", disse.
Proporcionalmente, Lia tem o equivalente a 3,5% das ações ordinárias do Bradesco - 1,8% do capital total. A valor de mercado, trata-se de nada menos do que R$ 2,1 bilhões - R$ 2,6 bilhões pelo preço médio em bolsa deste ano.
Lia tem ainda ações do próprio banco, mas não revela quanto. O sonho de seu pai a colocou na lista de fortunas da Forbes. Em 2015, ocupava a 35ª posição entre os brasileiros, com US$ 1,2 bilhão, segundo o levantamento.
O banco que Amador Aguiar criou, em Marília (SP), não é só o segundo maior, privado, do Brasil, é também a quarta maior empresa em capitalização de mercado da BM&FBovespa, avaliado em R$ 120 bilhões (R$ 145 bilhões na média de 2014) - terceira entre empresas privadas, excluída Petrobras.
Como resultado da doação à fundação, o testamento de Lia vai colocar sob a tutela do Ministério Público (MP) uma participação relevante dentro da Cidade de Deus.
Cabe ao MP zelar pelo patrimônio de fundações - pois atuam pelo bem social e seus recursos são como que públicos. A função do MP é buscar a perpetuidade dos recursos e estabilidade do fluxo, para manter a obra. Também cabe ao órgão fiscalizar o uso do dinheiro.
Nada novo ao Bradesco, ele próprio controlado indiretamente pela Fundação Bradesco, criada por Amador Aguiar em 1956.
Por conta do testamento, Lia contou com exclusividade ao Valor que está estudando o fluxo de dividendos de sua participação indireta no Bradesco e a política de distribuição da holding Cidade de Deus. Mas evitou falar em valores.
"Quer dizer, eu não. Meus advogados estão [estudando a estrutura de remuneração dos sócios]." Explicou que quer garantir o melhor fluxo possível à FLMA.
Mantenedora da casa, fez aportes de R$ 6 milhões nos últimos dois anos. A FLMA vive hoje só das doações de Lia. Desde que iniciou o trabalho social, ela já depositou R$ 28 milhões na empreitada.
Considerando a fatia do banco que indiretamente tem, Lia teria recebido, só em 2014, o equivalente a R$ 85 milhões em dividendos, tomando por base os R$ 5,06 bilhões pagos pela instituição.
O Bradesco tem hoje R$ 1 trilhão em ativos totais e a recente compra do HSBC do Brasil acrescenta R$ 160 bilhões a esse total. O patrimônio salta para R$ 93 bilhões.
Os planos de Lia são grandiosos - não tanto quanto o Bradesco. Mas há projetos de peso para a FLMA. É de família pensar grande.
Ela prepara a construção de um ambulatório para Campos de Jordão. O projeto está aos cuidados de uma consultoria especializada no ramo de saúde. O estudo deve ficar pronto até novembro.
O futuro da fundação conversa com sua origem. O broto da FLMA foi um ambulatório afastado da cidade, montado em 2008 na antiga sede de uma mineradora de calcário, da década de 40, que ela comprou interessada em duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) que estão junto à mina - já esgotada. "Aqui a gente precisa começar pelo básico, que é a saúde", contou, falando das carências da região.
Com 50 mil habitantes, a Suíça brasileira, como é chamada a cidade da Serra da Mantiqueira em que Lia escolheu morar, depende do turismo de inverno. É quando o dinheiro gira a economia local. E quando os moradores de deparam com o choque de classes.
As ações de Lia que passarão à FLMA após sua morte são fruto de doações feitas em vida pelo pai. A posição não tem relação com a longa batalha que travou na Justiça por uma fatia minoritária do banco - perdida e encerrada.
Sobre o formato para essa doação, Lia ainda avalia os meios possíveis. O que mais despertou atenção foi o modelo conhecido como "endowment", comum em países desenvolvidos quando se trata de sucessão patrimonial. A Universidade de Oxford usa o sistema desde o século XIII.
O objetivo da estrutura é administrar recursos e preservar o valor do capital principal no longo prazo. O modelo permite resgates dos rendimentos - integral ou parte.
Daí o desejo de avaliar com lupa a melhor forma de organizar e dispor de seu patrimônio.
Paralelamente, Lia prepara a fundação para receber saldo tão relevante. A FLMA é alvo de um trabalho - conduzido por consultoria especializada nesse tipo de governança - para compor três conselhos: curador, fiscal e consultivo.
O objetivo é profissionalizar a gestão, com foco na alta administração. O operacional já está nas mãos de especialistas.
As aulas de teatro musical e dança são conduzidas por profissionais contratados, vindos da Escola Wolf Maia. Também no balé, as aulas são dadas por professora com carreira internacional.
A qualidade das aulas e dos recursos usados já renderam muitos prêmios, e algumas produções concorreram em igualdade com o "O Rei Leão". Uma das adaptações musicais para o espetáculo "A Princesinha" tornou-se até tema da novela I Love Paraisópolis, da Globo.
No balé, um grupo de 52 jovens da fundação foi selecionado para compor um time de 350 dançarinos e representar o Brasil nas finais da Youth America Grand Prix, em Nova York. Alguns conseguiram bolsa em escolas americanas.
Como Lia não tem filhos, seu patrimônio ficaria para as irmãs Lina e Maria Ângela Aguiar, na ausência de um testamento. Elas são o que a legislação denomina parentes colaterais.
Sobre a fundação, Lia conversa animada - ainda que em frases curtas, pois nunca se alonga em suas colocações. Mesmo entusiasmo se observa quando fala sobre a mudança para Campos de Jordão, em 2006. "Têm sido os melhores anos de minha vida, sem dúvida."
Na estância climática que lhe traz memórias da infância, dos feriados com a mãe, tem rotina tranquila. Gosta de ficar em casa, às voltas com o jardim e com seus cães - a dupla de golden retrivers e duas vira-latas.
Quando decide passear na cidade, Lia tem tratamento de celebridade. Mas o que ela gosta mesmo é receber a atenção das crianças. Suas visitas às aulas sempre movimentam as atividades. As crianças tiram fotos ao lado da fundadora e lhe cobrem de agradecimentos e carinhos. A expressão efusiva das crianças contrasta um pouco com seu jeito fechado, mas o orgulho ao ver os trabalhos é evidente.
É na FLMA que Lia comemora seu aniversário, com direito a parabéns e bolo para os alunos. A festa é grande, com barracas de cachorro-quente, algodão doce e toda sorte de guloseimas do gosto universal da criançada.
Foi uma memória sobre suas festas que despertou o desejo por constituir um projeto para crianças. Lia contou que na infância, sua mãe, Elisa Aguiar, primeira esposa de Amador, fazia duas festas para ela e a irmã gêmea Lina. Uma comemoração ocorria em casa e a outra em um orfanato chamado Lar da Infância, localizado na Avenida Angélica, em São Paulo.
As memórias citadas são escolhidas a dedo por Lia. Há muitos anos vive sozinha e longe dos parentes. Não há convívio nem com as irmãs Lina e Maria Ângela. "Cada um foi viver sua vida", disse, deixando evidente o desconforto quando a conversa avança sobre a história da família. Os desentendimentos começaram com o pai ainda vivo. Em especial, após a mãe falecer e Amador casar novamente.
Apesar das polêmicas, disse ter boas lembranças do pai. "Tenho orgulho. Era muito avançado para seu tempo. A cabeça dele não parava nunca. Sempre tendo ideias."
Distante desse passado, não tem laços de sangue com a família que escolheu como sua por consideração e convivência - a família de Luiz Goshima. Ela o conheceu há cerca de 25 anos, quando movia ação ao lado de Lina contra o banco. Ele trabalhava com perícia em processos judiciais e teve contato com as irmãs filhas de Aguiar por meio do advogado delas na época.
Depois, cada uma das irmãs seguiu seu rumo, mas Lia continuou próxima de Goshima, esposa e filho. Pai e filho - ambos Luiz - dedicam-se a cuidar do patrimônio e a auxiliar Lia. Sempre a acompanham em situações importantes.
O filho é o gerente social da FLMA. Mudou-se para Campos do Jordão para tocar a obra, a despeito dos pais viverem em São Paulo.
Os laços com a família Goshima se estreitaram quando ela foi viver, com auxílio e suporte do amigo, em São Bernardo do Campo, na região paulista do Grande ABC - por conta das dificuldades enfrentadas com o congelamento temporário de seu patrimônio, após a morte do pai. O falecimento de Amador Aguiar gerou uma corrida pela herança, com ações judiciais de toda parte. O fato dele ter dado rumo à quase todo patrimônio em vida não evitou as desavenças.
Ele doou suas ações à Fundação Bradesco, que surgiu do desejo de melhorar a educação dos jovens - hoje é uma das maiores da América Latina. Além disso, facilitava o sonho de perpetuar o banco. Questionada sobre por que não deixar o patrimônio à Fundação Bradesco, Lia disse: "Eles não precisam disso. Já são grandes. Quero fazer o meu trabalho, do meu jeito."
Veja abaixo imagens de Lia Aguiar e de sua fundação.
O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa? Luciano Sathler É PhD em administração pela USP e membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais As diferentes aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa são capazes de criar novos conteúdos em texto, imagens, áudios, vídeos e códigos para software. Por se tratar de um tipo de tecnologia de uso geral, a IA tende a ser utilizada para remodelar vários setores da economia, com impactos políticos e sociais, assim como aconteceu com a adoção da máquina a vapor, da eletricidade e da informática. Pesquisas recentes demonstram que a IA generativa aumenta a qualidade e a eficiência da produção de atividades típicas dos trabalhadores de colarinho branco, aqueles que exercem funções administrativas e gerenciais nos escritórios. Também traz maior produtividade nas relações de suporte ao cliente, acelera tarefas de programação e aprimora mensagens de persuasão para o marketing. O revólver patenteado pelo americano Samuel Colt, em 1835, ficou conhecido como o "grande equalizador". A facilidade do seu manuseio e a possibilidade de atirar várias vezes sem precisar recarregar a cada disparo foram inovações tecnológicas que ampliaram a possibilidade individual de ter um grande potencial destrutivo em mãos, mesmo para os que tinham menor força física e costumavam levar desvantagem nos conflitos anteriores. À época, ficou famosa a frase: Abraham Lincoln tornou todos os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais. Não fazemos aqui uma apologia às armas. A alegoria que usamos é apenas para ressaltar a necessidade de investir na formação de pessoas que sejam capazes de usar a IA generativa de forma crítica, criativa e que gerem resultados humanamente enriquecidos. Para não se tornarem vítimas das mudanças que sobrevirão no mundo do trabalho. A IA generativa é um meio viável para equalizar talentos humanos, pois pessoas com menor repertório cultural, científico ou profissional serão capazes de apresentar resultados melhores se souberem fazer bom uso de uma biblioteca de prompts. Novidade e originalidade tornam-se fenômenos raros e mais bem remunerados. A disseminação da IA generativa tende a diminuir a diversidade, reduz a heterogeneidade das respostas e, consequentemente, ameaça a criatividade. Maior padronização tem a ver com a automação do processo. Um resultado que seja interessante, engraçado ou que chama atenção pela qualidade acima da média vai passar a ser algo presente somente a partir daqueles que tiverem capacidade de ir além do que as máquinas são capazes de entregar. No caso dos estudantes, a avaliação da aprendizagem precisa ser rápida e seriamente revista. A utilização da IA generativa extrapola os conceitos usualmente associados ao plágio, pois os produtos são inéditos – ainda que venham de uma bricolagem semântica gerada por algoritmos. Os relatos dos professores é que os resultados melhoram, mas não há convicção de que a aprendizagem realmente aconteceu, com uma tendência à uniformização do que é apresentado pelos discentes. Toda Instituição Educacional terá as suas próprias IAs generativas. Assim como todos os professores e estudantes. Estarão disponíveis nos telefones celulares, computadores e até mesmo nos aparelhos de TV. É um novo conjunto de ferramentas de produtividade. Portanto, o desafio da diferenciação passa a ser ainda mais fundamental diante desse novo "grande equalizador". Se há mantenedores ou investidores sonhando com a completa substituição dos professores por alguma IA já encontramos pesquisas que demonstram que o uso intensivo da Inteligência Artificial leva muitos estudantes a reduzirem suas interações sociais formais ao usar essas ferramentas. As evidências apontam que, embora os chatbots de IA projetados para fornecimento de informações possam estar associados ao desempenho do aluno, quando o suporte social, bem-estar psicológico, solidão e senso de pertencimento são considerados, isso tem um efeito negativo, com impactos piores no sucesso, bem-estar e retenção do estudante. Para não cair na vala comum e correr o risco de ser ameaçado por quem faz uso intensivo da IA será necessário se diferenciar a partir das experiências dentro e fora da sala de aula – online ou presencial; humanizar as relações de ensino-aprendizagem; implementar metodologias que privilegiem o protagonismo dos estudantes e fortaleçam o papel do docente no processo; usar a microcertificação para registrar e ressaltar competências desenvolvidas de forma diferenciada, tanto nas hard quanto soft skills; e, principalmente, estabelecer um vínculo de confiança e suporte ao discente que o acompanhe pela vida afora – ninguém mais pode se dar ao luxo de ter ex-alunos. Atenção: esse artigo foi exclusivamente escrito por um ser humano. O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciano Sathler foi "O Ateneu" de Milton Nascimento.
Nos anos 1970, a União Soviética utilizou dispositivos nucleares para tentar desviar água dos rios siberianos para o sul, em vez de sua rota natural para o norte. O projeto foi um fracasso retumbante, mas 50 anos depois, a ideia continua vigente
O Google anunciou nesta quarta-feira, em evento que celebrou os 20 anos da companhia no Brasil, que nas próximas semanas os brasileiros poderão experimentar o "Modo IA". O novo recurso, que já começou a ser lançado em outras regiões, como os Estados Unidos, Índia e Reino Unido, é uma interface de busca baseada em chatbot que agora estará amplamente disponível aos usuários.
O recurso vai usar inteligência artificial (IA) para fornecer respostas nas buscas mais contextualizadas às condições culturais e regionais de cada usuário.
A big tech anunciou também que vai expandir a sua operação no Brasil, com a instalação do segundo centro de engenharia no país, na cidade de São Paulo, e a ampliação do escritório de engenharia em Belo Horizonte. A capital mineira foi o primeiro escritório do Google no Brasil, quando a empresa se instalou no país, em 2005.
Parágrafos bem encadeados, ortografia impecável — e um travessão aqui ou ali. Com boa parte dos profissionais recorrendo a ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa, como o ChatGPT, o Gemini ou o DeepSeek, para ganhar tempo e ser mais produtivo, alguns marcadores que indicam que um texto pode ter sido escrito por um robô começaram a entrar no radar de quem busca talentos.
Enquanto o tema da violência contra a mulher é amplamente debatido e tem políticas públicas específicas, a realidade da violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil é um assunto invisibilizado. Contrariando a percepção comum, crianças e adolescentes são a maioria das vítimas de estupro no Brasil. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, 57,3% de todos os estupros praticados no Brasil foram contra meninas de menos de 13 anos de idade; hoje, são 64,1%. Ao mesmo tempo, pesquisa do DataFolha de 2022 revelou que em apenas 11% dos casos de vítimas com menos de 8 anos houve denúncia, e somente 26% contaram o ocorrido a alguém.
Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.
O primeiro episódio da série, “O Bebê Fantástico”, explora a importância das interações humanas nos primeiros anos de vida, tornando-se um começo extraordinário para que os bebês alcancem seu verdadeiro potencial.
Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.
O terceiro episódio da série, “Livre para Aprender”, retrata diferentes estágios e aspectos do aprendizado, desde a gestação até o resto da vida, que envolve o brincar, a imaginação, desenvolvimento de linguagem, entre outros.
Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.
O quinto episódio da série, “Criando Junto”, reconhece a importância do amor como parte da economia e da reconstrução da humanidade, explicando como todos são responsáveis pelas crianças que chegam ao mundo, em um movimento de criar bebês junto com a sociedade.
Pesquisa realizada pela Organização Social Poiesis na cena literária das periferias paulistas mostrou que as mulheres jovens lideram o grupo de leitura, sendo 70% do público nas oito unidades das Fábricas de Cultura analisadas entre janeiro de 2024 e junho de 2025.
O percentual é maior do que a média nacional de mulheres leitoras (61%). O levantamento mostra ainda que a média mensal por biblioteca em 2024 foi de 197 empréstimos, com interesse nos mangás, na literatura negra, LGBTQIAPN+ e indígena, além dos clássicos e best-sellers contemporâneos.
O estudo, que analisou hábitos de leitura de frequentadores das bibliotecas das Fábricas de Cultura em Brasilândia, Capão Redondo, Diadema, Iguape, Jaçanã, Jardim São Luís, Osasco e Vila Nova Cachoeirinha, mostra uma diversidade que desafia estereótipos. Nas prateleiras desses territórios da capital, região metropolitana e litoral sul, as sagas japonesas de One Piece e os contos de horror de Junji Ito dividem espaço com o escritor russo Fiodor Dostoiévski e o clássico inglês William Shakespeare.
A ação foi movida pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) a partir da denúncia de que escolas da rede estadual em Porto Feliz, no interior de São Paulo, intermediaram a contratação de estudantes para empresas de forma irregular, sem registro de menor aprendiz, com jornada de trabalho acima do permitido e previsão de atividades ilegais para pessoas menores de 18 anos.
Somente protegendo a privacidade podemos manter a salvo a democracia, afirma Carissa Véliz, especialista da Universidade de Oxford. Um de seus conselhos para os jovens? Lembrar que 'a vida não é digital — mas, sim, analógica'.
Como você procura informação na internet? Durante duas décadas, a resposta parecia óbvia: digitar na barra de pesquisa e navegar pela lista de links oferecida. Mas, desde que a inteligência artificial (IA) generativa se popularizou, perguntar e receber um texto como resposta se tornou tão ou mais comum quanto examinar sites sugeridos pelo Google. Há um ano ativo no Brasil, o resumo de IA do Google que aparece no topo dos resultados de uma busca, antes dos links, impulsionou o debate sobre como será o futuro da internet, principalmente como essa nova tecnologia vai afetar a lógica de buscas, links e cliques, base da economia on-line que se desenvolveu nas últimas décadas. Pesquisas apontam que o chamado AI Overviews está mudando o comportamento dos internautas. Muitos se satisfazem com a “visão geral” do tema pesquisado gerada pela IA do Google em vez de clicar em um dos links abaixo. Para especialistas, trata-se de um novo paradigma: a navegação está deixando de ser guiada por cliques e passando a ser moldada por conversas. Algo parecido acontece com o crescente contingente de usuários de robôs virtuais (chatbots) de IA, como ChatGPT e DeepSeek, uma ameaça à qual o Google parece responder. Muitos usuários trocaram o buscador pela IA na procura de informações e não vão além dos resumos gerados pelos sistemas inteligentes no formato de conversa, ainda que os links das fontes estejam disponíveis. Não à toa, as empresas por trás desses chatbots têm investido em navegadores próprios com IA embutida, que concentram a jornada do usuário dentro de um só sistema. A Perplexity foi a primeira a lançar o seu e fez uma proposta bilionária para comprar o Chrome, do Google. A OpenAI, do ChatGPT, também prepara um. No caso do Google, especialistas avaliam que o AI Overviews desvia o caminho do usuário até o link com respostas baseadas nas informações de sites que têm a visita desestimulada. O Google nega, e alega que o volume de cliques orgânicos continua o mesmo. A big tech americana lançou o recurso no Brasil em agosto do ano passado, prometendo que facilitaria a vida do usuário e aumentaria os cliques nos links citados. Um ano depois, criadores de conteúdo, veículos jornalísticos, consultorias especializadas e o mercado publicitário relatam o contrário. Menos visitas Uma análise global da plataforma Similarweb, feita a pedido da revista britânica The Economist, estima que o tráfego de buscas no mundo caiu 15% entre junho deste ano e o mesmo mês de 2024. Já a proporção de buscas relacionadas a notícias que não resultam em cliques nas fontes originais subiu de 56% para 69%. A pedido do GLOBO, a Similarweb fez uma análise focada no Brasil. Houve queda de 8,2% nos acessos via busca orgânica a páginas jornalísticas brasileiras no 1º trimestre deste ano contra o mesmo período de 2024, antes do AI Overviews. A análise, baseada em 100 domínios, indica queda de 591,1 milhões para 542,5 milhões de cliques no período. Em junho de 2025, o tráfego orgânico foi o menor em quatro anos, com retração de 18,6% em relação a janeiro, segundo Similarweb, que combina diferentes fontes, incluindo extração de dados da internet e mensuração direta. O Google também criou recentemente o AI Mode (ou Modo IA), uma interface do buscador similar ao ChatGPT. A busca em formato de conversa dá respostas prontas, dispensando clicar e ler as fontes. Por enquanto, só está ativo nos EUA, mas o Google disse na semana passada que chegará ao Brasil nas próximas semanas. A principal mudança na interação por conversas é a perda da curadoria humana no processo, avalia João Victor Archegas, coordenador do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio). O usuário passa de uma posição ativa para passiva. Num buscador tradicional, ainda que se tenha o filtro do algoritmo responsável por ranquear links, o internauta decide em quais clicar, faz sua avaliação do que é adequado ao que procura. — Já nos chatbots, você recebe a informação do modelo de IA e aceita a organização dela como a melhor resposta para a pergunta que fez — diz Archegas. — É como se o usuário ficasse mais no banco do passageiro desse processo de busca. Tempo encurtado A reflexão e o tempo até encontrar a informação são encurtadas, diz Marcos Barreto, professor da Escola Politécnica da USP e da Fundação Vanzolini. No buscador, é preciso “ler e pensar um pouco mais”, observa. Por outro lado, ele considera que os modelos de IA podem ser úteis em algumas situações, inclusive facilitar estudos, tirar dúvidas simples. Em outros, é um risco: — Se a sua pergunta for objetiva, a resposta (do chatbot) tende a ser ótima — diz ele, ao exemplificar que pesquisou como fazer um ajuste no celular e recebeu o passo a passo em segundos, com retorno mais objetivo do que se recebesse links. — O risco é aceitarmos uma resposta errada. Confiar cegamente nas respostas dos modelos de IA pode ser perigoso. Barreto, que há anos pesquisa robôs sociáveis, cita o episódio recente de uma influenciadora digital espanhola impedida de embarcar para Porto Rico por ter sido informada incorretamente pelo ChatGPT que não precisava de visto. O especialista lembra que, há pouco tempo, o aplicativo chinês de IA DeepSeek se negava a reconhecer o massacre na Praça da Paz Celestial: — Caímos num problema em que fica mais fácil reescrever a História. Antes, com os links sugeridos pelos buscadores, você era obrigado a ler e tirar sua própria conclusão. Hoje, aceita-se como verdade o primeiro resultado. Mas talvez não seja tão verdadeiro assim. Cora Rónai, jornalista especializada em tecnologia e colunista do GLOBO, conta que vem pesquisando mais nos chatbots, mas checa as fontes: — Já me vejo usando mais IA que o buscador, mas confiro os links de onde ele retirou a informação, até para aprender. Quanto mais sério o assunto, mais importante é desconfiar. Grok, o chatbot de inteligência artificial de Elon Musk criado para concorrer com o ChatGPT, da Open AI — Foto: Bloomberg Para Barreto, há também uma mudança na forma como interagimos com o computador. Ele vê a tecnologia caminhar para interfaces conversacionais e proativas, que, no futuro, poderão substituir comandos tradicionais como “menu”, “arquivo”, “salvar”: — Vamos construir outras interfaces em que fazemos tudo sem usar um aplicativo, com camadas de compreensão de sentimento e até de tom de voz. É um novo paradigma, que vai além do botão. Cora concorda que a tendência da voz é forte, mas nota diferenças geracionais: — Meus netos já interagem com o computador por voz. Eu não estou acostumada. Mas cada vez mais vamos usar a fala, até porque estamos saindo do computador para o celular. Faz sentido que a navegação acompanhe esse movimento. Essas mudanças, no entanto, estão desacompanhadas de ferramentas que protejam a propriedade intelectual e a audiência dos produtores de conteúdo. Há um quarto de século o Google é o principal organizador da informação on-line, virou até verbo. Com ele, a internet consolidou uma engrenagem movida a cliques, que conecta pesquisas de usuários com resultados de sites e um modelo de monetização por meio da publicidade que depende das métricas de audiência e do acesso direto a seus sites para ter assinaturas. Google nega impacto Reportagem do GLOBO já mostrou que, além do Google, plataformas de IA como ChatGPT, Perplexity e Grok, entre outros, dão respostas prontas com base nos conteúdos dos sites cujos links perdem cliques. Chegam a furar as barreiras de paywall de veículos de imprensa para entregar informações restritas a assinantes. Alteram o consumo de informação, que passa a ser mediado pela IA, sem que as empresas por trás estabeleçam algum tipo de compensação pelo uso de um conteúdo que não produziram. — A natureza do mecanismo de respostas por IA é, ao responder, eliminar a necessidade de gerar tráfego para outros lugares. O usuário tende a não procurar mais — diz Márcio Borges, pesquisador Associado do NetLab UFRJ, para quem o risco é desestruturar o modelo de negócio da produção de informação. O Google questiona as avaliações de queda no tráfego de buscas com a IA, que considera serem “frequentemente baseadas em informações especulativas ou incompletas”. Também afirma que, mais do que qualquer outra empresa, “prioriza o tráfego”. “Essas novas experiências de IA na busca permitem que as pessoas façam ainda mais perguntas, o que cria novas oportunidades para que empresas e conteúdo sejam descobertos”, acrescenta, em nota ao GLOBO. Veículos jornalísticos têm recorrido à Justiça e à negociação com big techs para a remuneração pelo uso de seus conteúdos. O New York Times, por exemplo, fez parceria com a Amazon e acionou judicialmente a OpenAI pelo uso de seu conteúdo para treinar sistemas do ChatGPT sem licença e pagamento. No Brasil, a Folha de S. Paulo também entrou na Justiça contra a OpenAI pelo mesmo motivo. O GLOBO já identificou que reportagens suas são usadas por robôs de IA para treinamento sem autorização. Na Europa, editores independentes apresentaram queixa antitruste contra o Google, alegando dano irreparável pelo AI Overviews. A big tech afirmou que as diferenças no tráfego podem acontecer por variações sazonais, interesses dos usuários e atualizações dos algoritmos de busca, não em razão da IA. Bloqueadores de robôs Outra saída está nos bloqueadores para impedir que robôs usem conteúdo protegido. Em julho, a empresa Cloudflare lançou um sistema que cria uma barreira para rastreadores de IA na internet e os impede de “acessar conteúdo sem permissão ou compensação”. Há uma função chamada “Pay Per Crawl”, que permite aos editores definir preços para que robôs acessem seus conteúdos. Mas o impacto na audiência ainda é incerto, já que o Google segue a principal origem de tráfego para os sites. — Os veículos alimentam esses modelos de IA, que precisam de conhecimento jornalístico de qualidade, verificável e crível, mas não recebem por isso. E o objetivo central ali (dos resumos) é antagônico à geração de fluxo para veículos — diz Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), para quem a saída passa por negociar remuneração, limitar uso indevido e formatos que priorizem relacionamento direto com o leitor. Sites de todos os tipos perdem cliques. Agências que se especializaram na otimização de páginas para motores de busca tradicionais (o chamado SEO) têm buscado novas estratégias, como a chamada AEO, voltada para os mecanismos de IA. Na publicidade digital, consultores dizem que o resumo de IA no Google afeta especialmente a chamada CTR (taxa de cliques), que mede quantas pessoas acessaram um conteúdo após expostas a ele. Análise da agência Ahrefs, com 300 mil buscas em abril, concluiu que o resumo da IA no topo dos resultados está associado a uma queda média de 34,5% nos cliques no primeiro link exibido depois dela. Gustavo Franco, diretor de Crescimento da agência Graphite, diz que, em um dos projetos de marca que monitora, 25% das impressões de busca vêm do resumo de IA, mas o CTR é quatro vezes menor: — Isso significa menos controle sobre a jornada do consumidor e maior dificuldade para converter interesse em ação. É como se tivesse alguém na frente de uma loja contando para quem está fora tudo o que tem lá dentro. A pessoa não precisa entrar.
Projetos vêm fracassando não apenas por obstáculos técnicos, mas também por “fatores humanos”, como resistência de funcionários e clientes ou falta de habilidades
Visitei uma universidade e percebi que poderia testar mais coisas fazendo uma graduação nos EUA do que no Brasil. Lá também conheci o EducationUSA, uma iniciativa do Departamento de Estado norte-americano para orientação acadêmica, que me deu apoio técnico e financeiro para conseguir a bolsa. Eles pagaram a prova de proficiência para mim, alguns documentos que precisam, mas o mais importante mesmo foi o suporte de pessoas que conheciam o processo.
Filmes de ficção científica costumam mostrar um levante das máquinas contra os seres humanos, mas, para o escritor e documentarista Douglas Rushkoff, é pouco provável que esse roteiro se torne realidade. O enredo futurista que o assusta é outro: os danos que pessoas podem causar para a espécie ao usar a inteligência artificial (IA) generativa.
O teórico diz que a humanidade pode ser colocada em xeque pela facilidade de criar e espalhar doenças, a partir do desenvolvimento da engenharia genética. “Acho que os próximos grandes acontecimentos vão envolver IA e biologia humana, pois o corpo saudável não é o mais lucrativo para as indústrias”, diz, acrescentando que a tecnologia também pode criar negócios que proporcionem mutações corpóreas. Rushkoff falou ao Valor antes de participar do evento KES Summit, em palestra em parceria com a Cadastra, empresa de serviços de marketing.
Segundo Rushkoff, os humanos são vistos como cobaias por empresários à frente das “big techs” e bilionários, que se sentem superiores aos demais da sua própria espécie. “A crença subjacente é de que as pessoas estão no estágio larval e que eles são contrapartes transumanas, logo, valem mais do que nós. Isso ajuda a justificar muita dor, sofrimento e exploração”, afirma. Essa interpretação também explica a relação intrincada das máquinas e a psicologia. “Agora, não é apenas a tecnologia que tem um ciclo de feedback com o ambiente, como na definição de cibernética do [matemático] Norbert Wiener, mas os seres humanos estão nesse processo de feedback com a tecnologia. Tudo é realmente projetado para aumentar o lucro das empresas, mas não sabemos como os corpos e as mentes vão responder a isso.”
O que se pode fazer para combater esse caminho é diminuir o tempo de telas e aumentar o convívio entre pessoas presencialmente. “Podemos fazer um progresso lento e gradual em direção a uma sociedade sustentável fazendo pequenas coisas, como pegar uma ferramenta ou um cortador de grama emprestados dos vizinhos, em vez de comprá-los. É pequeno, mas tem um efeito cascata e muda o tecido social, pois significa que você não precisa de tanto tempo nas redes sociais porque você tem eventos sociais presenciais”, explica.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Como o sr. vê o Brasil?
Douglas Rushkoff: O Brasil tem um pouco da curiosidade e da ingenuidade dos Estados Unidos, mas há uma consciência incorporada. Há um, e não quero parecer nacionalista nem nada, desejo de alegria, de vivenciar isso. Não vejo isso com frequência em outros lugares. É quase como uma qualidade indígena. Você sabe que eu conversei com os maoris na Nova Zelândia e eles tinham isso de se divertir, essa coisa humana. Mas, ao mesmo tempo, estamos enfrentando aqui, como em todos os outros lugares, uma força que nos leva às mídias sociais e ao distanciamento... não sei se estamos, de fato, alegres ou felizes. De fato, não é um momento feliz. Mas sinto que, mesmo que você não esteja feliz, você está partindo de uma experiência somática fundamentada. A humanidade está vivendo sobre uma membrana muito fina sobre um oceano de lágrimas. Eu acho que os americanos se desconectaram mais. Nos Estados Unidos, nós compramos “reality shows” como realidade, pois as pessoas sucumbiram à performance dos dispositivos. As amigas da minha filha vivem de uma forma performática, fazendo escolhas para agradar à audiência nas telas, pois isso aumenta a visualização, mas isso as desconecta muito da realidade.
Valor: Como mudar isso?
Rushkoff: As pessoas precisam se voltar ao corpo. Com a Era Industrial, veio o movimento Romântico, com [escritores como] Byron, Shelley e Keats. Agora, com o ciberespaço, tem que vir a integridade somática. Sinto que é necessário um retorno ao reconhecimento da permacultura e das técnicas agrícolas indígenas. Eu sinto que há possibilidades. E até mesmo me parece que as pessoas estão cientes de como estão sendo programadas pela tecnologia e estão buscando maneiras de se reprogramar, e isso remonta diretamente ao ocultismo. O que é a vontade humana e como direciono minha vontade para os resultados que quero ver no mundo? Então, há maneiras. É muito estranho que a era da IA seja, assim, como um oráculo.
Valor: Há medo de que a IA implique a perda de emprego.
Rushkoff: O medo que as pessoas têm da IA é um reconhecimento de que as instituições com as quais temos vivido não nos servem mais. Se a IA ameaça a educação, é porque já entregamos as escolas à formação profissional. Se uma IA ameaça o emprego, é porque aceitamos um mundo em que as pessoas precisam ter empregos para compartilhar a riqueza da sociedade. Eu sei que é muito difícil para as pessoas entenderem que os empregos foram inventados, que até o século XII, as pessoas não tinham empregos. Elas fabricavam coisas, os empregos eram um artefato, uma forma de forçar as pessoas a trabalhar para alguém em vez de apenas trabalhar. Então, você consegue um emprego em uma fazenda em vez de ter uma fazenda. Você tem um emprego em uma fábrica de calçados em vez de ser um sapateiro. Então, quem se importa com o fato de a IA ameaçar os empregos? Apenas as pessoas que acreditam que os empregos são a única maneira de merecer uma parte dos despojos do capitalismo.
Valor: Qual é o papel das “big techs” nesse cenário?
Rushkoff: O neoliberalismo democrático tem seus problemas. Desde a Segunda Guerra Mundial, temos feito colonização e dominação por meios financeiros em vez de militares, e muitas pessoas sofreram e morreram por isso, principalmente na África. Então, eu entendo que não se trata de uma era de ouro, feliz. Entretanto, substituir isso por autocracia ou autoritarismo ou, como os empresários estão pedindo, como monarquia, é complicado. É mais uma questão de quem se torna o rei. É [Elon] Musk [CEO da Tesla], [Peter] Thiel [Palantir], J.D. Vance [vice-presidente dos EUA]? A crença deles é de que se um dia houver dezenas de trilhões de formas de vida pós-humanas por aí no universo, então, terá valido sacrificar a felicidade dos 8 bilhões de humanos que eles entendem como vermes larvais. Eles têm dinheiro, poder e todos os meios para nos influenciar. E como dizer “não” a isso? Se tivermos uma sociedade que realmente nos apoia, estaremos em uma situação diferente. [Donald] Trump [presidente dos EUA] pode controlar o dinheiro e as regras da previdência social e [do sistema de saúde a pessoas de baixa renda] Medicaid, mas podemos criar uma sociedade que cuida dos idosos. E eu não sei qual civilização até esta exigia que as pessoas ganhassem dinheiro suficiente durante toda a vida para que pudessem ser autossuficientes e cuidar de si mesmas na velhice. Eu sei que parece loucamente idealista, uma fantasia, mas é possível ter uma sociedade onde os idosos se mantenham envolvidos como parte de nossas famílias e comunidades. Vi isso em Roma nos anos 1980. Lembro-me de andar por lá no verão à noite e ver quatro gerações de pessoas sentadas do lado de fora de seus apartamentos, juntas. O problema é que, quando falo sobre isso, os empresários acham que isso é um problema, é comunismo. Ou, quando eu digo, e se em vez de comprar uma furadeira nova, você pegasse uma emprestada do seu vizinho, alguém sempre se levanta e pergunta: “Mas como fica a fabricante? Os números deles vão cair”. Mas isso implica que os seres humanos estão aqui para servir a um modelo econômico? Que tal olhar novamente? Essa é a teoria básica da mídia. Quando e para quê o modelo econômico foi desenvolvido? Podemos escrever um novo? Não de uma vez, mas escrever lentamente um novo que acomode melhor a todos. E se tivéssemos realmente que substituir nossos empregos ou trabalhar três dias por semana, em vez de apenas nos empurrar para um nível mais baixo?
Valor: Qual a importância ou o papel da mídia, na sua opinião?
Rushkoff: Entramos nesse reino onde há tanta simulação que as pessoas não sabem o que é verdade e o que não é. A única coisa que as pessoas têm para julgar se algo é verdadeiro ou não é a confiabilidade da fonte. Então, voltou a ser como era com os jornais impressos. Qualquer pessoa que tivesse uma impressora podia imprimir o que quisesse. Mas a maneira de saber se uma história é verdadeira ou não é de onde ela veio? É da Associated Press? Do “New York Times”? Acho que, quando as coisas ficarem desconfortáveis o suficiente, algumas pessoas vão se importar novamente com o que realmente está acontecendo. Mas eu também sugiro: nem todos precisam entender os problemas globais. Isso é controverso, mas sinto que se relegássemos 1% da nossa população para realmente entender as coisas, as outras podem simplesmente fazer coisas boas.
Os primeiros anos estruturam a vida de uma pessoa. “O Começo da Vida – A Série” dá continuidade ao movimento do filme, retomando a questão da Primeira Infância em 6 episódios com materiais inéditos, retratando novas descobertas e histórias comoventes. Dentre os temas abordados estão o processo de se tornar pai/mãe, crianças que tiveram suas infâncias negadas e a importância de que toda a sociedade se envolva na criação de uma criança.
O segundo episódio da série, “Tornar-se pai, tornar-se mãe”, aborda as alegrias e os desafios da parentalidade, em um episódio bem-humorado e sensível.
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