Pesquisa com mais de 700 pessoas mostra que cerca de três em cada dez profissionais brasileiros foram diagnosticados com algum transtorno nos últimos doze meses
O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa? Luciano Sathler É PhD em administração pela USP e membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais As diferentes aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa são capazes de criar novos conteúdos em texto, imagens, áudios, vídeos e códigos para software. Por se tratar de um tipo de tecnologia de uso geral, a IA tende a ser utilizada para remodelar vários setores da economia, com impactos políticos e sociais, assim como aconteceu com a adoção da máquina a vapor, da eletricidade e da informática. Pesquisas recentes demonstram que a IA generativa aumenta a qualidade e a eficiência da produção de atividades típicas dos trabalhadores de colarinho branco, aqueles que exercem funções administrativas e gerenciais nos escritórios. Também traz maior produtividade nas relações de suporte ao cliente, acelera tarefas de programação e aprimora mensagens de persuasão para o marketing. O revólver patenteado pelo americano Samuel Colt, em 1835, ficou conhecido como o "grande equalizador". A facilidade do seu manuseio e a possibilidade de atirar várias vezes sem precisar recarregar a cada disparo foram inovações tecnológicas que ampliaram a possibilidade individual de ter um grande potencial destrutivo em mãos, mesmo para os que tinham menor força física e costumavam levar desvantagem nos conflitos anteriores. À época, ficou famosa a frase: Abraham Lincoln tornou todos os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais. Não fazemos aqui uma apologia às armas. A alegoria que usamos é apenas para ressaltar a necessidade de investir na formação de pessoas que sejam capazes de usar a IA generativa de forma crítica, criativa e que gerem resultados humanamente enriquecidos. Para não se tornarem vítimas das mudanças que sobrevirão no mundo do trabalho. A IA generativa é um meio viável para equalizar talentos humanos, pois pessoas com menor repertório cultural, científico ou profissional serão capazes de apresentar resultados melhores se souberem fazer bom uso de uma biblioteca de prompts. Novidade e originalidade tornam-se fenômenos raros e mais bem remunerados. A disseminação da IA generativa tende a diminuir a diversidade, reduz a heterogeneidade das respostas e, consequentemente, ameaça a criatividade. Maior padronização tem a ver com a automação do processo. Um resultado que seja interessante, engraçado ou que chama atenção pela qualidade acima da média vai passar a ser algo presente somente a partir daqueles que tiverem capacidade de ir além do que as máquinas são capazes de entregar. No caso dos estudantes, a avaliação da aprendizagem precisa ser rápida e seriamente revista. A utilização da IA generativa extrapola os conceitos usualmente associados ao plágio, pois os produtos são inéditos – ainda que venham de uma bricolagem semântica gerada por algoritmos. Os relatos dos professores é que os resultados melhoram, mas não há convicção de que a aprendizagem realmente aconteceu, com uma tendência à uniformização do que é apresentado pelos discentes. Toda Instituição Educacional terá as suas próprias IAs generativas. Assim como todos os professores e estudantes. Estarão disponíveis nos telefones celulares, computadores e até mesmo nos aparelhos de TV. É um novo conjunto de ferramentas de produtividade. Portanto, o desafio da diferenciação passa a ser ainda mais fundamental diante desse novo "grande equalizador". Se há mantenedores ou investidores sonhando com a completa substituição dos professores por alguma IA já encontramos pesquisas que demonstram que o uso intensivo da Inteligência Artificial leva muitos estudantes a reduzirem suas interações sociais formais ao usar essas ferramentas. As evidências apontam que, embora os chatbots de IA projetados para fornecimento de informações possam estar associados ao desempenho do aluno, quando o suporte social, bem-estar psicológico, solidão e senso de pertencimento são considerados, isso tem um efeito negativo, com impactos piores no sucesso, bem-estar e retenção do estudante. Para não cair na vala comum e correr o risco de ser ameaçado por quem faz uso intensivo da IA será necessário se diferenciar a partir das experiências dentro e fora da sala de aula – online ou presencial; humanizar as relações de ensino-aprendizagem; implementar metodologias que privilegiem o protagonismo dos estudantes e fortaleçam o papel do docente no processo; usar a microcertificação para registrar e ressaltar competências desenvolvidas de forma diferenciada, tanto nas hard quanto soft skills; e, principalmente, estabelecer um vínculo de confiança e suporte ao discente que o acompanhe pela vida afora – ninguém mais pode se dar ao luxo de ter ex-alunos. Atenção: esse artigo foi exclusivamente escrito por um ser humano. O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciano Sathler foi "O Ateneu" de Milton Nascimento.
El ILIA es un índice que entrega datos cuantitativos sobre el estado de avance de la Inteligencia Artificial en 19 países de América Latina y el Caribe, identificando logros, brechas y oportunidades para impulsar un ecosistema de IA ético y sostenible.
Pois é exatamente isso o que começa a acontecer. Esse material – uma forma de carbono ultrafina com diversas aplicações – tem sido usado há pouco tempo em baterias, sensores, semicondutores, ar-condicionado e até fones de ouvido. E, agora, passa também a ser empregado em implantes cerebrais. Este mês, cirurgiões da Universidade de Manchester colocaram temporariamente um implante fino, semelhante a uma fita adesiva e com metade da espessura de um fio de cabelo humano, feito de grafeno no córtex de um paciente. Segundo o site Wired, o dispositivo, desenvolvido pela empresa espanhola InBrain Neuroelectronics, é um tipo de interface cérebro-computador, que coleta e decodifica sinais cerebrais.
O grupo inclui médicos e dentistas, pequenos comerciantes que buscam impulsionar sua presença online ou simplesmente aspirantes a empreendedores que querem ganhar dinheiro com negócios digitais.
Para tal, este mercado oferece um leque igualmente grande de possibilidades. Desde mentorias de autoconhecimento, a curso de vendas de qualquer tipo de produto, incluindo cursos sobre como vender cursos.
Em comum, está o discurso aspiracional e dos ganhos financeiros — de preferência, rápidos.
É um mundo ainda pouco explorado do ponto de vista de números e informações concretas. O Ministério do Trabalho, por exemplo, não tem ideia de quantas pessoas estão neste setor.
E as principais plataformas — a Meta, responsável pelo Instagram, Facebook e WhatsApp, e o TikTok — não abrem seus números sobre o tamanho da movimentação financeira ou a quantidade de contas comerciais que possuem.
Mas a BBC News Brasil teve acesso a um relatório inédito que será lançado no fim do ano sobre este universo.
Pesquisadores da University College Dublin (UCD) mergulharam neste mundo por dois anos e acompanharam os 500 maiores influenciadores de marketing digital do Brasil.
Analisaram também o perfil de 1 milhão de pessoas que fizeram algum dos cursos destes influenciadores, ou manifestaram interesse em fazer, chamadas aqui de aspirantes a empreendedores.
O trabalho, que envolveu coleta de dados e entrevistas mais aprofundadas, foi liderado pela antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, professora titular da UCD e diretora do Digital Economy and Extreme Politics Lab (Laboratório de Economia Digital e Extremos da Política), e teve financiamento do Conselho Europeu de Pesquisa (ERC).
'Ser uma influenciadora digital quase me levou a não querer viver mais' Os divórcios motivados pelo vício em bets e jogo do tigrinho: 'Meu marido vendeu nossa casa' 'Jogo do tigrinho' e outros cassinos online contratam influenciadores mirins e direcionam propaganda para crianças no Instagram Os processos contra empresas de Pablo Marçal: 'Trabalho de domingo a domingo' Aversão à CLT, valores tradicionais e ostentação Com base em dados globais levantados no estudo, os pesquisadores estimam que 13 milhões de pessoas estão empreendendo no Instagram hoje no Brasil, por meio das contas comerciais.
No entanto, eles também levantaram que, dos empreendedores na rede, somente 54% usam uma conta comercial na plataforma, com funcionalidades específicas para quem quer fazer negócios.
"Muitas pessoas nem sabem fazer uma conta comercial", diz Rosana Pinheiro-Machado.
"Por isso, estimamos que a quantidade de gente usando o Instagram para vender algum produto no Brasil hoje é muito maior, girando em torno de 25 milhões."
Seguindo a projeção da pesquisa, cerca de um quarto da população economicamente ativa do país já busca fazer dinheiro no Instagram, em uma transformação do enorme setor informal e autônomo brasileiro.
"A lógica da pessoa querer ser chefe de si mesma, em um país onde muitos empregos estão marcados pela lógica da humilhação, é muito libertadora", analisa Pinheiro-Machado, citando condições precárias de trabalho em parte do mercado brasileiro como fator de estímulo à entrada neste setor.
As descobertas feitas pelos pesquisadores revelam a maneira como a maior parte dos influenciadores opera e seus padrões do discurso, que incluem a aversão ao emprego formal regido pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) — vista como limitadora —, e críticas à formação superior.
Também foram apontadas como características comuns o reforço de valores ligados à religião cristã e à família tradicional (no duo "homem valoroso, mulher virtuosa"), e a ostentação de valores materiais (exibir mansões, carros e relógios de luxo e até mesmo resultado de procedimentos estéticos) "em um ambiente propício à desinformação".
Em geral, os influenciadores analisados se alinham a valores conservadores, quer demonstrem ou não seus apoios políticos de maneira explícita.
"Há uma notável ausência de vozes divergentes, progressistas ou à esquerda nesta esfera", diz o relatório da UCD.
No universo de 1 milhão de contas compiladas, a pesquisa monitorou mais de perto 32 mil perfis que manifestaram interesse ou efetivamente fizeram algum curso de marketing digital, independentemente de qual ou com quem, para aumentar sua presença nas plataformas.
Os resultados e as análises desses números mostram a fragilidade dessa aposta, diz o relatório.
Somente 1,2% dos perfis monitorados ganhou seguidores de fato, saindo da classificação de "aspirantes" para o posto de influenciadores, com mais de 5 mil seguidores.
"São pessoas vulneráveis que caem no discurso", afirma Pinheiro-Machado.
"Uma grande parte das entrevistas aponta para uma expectativa grande em torno de ganhar muito dinheiro, para viver bem. Mas também tem um número significativo de pessoas dizendo que vai fazer milhões."
BBC News fonte — Foto: Apesar de continuar sua trajetória como CEO, Tales afirma que a experiência do curso o ajudou a sair da zona de conforto e a aprofundar seu autoconhecimento Como funciona o universo de onde vem Pablo Marçal O foco da parte qualitativa da pesquisa, feita com base em entrevistas e estudos de casos, está em grupos de baixa renda que trabalham como autônomos, com contratos sem garantia de direitos trabalhistas ou estão desempregados.
"Esses grupos têm menos opções profissionais e estão privados de várias capacidades, o que os torna mais vulneráveis aos impactos do mundo do marketing digital não regulamentado", segue a antropológa.
Se aparentemente este aparenta ser um mercado livre e horizontal, na prática, afirma o relatório, é um rígido esquema ditado por uma infraestrutura baseada em algorítmos que empurra os participantes a querer crescer.
Para isso, é preciso investir tanto em cursos como em tráfego pago, ou seja, dar dinheiro para as plataformas para ter seu conteúdo exibido para mais usuários.
"É deste universo que vem o Pablo Marçal", afirma Pinheiro Machado. "Em muitos sentidos, ele é a personificação do mundo do marketing digital e suas visões ideológicas."
Com uma presença digital na casa dos milhões há anos, Marçal foi citado como modelo a ser seguido por alguns dos entrevistados por Pinheiro-Machado em cidades tão distantes como Manaus e Porto Alegre.
Sócio ou dono de um emaranhado de empresas, de diferentes segmentos, Marçal declarou ter um patrimônio de R$ 169 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A PLX Digital, uma de suas empresas, é focada em lançamentos, o que, no jargão deste mercado, é o nome dado à venda de um curso ou produto online.
Fundada em 2019 por Marçal e seu sócio, Marcos Paulo de Oliveira, a PLX promete "romper limites" e "transformar vidas", de acordo com as mensagens descritas em seu site — o candidato a prefeito já disse ter vendido cursos e mentorias a 1,5 milhão de pessoas.
A BBC News Brasil tentou falar com Marcos Paulo, mas ele não respondeu à mensagem enviada, e também com Marçal, por meio de sua assessoria de imprensa, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
BBC News fonte — Foto: Pablo Marçal durante a campanha em São Paulo Neste mercado, os valores dos cursos e mentorias de diferentes influenciadores variam muito, podendo custar de R$ 100 a mais de R$ 60 mil.
Mas todos prometem a mesma coisa: que qualquer um pode prosperar finaceiramente.
O dinheiro pode ser conquistado transformando-se em um influenciador e criador de conteúdo, ou também apenas vendendo o conteúdo ou curso de alguém em troca de uma comissão, que é o caso dos chamados afiliados.
Por exemplo, a pessoa pode ser ensinada a ter renda revendendo cursos dos grandes influenciadores ou oferecendo atalhos de comércio digital para produtos de gigantes como a Amazon ou a Shopee.
Sem apontar diretamente para nenhuma empresa ou influenciador específico, o relatório faz um alerta sobre riscos em torno deste universo, que cria "pirâmides aspiracionais".
O estudo aponta para a presença dos esquemas de pirâmide, um modelo comercial fraudulento que depende do recrutamento de novas pessoas que pagam às antigas integrantes da rede, sem regras claras de remuneração. E também do estímulo nocivo de "aspirações irrealistas" e gastos com "treinamento digital enganoso”.
Por isso, a pesquisa defende a necessidade da criação de medidas regulatórias, inclusive com regras para o trabalho de influenciadores, além de programas educacionais para o segmento.
Vender e-books, sonhar alto Foi por meio de um atraente anúncio para ganhar dinheiro que o motorista Lucas Silva, de 39 anos, foi atrás do primeiro curso de marketing digital que fez.
Em seu currículo, constam trabalhos como atendente, garçom, motorista de aplicativo, vendedor e vigilante.
Seu sonho, no entanto, é ter uma hamburgueria em Porto Alegre, cidade onde vive com a mulher, Priscilla Carvalho dos Santos, de 32 anos. Ela tem nível técnico em contabilidade e trabalha no momento como manicure.
Na tentativa de ser dono do próprio negócio, o casal já se aventurou por diferentes cursos de marketing digital, com focos variados.
Um deles, voltado para a venda direta de produtos de beleza, como pílulas que prometem cabelos saudáveis, crescimento das unhas e fortalecimento do sistema imunológico, ou comprimidos cujo anúncio diz auxiliar na perda de peso.
Desembolsaram quase R$ 1 mil, entre o valor do curso e dos impulsionamentos dos anúncios de vendas, mas, até agora, não tiveram retorno.
"Trabalhar com carteira assinada hoje em dia é uma coisa limitada", diz Lucas.
Por isso, ele diversifica as apostas, literalmente, já que também entrou no ramo das apostas esportivas, as bets. "Em um dia só, coloquei R$ 30 e ganhei R$ 700. Mas em seguida perdi tudo."
O perfil do casal é comum entre os analisados pelos pesquisadores da UCD. "Todo mundo aposta nas bets, faz rifas e quer vender e-book", diz Pinheiro-Machado.
"É tudo parte do mesmo universo de esquemas que jogam com a aspiração das pessoas."
Independentemente do meio, o fim se justifica pelo ganho de dinheiro graças a, teoricamente, o esforço individual, apontam os pesquisadores.
Para lucrar, é preciso vender, e, para vender, é preciso se esforçar e ter foco.
E, claro, fazer um curso, com "muitos entrevistados de origens menos privilegiadas, ou até mesmo em situação de pobreza, reiterando a crença de que ainda não eram ricos porque não tinham o mindset (mentalidade) certo", diz o relatório.
"É um discurso baseado no hiperindividualismo", afirma Pinheiro-Machado, que cita também a presença de uma "meritocracia distorcida" — se algo não deu certo, é porque a técnica não foi bem aplicada. Um "caldo de cultura" que carrega junto milhões de seguidores.
A cuidadora Crystian Rodrigues Ayres, de 31 anos, já fez cinco cursos de vendas online, mas ainda não conseguiu empreender. "Não me dediquei o suficiente", diz ela.
"Não tenho vontade de fazer faculdade. Tenho o objetivo de fazer dar certo no marketing porque sei que o retorno é bom."
Atualmente, Crystian, que vive no Rio de Janeiro, é contratada como microempreendedora individual (MEI) por uma agência especializada em cuidados de idosos.
BBC News fonte — Foto: O mercado de marketing digital, ainda carente de dados concretos, abrange uma ampla gama de profissionais, de médicos a pequenos comerciantes, todos em busca de visibilidade e lucros rápidos Altas expectativas, longas jornadas A pesquisa da UCD aponta que pode haver vantagens no mundo digital para todos os tipos de empreendedores, mas a questão é em que medida estão ancoradas suas expectativas.
"Quem já tem um pequeno comércio se beneficia do Instagram para promover seu negócio", afirma Pinheiro-Machado.
"Mas é um percentual muito pequeno de pessoas que de fato estão ganhando dinheiro ali."
A professora Adriana Tavares, por exemplo, já dava aulas de inglês totalmente online quando conheceu o mundo do marketing digital.
Em 2022, quando ela lançou um curso voltado para pessoas com mais de 50 anos, chegou a faturar R$ 100 mil em uma semana, um marco para quem se aventura por esse universo — e ainda repetiu o feito outras duas vezes naquele ano.
Mas hoje ela não está milionária. Tampouco tem tempo livre ou faz viagens luxuosas.
Pelo contrário, sua rotina de trabalho é extensa, dura de 12 a 15 horas por dia, inclusive aos finais de semana.
Do que ganha hoje, parte ela separa para quitar as dívidas que fez justamente quando faturou os tão sonhados "seis dígitos". "Eu fiz errado no começo", diz Adriana.
"Quando faturei aquele valor, contratei gente, cheguei a ter 12 pessoas trabalhando comigo, contando que eu iria faturar aquele valor de novo. E não é porque você fez 'seis em sete' uma vez que fará sempre.”
Fazer "seis em sete" significa faturar seis dígitos, ou ao menos R$ 100 mil, em sete dias, ou uma semana.
O curso de Adriana custa R$ 1.597 e fica disponível por um ano para que o aluno o conclua quando quiser, na Hotmart, uma das maiores plataformas de cursos online do país.
A plataforma foi fundada em 2011 e diz que já ultrapassou US$ 10 bilhões (R$ 54,5 bilhões) em vendas.
Os cursos que estão ali são variados, desde aulas sobre a Bíblia, maquiagem, idiomas, dietas, preparo para concursos, passando por formações sobre todos os tipos de terapias, jornalismo, direito, medicina, e, claro, muitos cursos sobre como criar cursos.
A BBC News Brasil solicitou uma entrevista com os executivos à frente da Hotmart, mas não houve retorno ao pedido.
Hoje, Adriana comemora ter chegado a 800 alunos e conta com orgulho sobre a sua mais recente matriculada: uma senhora de 84 anos.
"Sei que meu produto é bom. Sei que não estou enganando ninguém", diz ela.
Suas expectativas, no entanto, foram reduzidas. Dos 12 funcionários que chegou a ter, hoje trabalham com ela o marido e a filha.
"Se eu pudesse voltar atrás, não teria contratado equipe, teria cuidado mais", diz Adriana.
"O [influenciador] Erico [Rocha] não ensina isso, ele ensina o 'montinho montão', ou seja, a cada ganho, é preciso separar uma parte para investir no próximo lançamento.”
Esse ciclo de investimentos em publicidade a cada novo lançamento tem dado musculatura para esse setor da economia de influenciadores.
Segundo projeções do Goldman Sachs, esse ecossistema pode quase dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, chegando a movimentar US$ 480 bilhões até 2027 no mundo.
Os principais impulsionadores desse crescimento, segundo o banco, serão os gastos com impulsionamentos e a monetização de vídeos curtos por meio de publicidade.
Faixa-preta de chinelo Com mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram, Erico Rocha é um sujeito de voz mansa e gestos contidos, longe dos estereótipos mais agressivos utilizados por muitos influenciadores deste universo.
Um dos precursores do marketing digital no Brasil, é dele o método que Adriana aprendeu, chamado Fórmula de Lançamento.
Ele importou o método em 2013 do guru dos gurus, o americano Jeff Walker, pagando royalties cujo valor ele não revela.
Hoje, sua empresa tem 154 funcionários e, segundo ele, fatura R$ 100 milhões ao ano e ajuda a movimentar mais de R$ 1 bilhão indiretamente, por meio do faturamento dos alunos.
Seu discurso é voltado para o reinvestimento na empresa. "Sempre digo: não quero que você faça 'seis em sete' e vá para Ibiza. A gente quer ser empreendedor, por isso eu falo para as pessoas fazerem reserva de caixa, cuidar da empresa."
Quando conversou com a BBC News Brasil de seu escritório em Brasília, Erico vestia camiseta, calça jeans e chinelo.
De acordo com ele, seu público, formado por pessoas com mais de 25 anos, já não se vê mais atraído pela ostentação de riqueza.
"Minha audiência não quer isso. Eles querem pagar o seguro de saúde da mãe, uma escola particular para o filho."
Rocha se orgulha em dizer que tem mais de 400 "mentorados", como ele chama, que já faturaram R$ 2 milhões em um ano, os chamados "faixas-pretas", em alusão às graduação de artes marciais.
"Quer dizer que todos fazem esse valor? Não. Teve gente que fez mais, teve gente que faliu, foi fazer outra coisa…"
O dinheiro, no entanto, não vem da noite para o dia. "A média para que um aluno faça 'seis em sete' é de 12 a 14 meses", diz Rocha.
Mas há exceções. "[Pablo] Marçal deve ter feito seis em sete no primeiro lançamento, ou no segundo", diz Rocha.
"O que ele faz hoje não é a fórmula clássica. Ele cria movimentos, é extremamente viral. As pessoas, para ter sucesso com a fórmula, não são virais. Eu não sou viral."
Viralizar um conteúdo e fazer com que ele chegue ao maior número possível de pessoas é estratégico.
Nesta equação, larga na frente quem tem mais seguidores ou consegue ganhar novos com técnicas para capturar atenção e tráfego pago.
No monitoramento da UCD, além de verificar o reduzido crescimento em número de seguidores dos aspirantes a influenciadores, também apareceram os padrões de discurso.
"Existe uma média de repetição muito clara", explicou a pesquisadora e cientista de dados Jéssica Matheus, também do Digital Economy and Extreme Politics Lab.
Entre as palavras comuns a todas as categorias, do maior influenciador para o menor aspirante a empreendedor, apareceram sempre a ideia de mentoria e expertise, como nas frases "te ajudo", "especialista".
"No entanto, à medida que eles ganham mais seguidores, a nuvem de palavras muda também", afirma Matheus.
Saem de cena palavras como "Deus", "mãe" e "CEO" e entram "mentor", "pai" e "curso", por exemplo, em um possível indicativo de que, quanto mais seguidores, mais corporativa e masculina são as descrições do perfil.
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Instagram como 'plataforma de trabalho' É por causa da escala de abrangência do setor e suas implicações que a pesquisa da UCD defende que redes como Instagram tem que ser classificadas como "plataforma de trabalho" por governos e entidades globais como Organização Internacional do Trabalho (OIT), ao lado de empresas como Uber e Rappi, por exemplo.
Para a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, essa mudança permitirá uma melhor análise para formular políticas públicas e uma maior cobrança das plataformas por transparência.
Na visão da pesquisadora, trabalhador "plataformizado" não seria apenas o motorista do aplicativo, mas um público muito mais amplo, que abarcaria da vendedora de cosméticos que tem um perfil na redes até o dentista que quer se lançar como mentor de outros dentistas. Todos "homogenizados" sob uma lógica ditada pela plataforma.
"As plataformas reforçam o tempo todo a promessa de que é possível viver como influenciador digital", afirma Issaaf Karhawi, pesquisadora da cultura dos influenciadores digitais no Brasil e autora do livro De blogueira a influenciadora (Sulina, 2020).
"Isso te leva a trabalhar, de forma gratuita, produzindo diariamente conteúdo, na esperança de um dia viralizar e vir a se tornar um influenciador."
Para Karhawi, a pesquisa da UCD "está muito associada a uma virada crítica importante nos estudos dos influenciadores digitais", iniciados na época em que surgiram as blogueiras de moda.
Ela também compartilha da ideia, que aparece nos resultados da pesquisa, de que é um discurso muito presente no mundo digital, mas que não se concretiza e contém riscos.
A opacidade das plataformas, que não deixam claras as regras do algoritmo, e as próprias regras, como punições, suspensão de conteúdos considerados violadores, necessidade de constância nas publicações e a imposição de horários para um conteúdo ter melhor desempenho criam, na verdade, um sistema esgotador para quem trabalha com isso, de acordo com a pesquisadora. É o que Karhawi chama de "exaustão algorítmica".
Já Cássio Calvete, economista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que pesquisa inteligência artificial e seu impacto no mercado de trabalho, aponta que a tecnologia ou o trabalho mediado por algoritmos pode, inclusive, piorar as condições de trabalho.
"Percebemos que o algoritmo tem uma série de formas para intensificar e estender o ritmo de trabalho, tanto por aplicativo, quanto para profissionais que trabalham em centros de distribuição", diz ele.
Suas conclusões são um contraponto ao discurso de mais liberdade atrelado ao trabalho mundo digital.
Pinheiro-Machado lembra, no entanto, que a digitalização também traz a promessa de dignidade.
"Uma coisa é eu dizer que sou faxineira. A outra, é dizer que sou personal trainer", afirma a antropóloga.
"A pessoa muitas vezes não ganhou dinheiro algum ainda, mas ganhou dignidade. Isso em um país historicamente marcado pelo estigma da pobreza importa."
'Eu invado cérebros' "O outro lá invade terrenos. Eu invado cérebros. Entro no cérebro da pessoa, faço ela ficar com raiva e depois pulo para o outro lado", disse Pablo Marçal durante uma entrevista no mês passado ao podcast Primocast, do grupo empresarial Primo, onde falou sobre seus negócios, em especial de marketing digital, e sobre política.
A declaração continha uma provocação ao adversário na corrida eleitoral, Guilherme Boulos (PSOL), que fez parte do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), e também foi uma janela para comentar as técnicas que ele usa tanto na carreira empresarial como na corrida eleitoral.
Ao longo dos meses, Marçal utilizou provocações e lançou mão de gatilhos emocionais para irritar adversários e ganhar holofotes. Também usou algo que aplica em seus "lançamentos digitais", os chamados campeonatos de "cortes", para divulgar sua campanha.
Na modalidade, ele recruta milhares de seguidores para que façam pequenos clips de seus conteúdos, os "cortes" de vídeos, em busca de engajamento nas redes.
O candidato chegou a dizer publicamente que remuneraria os campeões dos cortes que tivessem mais engajamento, e, questionado pela campanha de Tabata Amaral (PSB) na Justiça Eleitoral, acabou punido em agosto, ficando sem acesso às redes sociais que tinha. Isso no o impediu de seguir nas redes, já que ele criou novas contas em seguida.
"Deus vai mudar nossa sorte. A gente está sozinho. Nós, o povo, e Deus. [... ] Eu construí riqueza e você também vai construir. Chegou a hora do povo de São Paulo prosperar", disse em um programa de TV em agosto, em linguagem próxima a que usa em seus próprios produtos digitais.
Se Marçal começou a campanha com 14% das intenções de voto antes do registro das candidaturas, em agosto, agora esse número chega a 21%, segundo apontou o Datafolha em 27 de setembro.
Para Rosana Pinheiro-Machado, o sucesso até agora é menos surpreendente do que parece, porque, em sua visão, trata-se de uma mensagem "individualista, consumista e conservadora" que ela vê repetida no mundo do marketing digital há muitos meses.
A hipótese da pesquisadora é que a plataformização do trabalho, aliada à precarização, une, em um só lugar, toda essa lógica, criando um "solo fértil" para a direita radical.
Jovens focam os olhos por mais tempo em livros e telas durante os primeiros anos de vida, o que tensiona os músculos oculares e pode levar à miopia, sugere a pesquisa
Join us for the first Askwith Education Forum of the academic year where we focus on how education policymakers, technology developers, and researchers are responding to the emergence of generative artificial intelligence (AI) — and the implications for the future of education. HGSE Academic Dean Martin West will welcome U.S. Department of Education Assistant Secretary Roberto J. Rodríguez, Google for Education Strategy and Operations Manager Marta McAlister, and HGSE Assistant Professor Ying Xu as they explore the potential promise, still being envisioned, of AI to shape learning, teaching, and thriving in the world.
Guests: • Marta McAlister, Strategy & Operations, Google for Education, Google • Roberto J. Rodríguez, Assistant Secretary for Planning, Evaluation, and Policy Development, U.S. Department of Education • Ying Xu, Assistant Professor of Education, HGSE
Hosted by: • Martin West, Academic Dean and Shattuck Professor of Education
Inovação disruptiva, introduzido por Clayton Christensen em The Innovator's Dilemma , explica como os recém-chegados que usam tecnologia de ponta podem deslocar corporações entrincheiradas. A disrupção no ensino superior pode ser rara, devido às altas barreiras de entrada e à influência enraizada de instituições de prestígio. No entanto, no Sul Global, a dinâmica da disrupção é diferente, e a inteligência artificial (IA) pode ser a chave para interromper e até mesmo ultrapassar os sistemas educacionais tradicionais. O Sul Global , que inclui África, América Latina, Ásia e Oriente Médio, abriga 7,2 bilhões de pessoas, cerca de 85% da população mundial. Ao contrário dos EUA e da Europa, mais de 55% da população do Sul Global tem menos de 25 anos. A crescente parcela da população da África é especialmente notável, pois espera-se que o continente contribua com 62% do crescimento populacional global entre agora e 2050, com países como Nigéria e Tanzânia esperando um crescimento de 50-90% até 2050. Esse aumento demográfico criou uma demanda sem precedentes por educação e tem uma oportunidade única de introduzir modelos disruptivos, com a IA na vanguarda. O potencial da IA para transformar a educação é mais significativo devido à expansão da internet e dos smartphones no Sul Global. Em países como Índia, Brasil e México, a posse de smartphones em 2023 atinge mais de 60% da população. Na África, o acesso a smartphones tem crescido rapidamente, mas com vastas diferenças regionais, criando uma “ lacuna de habilidades digitais ” entre as populações, com a maioria da população em países como Egito, Gana, Quênia e Nigéria possuindo smartphones, mas menos de 40% em alguns países e em muitas áreas rurais. Apesar dessas lacunas, a adoção generalizada de smartphones com internet rápida no Sul Global “ultrapassou” a infraestrutura de telefonia fixa e oferece uma oportunidade transformadora para ultrapassar sistemas educacionais desatualizados. IA como Disruptor e Agente de Salto no Brasil No Brasil, por exemplo, o sistema "Ensino Médio Presencial com Mediação Tecnológica" foi construído com tecnologia de videoconferência para levar educação a vilas remotas perto da Amazônia. Este sistema democratizou o acesso à educação para mais de 300.000 alunos em áreas carentes. O programa " AIED Unplugged " do acadêmico de Harvard Seiji Isotani alcançou mais de 250.000 alunos usando IA e smartphones. O AIED unplugged fornece ferramentas avançadas de IA para professores, capacitando-os a avaliar com eficiência a escrita dos alunos e melhorar os resultados. Este trabalho está sendo estendido ao México, Peru e Filipinas, onde Isotani está ajudando a desenvolver políticas para expandir o acesso à IA em regiões remotas. Em um artigo recente, Isotani observa que o AIED Unplugged "capacita o professor com conhecimento para que ele possa agir em sala de aula de uma maneira melhor", de acordo com Isotani, que acrescenta que "quando pensamos em adaptar a tecnologia, não se trata da tecnologia, mas das pessoas". Estudo de caso: IA no empreendedorismo africano Um estudo recente conduzido pelo professor da Harvard Business School Rem Koning no Quênia destaca tanto o potencial quanto as limitações da IA em economias em desenvolvimento. O experimento de cinco meses envolveu 640 empreendedores divididos em dois grupos, um que recebeu orientação empresarial padrão em formato impresso, enquanto o outro acessou aconselhamento baseado em IA pelo WhatsApp. Os resultados revelaram um quadro matizado: empreendedores de alto desempenho viram uma melhoria de 20% nos resultados empresariais, enquanto empreendedores de baixo desempenho experimentaram um declínio de 10%. Isso sugere que a IA tem o potencial de ampliar a lacuna entre os indivíduos, particularmente em ambientes onde a infraestrutura e a alfabetização digital são escassas. Koning observou em uma entrevista que a IA pode ter afetado negativamente alguns empresários que "não tinham julgamento" para discernir entre as opções, pois a IA "inundará você com opções". Koning também suspeita que a IA pode fazer com que empresas de baixo desempenho considerem a IA como "uma nova amiga" e confiem nela para obter informações em vez de "faltar com outras pessoas". Koning observa que combinar o uso da IA com um mentor humano fornece "melhorias massivas" ao "mantê-lo conectado a outras pessoas". A noção de que a IA produz efeitos prejudiciais foi reforçada por um estudo controlado de estudantes na Turquia, que mostrou desempenho 17% menor em comparação a um grupo de controle quando um sistema de IA é implementado sem a devida orientação dos professores. Desafios da implantação de IA O acadêmico Dan Björkegren observa que os sistemas de IA desenvolvidos no Ocidente muitas vezes não atendem às necessidades únicas dos países mais pobres devido a conjuntos de dados limitados no idioma local e lacunas na infraestrutura. Björkegren defende a construção de conjuntos de dados localizados, colaboração transfronteiriça entre empreendedores e o envolvimento de organizações internacionais para preencher lacunas de recursos. A pesquisa de Björkegren sobre sistemas de crédito digital ilustra como os usuários em países em desenvolvimento podem manipular algoritmos de IA para melhorar suas pontuações de crédito, levando a resultados não confiáveis. Estudos de sistemas de IA usados no Quênia, Togo e Serra Leoa mostram que esses problemas podem ser superados adaptando a IA às condições locais, sugerindo que os sistemas de IA precisam considerar o contexto local para serem eficazes. Construindo Capacidade Local para IA na África O progresso está sendo feito em muitos setores na África. Universidades e organizações africanas estão assumindo a liderança no desenvolvimento responsável de aplicativos de IA, incorporando idiomas locais e conjuntos de dados regionais. Universidades africanas produziram mais de 1000 publicações sobre IA, com o número de artigos e livros produzidos dobrando aproximadamente a cada dois anos. A Honoris United Universities está fazendo parcerias com empresas de EdTech para desenvolver ambientes de aprendizagem baseados em IA que alcancem milhares de estudantes africanos. A União Africana está desenvolvendo sua própria Estratégia Continental sobre IA que prioriza a educação e a preservação de idiomas africanos. O Observatório Africano sobre IA Responsável está trabalhando para "promover vozes, experiências e sistemas de valores africanos no debate global em torno da IA responsável", e fundações privadas como a Mastercard Foundation financiaram inúmeras iniciativas de EdTech para construir aplicativos de educação em IA na África. A IA equitativa requer contexto local Governos e líderes educacionais no Sul Global devem ser cautelosos sobre escalar soluções orientadas por IA muito rapidamente. O conto de advertência dos potenciais impactos negativos da IA na educação e nos negócios reflete os danos ambientais causados pela adoção rápida e descontrolada de plásticos. Soluções baratas, eficientes e escaláveis nem sempre são as melhores, especialmente quando não consideram a sustentabilidade a longo prazo. Estudos de negócios no mundo em desenvolvimento mostram que envolver a população como coprodutores e construir sistemas baseados na comunidade permite que o valor comercial e social sejam desenvolvidos juntos, "como duas lâminas de uma tesoura", de acordo com um estudo do acadêmico de Harvard V. Kasturi Rangan sobre mercados emergentes. Os sistemas de IA no Sul Global devem, da mesma forma, estar enraizados nas culturas e comunidades locais para garantir que sejam eficazes e equitativos. O Sul Global tem uma oportunidade única de usar a IA para ultrapassar os sistemas educacionais tradicionais e estimular um rápido crescimento econômico. No entanto, esse salto deve ser dado com cautela, garantindo que a IA seja usada para empoderar comunidades em vez de ampliar as desigualdades.
O segundo painel discutiu como os dados e as evidências podem ser utilizados para promover a equidade na educação. Cristina Lopes, diretora-executiva do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra), apresentou alguns dados sobre desigualdades raciais na Educação Básica brasileira. Ela contou que os pais de estudantes muitas vezes têm dificuldade para definir sua cor/raça e a de seus filhos, ao passo que redes e escolas se sentem constrangidas a perguntar sobre o tema. “É necessário que os educadores falem sobre isso com as famílias e expliquem porque é necessário conhecer esses dados, de modo a pensar em políticas que combatam as desigualdades”, defende. Cristina ainda ressaltou a importância das informações sobre cor/raça para a dimensão subjetiva dos alunos: “essa é uma forma de dizer que aquelas pessoas existem naquela escola, que não estão sozinhos e que são vistos – e esse não é um aspecto menor”, reforça.
Um em cada quatro países do mundo já adotou leis que proíbem o uso de celular nas escolas, segundo o Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco. Segundo o estudo, a simples presença dos celulares em sala de aula provoca distração nos estudantes, o que acarreta em prejuízos na aprendizagem. Também destaca que o uso de equipamentos eletrônicos dentro das salas de aula atrapalha a gestão dos professores com as turmas. "Estudos usando dados do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, aplicada pela OCDE] indicam uma associação negativa entre o uso das tecnologias e o desempenho dos estudantes", diz o relatório, que foi feito em 2023. Entre os países que anunciaram a proibição estão Espanha, Grécia, Finlândia, Holanda, Suíça e México. Na França é um dos pioneiros na proibição ao uso de celulares, com uma lei de restrição de 2018. Nas escolas francesas, os alunos não podem usar os aparelhos em nenhum momento, inclusive durante os recreios. É prevista exceção à regra para alguns grupos de alunos, como os com deficiência, que demandam o suporte da tecnologia. Na Grécia, a medida começou a valer no início deste semestre letivo. Os alunos podem levar os celulares para a escola, mas precisam mantê-los dentro da mochila durante todo o período escolar. A mesma medida é adotada na Dinamarca. No Brasil, o governo Lula prepara um pacote de medidas para tentar conter os prejuízos do excesso de telas na infância e na adolescência, dentre elas o banimento do uso de celulares pelos estudantes em todo o ambiente escolar. Já existem alguns estados brasileiros que adotaram leis para restringir o uso do equipamento. É o caso do Rio de Janeiro, que após uma consulta pública, na qual 83% dos entrevistados se declararam favoráveis à restrição, decidiu por proibir o dispositivo dentro e fora de sala de aula, inclusive no recreio. Outros estados criaram regras para restringir o uso de celular para atividades pedagógicas, como é o caso de Roraima, Distrito Federal, Maranhão, Tocantins, Paraná e São Paulo. Professores, no entanto, alertam que a medida é difícil de ser cumprida, já que é difícil fiscalizar o que os estudantes fazem com o aparelho em mãos. Apesar de limitar o uso do celular para atividades pedagógicas, estados como São Paulo e Paraná, passaram a incentivar o uso de tecnologias digitais em suas escolas. Na rede paulista, por exemplo, os professores são cobrados para que os alunos façam redação online, exercícios em aplicativos e usem material digitalizado. A medida vai na contramão das recomendações feitas pela Unesco no relatório. Segundo a entidade, não existem evidências científicas suficientes para comprovar os benefícios do uso da tecnologia digital na educação. E alerta que os investimentos nessa área podem estar tomando o recurso de ações mais efetivas para a melhoria do ensino. "A atenção excessiva à tecnologia geralmente tem um alto custo. Recursos despendidos em tecnologia, em vez de em sala de aula, professores e livros didáticos para crianças em países de renda baixa a média baixa, que não têm acesso a esses recursos, provavelmente colocarão o mundo em uma posição ainda mais distante de alcançar o objetivo mundial de educação", diz o relatório.
Análise baseada nos dados do Ideb 2023 aponta que alunos do ensino integral abandonam menos os estudos em relação aos do ensino regular. Diferença é maior nos estados de Pernambuco, Tocantins e Maranhão
A Estratégia Nacional de Escolas Conectadas (ENEC) faz um ano hoje e esta edição do CiebCast traz uma entrevista exclusiva com dois técnicos à frente da operação da iniciativa do Governo Federal que tem como objetivo garantir a conectividade para fins pedagógicos em todas as escolas públicas do país até 2026 além de alavancar a implementação da tecnologia educacional em sala de aula. Para conversar sobre a ENEC, Julia Sant’Anna, diretora-executiva do CIEB, recebe Anita Stefani, Diretora de Apoio à Gestão Educacional do Ministério da Educação, e Hermano Tercius, Secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações. A conversa ainda rendeu um anúncio em primeira mão no CiebCast! O Governo Federal está desenvolvendo e lançará no primeiro ano das próximas gestões municipais um sistema gratuito que apoiará as redes de ensino em seus processos escolares, promovendo melhoria da aprendizagem e melhor gestão de recursos. Assista, comente e compartilhe suas impressões! Sua participação é fundamental para ampliar o impacto dessas discussões.Acesse o decreto que institui a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas:
Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017 A semana passada, ao concluir a apresentação de uma nova pós-graduação, recebi uma dezena de perguntas dos matriculados. Todas sobre os métodos de avaliação; nenhuma sobre o conteúdo do curso. O ensino deixou de estar norteado para o aprendizado. Os exames finais, a nota ou o diploma passaram a ser a meta principal. É o sintoma de um problema ainda maior: o ensino e a aprendizagem tornam-se dependentes da estruturação durkheiminiana das escolas, da mecanização dos currículos e da capacidade de memorização dos alunos. Na HBO podemos assistir ao documentário "Koran by Heart", que dá destaque a um menino de 10 anos que memorizou na perfeição as 600 páginas em árabe do Alcorão, na totalidade das suas 114 suras e 6236 versículos, conseguindo recitá-los à luz do tajweed (regras de entoação). Mas o garoto é natural do Tajiquistão. Não entende uma palavra de árabe e, como se dedicou só à memorização de sons forasteiros, também é semianalfabeto na sua própria língua. É um gênio do nada, um campeão do vazio. O colégio Mater Dei, em São Paulo, usa a plataforma Geekie One, que reúne exercícios e conteúdo das aulas, permite acompanhar o desempenho dos alunos em cada matéria e classificar os conteúdos pelo seu grau de dificuldade. Na foto, a aula de português do professor Renê de Barros para o primeiro ano do ensino médio - Bruno Santos/Folhapress A inteligência artificial deve invadir a sala de aula para dignificarmos o ensino. Os alunos devem compreender e dominar LLMs como GPT-4o, Falcon, Llama 3.2, Cohere, Gemini ou Claude 3.5 Sonnet para absorverem conhecimento fatual, acrítico e conceitual. Não precisamos de professores para ensinar a Wikipédia. Com IA, a maioria dos conteúdos pode ser absorvido pelos alunos de forma personalizada com tutoria inteligente, no conforto das suas casas, sem as delimitações de conhecimento e experiência que todos os professores humanamente têm. A IA poderá analisar os pontos fortes e fracos do desempenho de cada aluno em tempo real e criar planos de aulas individualizados com ferramentas de avaliação automática. Se deixarmos que a IA responda pela componente funcional do conteúdo escolar, conseguiremos resgatar a natureza mais nobre de um professor: estimular o pensamento crítico, a sensibilidade e a capacidade analítica de um aluno. Também ensiná-lo a assimilar valores cívicos e a considerar as implicações éticas do conhecimento. Ou ainda incentivá-lo à criatividade, à inovação, ao pioneirismo e ao risco. Tudo isto em um quadro de humanismo e promoção das relações sociais e do trabalho em grupo, valorizando experiências pessoais e perspectivas locais. O papel do professor será cada vez o de curador e instigador, o que é uma função tão singular quanto a exercida pelos magistri das universidades medievais. Atraíam alunos interessados em debate e pensamento crítico. É o professor que deve também suscitar discussões sobre as limitações da própria inteligência artificial. Questões como a privacidade dos dados dos alunos, o potencial de vieses algorítmicos e a necessidade de garantir um uso ético da IA devem ser abordados. A IA também automatiza e simplifica uma série de tarefas administrativas atualmente sob a alçada dos educadores, como preparar currículos e syllabus, criar exames, produzir relatórios, fazer avaliações ou dar feedback. Centenas de ferramentas já estão disponíveis e poderão ser encontradas aqui e aqui. A própria OpenAI criou uma plataforma para ajudar os educadores. Com estas soluções, os professores poderão dedicar mais tempo aos alunos. Há mais. Além de facilitar a vida de um docente, através de novos mecanismos de apresentação e visualização de informações (Canva, Visme, Microsoft Sway), a IA também é integradora, criando melhores condições para que pessoas com deficiência possam ser educadas de forma personalizada e digna. Novas ferramentas possibilitam que pessoas com deficiência visual consigam ouvir textos e pessoas com deficiência auditiva possam acompanhar textualmente as aulas ao vivo. A maioria das escolas e das universidades está abrindo as comportas à inteligência artificial. Harvard disponibiliza recursos para os professores. Escolas do ensino fundamental em Cingapura já ensinam informática, robótica e IA. No Brasil, caberá ao poder público garantir o acesso equitativo e gradual a essas tecnologias, tanto por parte dos professores quanto dos alunos, e mesmo em contextos de escassez generalizada. Ferramentas de inteligência artificial não podem ser um privilégio da escola privada. A IA não substituirá os professores, mas substituirá os professores que não dominam IA.
Em 2023, o workshop Perspectivas para uma Política Nacional de Fortalecimento dos Anos Finais no Brasil, reuniu formuladores de políticas federais e subnacionais, atores da sociedade civil e pesquisadores no Brasil que trabalham com educação escolar. Os participantes tiveram a oportunidade de aprender com as experiências de reforma de três sistemas educacionais (Chile, Colômbia e Espanha). Os seminários também forneceram insights sobre outros trabalhos internacionais comparativos e empíricos relevantes da OCDE, incluindo o trabalho do Education Policy Outlook sobre capacidade de resposta e resiliência na política educacional. As discussões e as experiências internacionais, bem como as evidências anteriores coletadas pela OCDE, fundamentam a análise apresentada neste Policy Briefing.
his fall is the first in nearly 20 years that I am not returning to the classroom. For most of my career, I taught writing, literature, and language, primarily to university students. I quit, in large part, because of large language models (LLMs) like ChatGPT.
Virtually all experienced scholars know that writing, as historian Lynn Hunt has argued, is “not the transcription of thoughts already consciously present in [the writer’s] mind.” Rather, writing is a process closely tied to thinking. In graduate school, I spent months trying to fit pieces of my dissertation together in my mind and eventually found I could solve the puzzle only through writing. Writing is hard work. It is sometimes frightening. With the easy temptation of AI, many—possibly most—of my students were no longer willing to push through discomfort.
In my most recent job, I taught academic writing to doctoral students at a technical college. My graduate students, many of whom were computer scientists, understood the mechanisms of generative AI better than I do. They recognized LLMs as unreliable research tools that hallucinate and invent citations. They acknowledged the environmental impact and ethical problems of the technology. They knew that models are trained on existing data and therefore cannot produce novel research. However, that knowledge did not stop my students from relying heavily on generative AI. Several students admitted to drafting their research in note form and asking ChatGPT to write their articles.
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As an experienced teacher, I am familiar with pedagogical best practices. I scaffolded assignments. I researched ways to incorporate generative AI in my lesson plans, and I designed activities to draw attention to its limitations. I reminded students that ChatGPT may alter the meaning of a text when prompted to revise, that it can yield biased and inaccurate information, that it does not generate stylistically strong writing and, for those grade-oriented students, that it does not result in A-level work. It did not matter. The students still used it.
In one activity, my students drafted a paragraph in class, fed their work to ChatGPT with a revision prompt, and then compared the output with their original writing. However, these types of comparative analyses failed because most of my students were not developed enough as writers to analyze the subtleties of meaning or evaluate style. “It makes my writing look fancy,” one PhD student protested when I pointed to weaknesses in AI-revised text.
My students also relied heavily on AI-powered paraphrasing tools such as Quillbot. Paraphrasing well, like drafting original research, is a process of deepening understanding. Recent high-profile examples of “duplicative language” are a reminder that paraphrasing is hard work. It is not surprising, then, that many students are tempted by AI-powered paraphrasing tools. These technologies, however, often result in inconsistent writing style, do not always help students avoid plagiarism, and allow the writer to gloss over understanding. Online paraphrasing tools are useful only when students have already developed a deep knowledge of the craft of writing.
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Students who outsource their writing to AI lose an opportunity to think more deeply about their research. In a recent article on art and generative AI, author Ted Chiang put it this way: “Using ChatGPT to complete assignments is like bringing a forklift into the weight room; you will never improve your cognitive fitness that way.” Chiang also notes that the hundreds of small choices we make as writers are just as important as the initial conception. Chiang is a writer of fiction, but the logic applies equally to scholarly writing. Decisions regarding syntax, vocabulary, and other elements of style imbue a text with meaning nearly as much as the underlying research.
Generative AI is, in some ways, a democratizing tool. Many of my students were non-native speakers of English. Their writing frequently contained grammatical errors. Generative AI is effective at correcting grammar. However, the technology often changes vocabulary and alters meaning even when the only prompt is “fix the grammar.” My students lacked the skills to identify and correct subtle shifts in meaning. I could not convince them of the need for stylistic consistency or the need to develop voices as research writers.
The problem was not recognizing AI-generated or AI-revised text. At the start of every semester, I had students write in class. With that baseline sample as a point of comparison, it was easy for me to distinguish between my students’ writing and text generated by ChatGPT. I am also familiar with AI detectors, which purport to indicate whether something has been generated by AI. These detectors, however, are faulty. AI-assisted writing is easy to identify but hard to prove.
As a result, I found myself spending many hours grading writing that I knew was generated by AI. I noted where arguments were unsound. I pointed to weaknesses such as stylistic quirks that I knew to be common to ChatGPT (I noticed a sudden surge of phrases such as “delves into”). That is, I found myself spending more time giving feedback to AI than to my students.
So I quit.
The best educators will adapt to AI. In some ways, the changes will be positive. Teachers must move away from mechanical activities or assigning simple summaries. They will find ways to encourage students to think critically and learn that writing is a way of generating ideas, revealing contradictions, and clarifying methodologies.
However, those lessons require that students be willing to sit with the temporary discomfort of not knowing. Students must learn to move forward with faith in their own cognitive abilities as they write and revise their way into clarity. With few exceptions, my students were not willing to enter those uncomfortable spaces or remain there long enough to discover the revelatory power of writing.
A técnica de edição genética CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats ou Conjunto de Repetições Palindrômicas Curtas Regularmente Espaçadas, em tradução para o português) permite alterar o DNA de organismos, como animais, plantas e microrganismos.
Esse sistema foi descoberto em 1993. Alguns anos depois, as cientistas Emanuelle Charpentier e Jennifer Doudna identificaram como ele funciona em outras células, inclusive humanas, e como usá-lo. Por este trabalho, em 2020, receberam o Prêmio Nobel de Química.
Mas, agora, em uma reviravolta surpreendente, a dupla está pedindo o cancelamento de duas de suas próprias patentes seminais, segundo informações da MIT Technology Review.
A decisão pelo cancelamento se deu após o parecer negativo de um conselho europeu de apelações técnicas, que dizia que o pedido de patente da dupla não explicava o CRISPR bem o suficiente para que outros cientistas o utilizassem e não conta como uma invenção adequada.
O órgão decidiu que foi omitido um detalhe-chave no primeiro pedido de patente, fazendo com que nenhum outro médico conseguisse replicar o método - e que, portanto, o CRISPR não seria uma invenção real.
Essa omissão está relacionada a uma característica das moléculas de DNA chamadas “protospacer adjacente motifs” (PAMs).
A era da medicina genômica com Crispr chegou — Foto: Época Negócios Os advogados de Emanuelle Charpentier e Jennifer Doudna informaram que o parecer é errado e injusto e que eles não têm escolha a não ser fazer o cancelamento preventivo. Dessa maneira, evitam que uma avaliação negativa feita por um conselho europeu fique registratada junto com o pedido, e assumem o controle sobre sua invenção.
Sobre a omissão das PAMs, elas complementaram que não havia realmente necessidade de mencionar, por ser algo tão óbvio que “até mesmo estudantes de graduação” saberiam.
“Eles estão tentando evitar a decisão fugindo dela”, comentou Christoph Then, fundador da Testbiotech, organização sem fins lucrativos alemã que está entre as que se opõem às patentes. “Achamos que essas são algumas das primeiras patentes e a base de suas licenças”, acrescentou em entrevista à MIT Technology Review. As cientistas ganhadoras do Nobel ainda compartilham uma patente CRISPR emitida na Europa e uma que está pendente.
Descoberta do século Por volta de uma década, tem ocorrido uma verdadeira batalha pelo controle comercial do CRISPR, considerada a maior descoberta biotecnológica do século. A disputa coloca principalmente Charpentier e Doudna contra Feng Zhang, pesquisador do Broad Institute do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla em inglês) e Universidade de Harvard – ele afirma ter inventado a técnica sozinho.
O cancelamento das patentes, afetará uma ampla rede de empresas de biotecnologia que compraram e venderam direitos na tentativa de obter exclusividade comercial para novos tratamentos médicos ou o que é chamado de “liberdade de operação” (direito de prosseguir com a pesquisa de fatiamento de genes sem ser incomodado por dúvidas sobre quem realmente detém a técnica).
Dentre essas empresas estão a Editas Medicine, aliada ao Broad Institute; a Caribou Biosciences, a Intellia Therapeuticsas, a Charpentier, a CRISPR Therapeutics e a ERS Genomics.
Aplicativos de rastreamento, como Find My e Life360, transformam a relação entre pais e filhos, com gerações mais jovens monitorando a segurança dos mais velhos.
O primeiro Fórum Askwith Education do ano acadêmico de 2024–25 abordou um dos tópicos mais importantes da educação: a rápida ascensão da inteligência artificial generativa (IA) e seu impacto na sala de aula.
Uma multidão lotou o Askwith Hall na quinta-feira enquanto as principais vozes dos mundos empresarial, político e de pesquisa debatiam os impactos e mudanças que os grandes modelos de linguagem (LLMs) e a IA generativa tiveram na educação, à medida que ferramentas como o ChatGPT alteram o cenário de aprendizagem.
O evento começou com breves apresentações de três palestrantes ilustres — Professor Assistente da HGSE Ying Xu , Secretário Assistente de Planejamento, Avaliação e Desenvolvimento de Políticas do Departamento de Educação dos EUA Roberto Rodriguez, e Marta McAlister, que trabalha em Estratégia e Operações no Google for Education. Os três então se juntaram ao Reitor Acadêmico Martin West em uma conversa sobre suas apresentações e, mais tarde, responderam a uma série de perguntas do público.
Embora os três painelistas trabalhem e vejam o desenvolvimento da inteligência artificial por meio de lentes diferentes, eles concordaram em vários pontos sobre sua implementação, incluindo que os professores devem se beneficiar — e não ser substituídos — pela IA; e que as políticas e decisões tomadas agora, enquanto a tecnologia continua a evoluir, impactarão quem terá acesso a essas ferramentas e quanto benefício — ou dano — elas podem causar.
“A IA já está moldando o futuro da educação de maneiras que todos os envolvidos no setor, de formuladores de políticas e líderes a professores, alunos e pais, precisam entender”, disse West, apresentando o painel para iniciar o evento. “As tecnologias não moldam o futuro da educação por si mesmas. Em vez disso, seu impacto é mediado por como os humanos em várias funções respondem.”
Rodriguez apresentou orientações do Departamento de Educação sobre IA , incluindo sua documentação sobre IA e o Futuro do Ensino e Aprendizagem, que foi tornada pública em maio de 2023. McAlister detalhou algumas das ferramentas de IA específicas para educação que o Google está desenvolvendo e como elas podem ajudar a economizar tempo dos professores, ao mesmo tempo em que permitem que os alunos "visualizem seus sonhos" e trabalhem de forma criativa.
Xu, enquanto isso, destacou sua própria pesquisa em aprendizado assistido por IA e coleta de dados, junto com algumas maneiras potenciais pelas quais comunidades de aprendizagem podem ser deixadas para trás se o preconceito e a desigualdade não forem abordados no desenvolvimento dessas ferramentas de IA. Acima de tudo, ela enfatizou que a inteligência artificial é uma ferramenta que, quando usada corretamente, pode trazer mudanças positivas ao cenário educacional.
“Nem a IA nem outras tecnologias podem substituir salas de aula, educadores e as conexões humanas que realmente cultivam o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos”, disse Xu, que se juntou ao corpo docente da Ed School no início deste ano. “A verdadeira questão não é quem ou o que a IA pode substituir, mas como podemos alavancar outros recursos que temos. Então, precisamos encontrar uma maneira de usar a IA para amplificar os benefícios que cada elemento neste ecossistema de aprendizagem traz aos alunos.”
Nos estados, as leis que determinam proibições de uso em sala de aula já existem desde 2004. Na maior parte dos casos, porém, as regras foram aprovadas entre 2008 e 2009 ou entre 2014 e 2016. Alguns dos textos são tão antigos que chegam a citar tecnologias já defasadas e praticamente extintas, como aparelhos de MP3 (um tocador de música digital que foi substituído por aplicativos de streaming) e pagers (aparelhos de trocas de mensagens curtas que funcionam pelo uso de frequências de rádio). Em geral, essas restrições foram criadas pelo Legislativo sem a participação dos governadores e determinam, sem grande detalhamento, que o uso do aparelho é proibido nas salas de aulas de escolas públicas e privadas e, nos demais espaços dos colégios, só pode ser utilizado “no modo silencioso ou para auxílio pedagógico”. Há exceções, como o Estado do Rio, que proibiu apenas para a rede pública estadual, ou Rondônia, que estabeleceu punições como advertências e suspensões aos estudantes que não respeitarem as regras. Em 2011, logo depois da criação da lei em Goiás que proibiu o uso de celulares nas escolas, publicada em 2010, a pesquisadora Lívia Neida visitou diversas escolas de Anápolis para a dissertação “Entre a apropriação e a proibição: trânsito dos dispositivos móveis em escolas públicas”, pela Universidade Estadual de Goiás (UEG). No trabalho de campo, ela constatou o forte apoio dos professores e diretores à medida. Na avaliação de Neida, a dificuldade de implementação dessas leis se deu, entre outros motivos, pela falta de medidas que as escolas pudessem tomar para controlar o uso de celular nas salas de aula. — Isso dificultou os desdobramentos gerenciais e pedagógicos da escola. Mas estamos diante de uma cultura de uso viciante no celular. Uma lei não controla o aspecto cultural — avalia Neiva. — Quando cheguei para o mestrado, defendia o uso do celular na sala de aula. Mas depois de ir ao campo de pesquisa, tive que mudar meu tema. As professoras e diretoras estavam ensandecidas pelos desdobramentos, especialmente comportamentais, do uso do celular na escola e todo mundo era a favor da proibição. Isso lá em 2011. De lá para cá, a adoção do aparelho só aumentou. Em 2020, o Painel TIC Covid-19, pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostrou que o celular era o principal dispositivo usado pelos estudantes brasileiros para acompanhar as aulas e fazer atividades escolares durante o fechamento das escolas por conta da pandemia de coronavírus. Em 2022, o IBGE mostrou que 54% das crianças de 10 a 13 anos possuíam celular para uso pessoal. Na faixa etária de 14 a 19 anos, esse patamar sobe para 84%. De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) de 2022, os estudantes brasileiros entrevistados que relataram as situações de distração ao utilizar aparelhos eletrônicos em todas ou na maioria das aulas de Matemática, por exemplo, somam 45%. O percentual está 15 pontos acima da média observada nas nações da OCDE. Alguns dos problemas práticos para retirar o celular das escolas ficaram expostos em dois episódios com diferença de poucos dias em Várzea Grande, município de 300 mil habitantes no Mato Grosso. Na semana passada, um professor foi agredido pelo tio de um aluno que teve o aparelho recolhido. Na segunda-feira, alunos da Escola Estadual Adalgisa de Barros protestaram no pátio contra a adoção de uma colmeia, móvel com pequenas gavetas para guardar o aparelho dos jovens. — A diretora já tinha avisado que se não parassem de atrapalhar a aula por conta do uso do telefone, iria tomar outras medidas. Os alunos odiaram — conta uma aluna.
O debate sobre o banimento do uso do celular por estudantes em todo o ambiente escolar se baseia em estudos que relacionam a explosão do uso dos smartphones à queda de aprendizado e ao aumento da depressão entre crianças e jovens. O best-seller "A Geração Ansiosa", do psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, elenca uma série deles. A depressão grave entre adolescentes, por exemplo, teve, a partir de 2010, quando os smartphones começaram a se disseminar, um aumento de 145% dentre as meninas e de 161% dentre os meninos nos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa nacional sobre o uso de drogas e saúde mental. Entre estudantes universitários do país, o aumento da ansiedade nesse mesmo período foi de 134%, e o de depressão, de 106%. Houve também 72% de aumento do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), entre outros problemas. Foi também a partir dos anos de disseminação dos smartphones que a automutilação cresceu 188% entre meninos e 48% entre meninos dos EUA. A taxa de suicídio saltou 91% dentre os meninos e 167% dentre as meninas, sempre a partir de 2010. Caixa que guarda celular dos alunos na Escola Castanheiras, em Santana do Parnaíba, na Grande São Paulo; com o banimento do aparelho em ambiente escolar, os estudantes passaram a brincar mais e a praticar esportes no recreio Há dados semelhantes trazidos pelo livro sobre outros países, como Canadá, Inglaterra, Austrália e nos países nórdicos. O autor também cita estudos do Pisa, avaliação internacional organizada pela OCDE, que mostram consequências diretas nas escolas, de um modo global. Uma delas é o aumento da sensação de solidão no ambiente escolar. Após resultados estáveis entre 2000 e 2012, o relato de solidão aumentou dentre todos os países analisados, com exceção da Ásia. Principal avaliação da educação no mundo, realizada com alunos de 15 anos de 81 países, o Pisa também mostrou uma queda nas notas a partir de 2010, inclusive nos países mais ricos e com os melhores desempenhos de educação. O Pisa também constatou o aumento de distração entre os estudantes durante as aulas. Em 2022, mostrou, por exemplo, que, dentre os estudantes brasileiros, 8 em cada 10 disseram que se distraem com celular nas aulas de matemática –a média geral foi de 6 em cada 10. Desde que os smartphones ganharam espaço, houve também, de acordo com pesquisas mencionadas pelo livro de Haidt, um grande aumento do número de crianças e jovens que dormem menos de sete horas por dia, que não se sentem satisfeitos consigo mesmos, que se sentem solitários com frequência, além de uma redução drástica do tempo dedicado a encontros presenciais com amigos. Uma pesquisa da Suécia apontou que o número de estudantes do terceiro ano do ensino médio que acessam pornografia diariamente explodiu também nesse período. No Brasil, levantamento realizado pela Folha mostrou que, pela primeira vez na história, os registros de ansiedade entre crianças e jovens atendidos pelo SUS superam os de adulto. A análise revelou uma explosão de casos a partir de 2013, e especialistas colocam o uso excessivo de celulares entre os motivos desse aumento. Estudos da Fiocruz apontaram que, entre os jovens brasileiros, houve um aumento de 6% ao ano nos suicídios entre 2011 e 2022. Já as taxas de autolesão cresceram 29% ao ano nesse mesmo período, que coincide com a disseminação dos celulares. DIFERENÇA NAS REGRAS DIFICULTA PESQUISAS O banimento completo em escolas ainda é recente e, por isso, são poucas as pesquisas sobre o impacto da proibição. Mas há algumas, além de relatos de educadores, estudantes e famílias de melhora no aprendizado e na convivência escolar. No Reino Unido, um estudo revelou que alunos de escolas que baniram o celular tiveram notas melhores no exame nacional do país, o GCSE (General Certificate of Secondary Education). De um total de 407 escolas que responderam à pesquisa, mais da metade afirmou que proíbe o celular durante todo o horário escolar. Essas instituições, mostrou o levantamento, são mais de duas vezes mais propensas à classificação de "excelentes" pelo órgão de fiscalização de educação do Reino Unido (Ofsted) do que aquelas em que o uso do celular ainda não é vetado. Haidt menciona o caso de uma escola do Colorado, nos EUA, a Mountain Middle School, que decidiu vetar o celular já em 2012, em meio ao grande número de suicídios de adolescente no estado –a mais alta taxa do país. O desempenho dos alunos melhorou e, em alguns anos, a escola se tornou a melhor do estado. O que também dificulta a realização de pesquisas é o fato de as regras serem muito variadas. Há o banimento total, ou seja, em todo o ambiente escolar, nas aulas e nos recreios, e do ensino infantil ao médio. Há banimento em determinadas séries, por exemplo, só no infantil, até o 5º ano, até o 9º etc. Ou então há proibição nas aulas e liberação em todos os intervalos; proibição nas aulas e nos recreios mas com algum momento de liberação. E há a liberação nas aulas para uso pedagógico, liberação nos recreios em determinados dias da semana e a liberação total também.
O Guia para uso consciente de telas e dispositivos digitais por crianças e adolescentes está sob coordenação da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), mas foi construído em conjunto por outras seis pastas além da Secom, como Casa Civil; Ministério da Justiça e Segurança Pública; Educação (MEC); Saúde; Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Direitos Humanos e Cidadania. A expectativa é de que a cartilha seja lançada perto de 12 de outubro, o Dia das Crianças. Ao Estadão, a Secom disse apenas que o documento “deve ser lançado no próximo mês”.
Mesmo com tantas estratégias para colocar a aprendizagem no centro das escolas diante das mudanças sociais, ainda é difícil implementar metodologias ativas de maneira efetiva. Confira as recomendações para gestores.
Os telefones celulares já estão nas mãos de todos. Mas os efeitos do uso para cérebros em formação podem estar relacionados, por exemplo, à queda de aprendizado e ao aumento da depressão, segundo estudos. Então, como conversar com crianças e adolescentes sobre o uso responsável de smartphones? Dúvidas como essa ganham tração não só com a preparação do pacote de medidas do MEC (Ministério da Educação) que inclui o banimento do uso de celulares nas escolas, mas também conforme aumenta o volume de estudos científicos que apontam impactos negativos na vida dos mais jovens. A recomendação de especialistas para o uso controlado é de que pais e educadores estabeleçam pactos com as crianças, partindo do entendimento de que o smartphone, assim como todas as tecnologias, está presente em todos os lugares e já não é possível simplesmente evitá-lo. SEJA ESCUTA Está disposto a conversar com sua criança ou adolescente? Crie um espaço seguro para um diálogo aberto, partindo do lugar de escuta e evitando comunicação violenta. "Me conta o que você faz nesse celular, que não larga dele por nada? O que é de tão legal? Me ensina tal coisa?" são questões que podem ser boas formas de mostrar disposição para ouvi-los, segundo Cláudia Rossi, consultora em tecnologia educacional. O interesse no que a criança está fazendo não deve partir de um lugar de controle, no entanto. A ideia é conduzir a conversa entendendo o que é importante para ela. "Entendendo o seu público, você consegue fazer um canal de conversa que faça sentido. Então, você vai ajustando para ter um caminho, uma porta de entrada", acrescenta. EDUQUE SOBRE OS RISCOS Crianças com menos de dois anos devem evitar o uso de telas, segundo estudos e especialistas. Alguns autores defendem que o smartphone seja evitado até a adolescência, quando o cérebro já passou por uma fase determinante do desenvolvimento. Até lá, um substituto seria o "dumbphone", que não tem acesso à internet Mas, caso a criança já tenha acesso às telas, uma possibilidade é conversar abertamente sobre os riscos. "As crianças, apesar de serem pequenas, ouvem quando falamos que é perigoso. Quando elas veem uma imagem de autoridade, um médico falando ou os pais mostrando vídeo de alguém falando sobre os riscos, elas ouvem e compreendem a discussão", afirma Rodrigo Machado, psiquiatra do Ambulatório de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo). A partir daí, é possível fazer alguns combinados. Assim como uma família tem regras para a hora de comer, por exemplo, e sobre o que é permitido ou não em casa, os responsáveis devem estabelecer regras sobre o uso de smartphones. "Numa casa, por exemplo, as crianças sabem que as bebidas alcoólicas não são para elas, certo? Então se pactua: isso é para você, isso não é. Nesse espaço, a gente brinca, nesse, a gente não brinca. Do mesmo jeito, é possível dizer, por exemplo: na minha casa ninguém usa celular na refeição. Isso faz parte do nosso pacto", afirma Zilda Kessel, consultora em tecnologias educacionais e doutora em Educação e Novas Tecnologias. É ainda importante considerar que o exemplo, muitas vezes, fala mais alto do que as próprias palavras. Pais podem combinar de deixar o celular de lado em determinados momentos junto com os filhos. "Se os pais estão usando os seus celulares em situações que deveriam ser coletivas, eles estão contando para as crianças que isso é possível e aceitável", acrescenta. CONVERSE COM OUTROS CUIDADORES O atrito na comunicação entre pais e professores também pode gerar problemas sobre qual comando a criança e o adolescente deve seguir. Isso acontece quando as regras da casa não são as mesmas aplicadas no ambiente acadêmico. Por isso, diz Machado, é determinante ter um padrão de equilíbrio na forma com que as orientações são passadas e uma comunicação entre pais e educadores para que essas orientações sejam uniformes. FISCALIZE Por fim, é possível fazer o monitoramento do uso do celular. Nas próprias configurações do aparelho é os responsáveis conseguem checar o tempo de uso dos aplicativos e, a partir daí, testar novos combinados. Para evitar um embate com os filhos, Rossi recomenda preestabelecer horários para que a família passe reunida exercendo alguma atividade como assistir um filme ou série em vez de usar o smartphone. "Você vai controlando, sem ter esse jeito punitivo, fiscalizador. Porque todo mundo acha um jeito para burlar regras quando é uma forma de punição, sem ser algo acordado", diz a especialista. Caso a criança e o adolescente já estejam com comportamento repetitivo, é importante que pais e professores saibam identificar precocemente sinais de vício e procurem profissionais especializados para a correta orientação, diz Machado.
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