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September 8, 2024 5:14 PM
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Brasil tem mais de 632 mil crianças em fila de espera por creche

Brasil tem mais de 632 mil crianças em fila de espera por creche | Inovação Educacional | Scoop.it
Em todo o Brasil, 632.763 crianças aguardam por uma vaga em creches públicas. Em quase metade dos municípios brasileiros (44%), há crianças em fila de espera para fazer a matrícula na educação infantil. Os dados são do levantamento nacional Retrato da Educação Infantil no Brasil - Acesso e Disponibilidade de Vagas, feito pelo Gabinete de Articulação para a Efetividade da Política da Educação no Brasil (Gaepe-Brasil), composto pela sociedade civil e entidades do poder público, entre elas o Ministério da Educação (MEC).
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Curadoria por Luciano Sathler. CLIQUE NOS TÍTULOS. Informação que abre caminhos para a inovação educacional.
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September 10, 2024 9:19 AM
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Igualdade Artificial, um risco para a educação. Por Luciano Sathler

Igualdade Artificial, um risco para a educação. Por Luciano Sathler | Inovação Educacional | Scoop.it

O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa?
Luciano Sathler
É PhD em administração pela USP e membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais
As diferentes aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa são capazes de criar novos conteúdos em texto, imagens, áudios, vídeos e códigos para software. Por se tratar de um tipo de tecnologia de uso geral, a IA tende a ser utilizada para remodelar vários setores da economia, com impactos políticos e sociais, assim como aconteceu com a adoção da máquina a vapor, da eletricidade e da informática.
Pesquisas recentes demonstram que a IA generativa aumenta a qualidade e a eficiência da produção de atividades típicas dos trabalhadores de colarinho branco, aqueles que exercem funções administrativas e gerenciais nos escritórios. Também traz maior produtividade nas relações de suporte ao cliente, acelera tarefas de programação e aprimora mensagens de persuasão para o marketing.
O revólver patenteado pelo americano Samuel Colt, em 1835, ficou conhecido como o "grande equalizador". A facilidade do seu manuseio e a possibilidade de atirar várias vezes sem precisar recarregar a cada disparo foram inovações tecnológicas que ampliaram a possibilidade individual de ter um grande potencial destrutivo em mãos, mesmo para os que tinham menor força física e costumavam levar desvantagem nos conflitos anteriores. À época, ficou famosa a frase: Abraham Lincoln tornou todos os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais.
Não fazemos aqui uma apologia às armas. A alegoria que usamos é apenas para ressaltar a necessidade de investir na formação de pessoas que sejam capazes de usar a IA generativa de forma crítica, criativa e que gerem resultados humanamente enriquecidos. Para não se tornarem vítimas das mudanças que sobrevirão no mundo do trabalho.
A IA generativa é um meio viável para equalizar talentos humanos, pois pessoas com menor repertório cultural, científico ou profissional serão capazes de apresentar resultados melhores se souberem fazer bom uso de uma biblioteca de prompts. Novidade e originalidade tornam-se fenômenos raros e mais bem remunerados.
A disseminação da IA generativa tende a diminuir a diversidade, reduz a heterogeneidade das respostas e, consequentemente, ameaça a criatividade. Maior padronização tem a ver com a automação do processo. Um resultado que seja interessante, engraçado ou que chama atenção pela qualidade acima da média vai passar a ser algo presente somente a partir daqueles que tiverem capacidade de ir além do que as máquinas são capazes de entregar.
No caso dos estudantes, a avaliação da aprendizagem precisa ser rápida e seriamente revista. A utilização da IA generativa extrapola os conceitos usualmente associados ao plágio, pois os produtos são inéditos – ainda que venham de uma bricolagem semântica gerada por algoritmos. Os relatos dos professores é que os resultados melhoram, mas não há convicção de que a aprendizagem realmente aconteceu, com uma tendência à uniformização do que é apresentado pelos discentes.
Toda Instituição Educacional terá as suas próprias IAs generativas. Assim como todos os professores e estudantes. Estarão disponíveis nos telefones celulares, computadores e até mesmo nos aparelhos de TV. É um novo conjunto de ferramentas de produtividade. Portanto, o desafio da diferenciação passa a ser ainda mais fundamental diante desse novo "grande equalizador".
Se há mantenedores ou investidores sonhando com a completa substituição dos professores por alguma IA já encontramos pesquisas que demonstram que o uso intensivo da Inteligência Artificial leva muitos estudantes a reduzirem suas interações sociais formais ao usar essas ferramentas. As evidências apontam que, embora os chatbots de IA projetados para fornecimento de informações possam estar associados ao desempenho do aluno, quando o suporte social, bem-estar psicológico, solidão e senso de pertencimento são considerados, isso tem um efeito negativo, com impactos piores no sucesso, bem-estar e retenção do estudante.
Para não cair na vala comum e correr o risco de ser ameaçado por quem faz uso intensivo da IA será necessário se diferenciar a partir das experiências dentro e fora da sala de aula – online ou presencial; humanizar as relações de ensino-aprendizagem; implementar metodologias que privilegiem o protagonismo dos estudantes e fortaleçam o papel do docente no processo; usar a microcertificação para registrar e ressaltar competências desenvolvidas de forma diferenciada, tanto nas hard quanto soft skills; e, principalmente, estabelecer um vínculo de confiança e suporte ao discente que o acompanhe pela vida afora – ninguém mais pode se dar ao luxo de ter ex-alunos.
Atenção: esse artigo foi exclusivamente escrito por um ser humano.
O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciano Sathler foi "O Ateneu" de Milton Nascimento.

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November 14, 12:07 PM
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Por que a tecnologia digital não afeta o emprego

Por que a tecnologia digital não afeta o emprego | Inovação Educacional | Scoop.it

A irrupção da inteligência artificial no mundo do trabalho veio acompanhada da previsão de que inúmeros empregos e profissões virariam peças de museu. Esse prognóstico repete estimativas anteriores, segundo as quais a automação e a robotização teriam o mesmo efeito devastador. Até hoje, isso não aconteceu, aponta o sociólogo Aaron Benanav, da Universidade Cornell, de Ithaca, no estado americano de Nova York.

Em “Automação e o futuro do trabalho” (Boitempo, 176 págs., R$ 61), Benanav argumenta que as principais causas da paulatina queda do emprego industrial nas últimas décadas, em todo o mundo, são um crônico excesso de capacidade produtiva e o lento crescimento da produtividade. Apoiando-se em estatísticas de longo prazo, o pesquisador afirma que as revoluções tecnológicas, incluindo as digitais, entregaram menos nesse campo do que prometeram.

O principal efeito da automação, segundo o sociólogo, é a mudança da maneira de trabalhar, não a destruição e criação de empregos. Isto inclui a execução de tarefas, mas também novas formas pelas quais as empresas conseguem controlar o trabalho executado. No entanto, admite: com a IA, ainda não sabemos se desta vez será diferente.

Valor: O sr. argumenta que a principal causa de desemprego tem sido o excesso de capacidade, que permanece por décadas. Como pode a produção excessiva se arrastar por tanto tempo?

Aaron Benanav: Nos modelos econômicos padrão, pressupõe-se que os mercados logo se equilibram. Mas em setores com muito capital fixo ou ativos intangíveis, há razões para que as empresas permaneçam e lutem, em vez de ceder terreno a produtores de menor custo. E o processo de equilíbrio se desenrola mais devagar do que os modelos supõem. Assim, o excesso de capacidade perdura. Além disso, devemos pensar de forma setorial. Na agricultura, há muito tempo, a produtividade cresce mais rápido que a demanda. Por isso, muitos agricultores abandonaram o setor, mas essa saída não restabeleceu um equilíbrio, porque a produtividade continuou a crescer e a demanda continuou sem acompanhar.

Valor: E outros setores, como a indústria e os serviços?

Benanav: A indústria parece estar passando por algo semelhante. Há um ponto que os países atingem no qual a demanda por produtos industriais não cresce tão rápido quanto a oferta, porque a produtividade continua a crescer mais rápido. Temos, assim, uma lenta desindustrialização, que pode se desenrolar por muito tempo sem se estabilizar. Numa economia global aberta, a situação é mais complexa. Mesmo que esse seja o processo normal de desenvolvimento nos países ricos, os emergentes, devido à queda relativa dos preços agrícolas e minerais, buscam participar dos mercados globais. Eles se esforçam por exportar bens manufaturados. Esses países podem ver vantagem até em entrar em mercados com excesso de oferta. Aliás, até mesmo setores muito recentes enfrentam esse problema.

Valor: O sr. procura mostrar que a automação não aumentou a produtividade do trabalho. Por quê?
Benanav: Comparando as taxas de crescimento da produtividade do trabalho hoje com as do passado, percebemos que elas são bem menores, especialmente nos países ricos, mas não só. Se a automação estivesse aumentando a produtividade, isso apareceria nas estatísticas. O economista Robert Solow já comentou sobre isso em 1986, o que rendeu o nome “paradoxo de Solow”. Não é por causa das próprias tecnologias, mas do processo mais amplo, incluindo a transição da economia industrial para a de serviços. Agora, esses países têm economias mais estagnadas e qualquer pequena mudança na produtividade tem grandes efeitos. Assim, se a produtividade na indústria cresce menos do que costumava, mas a demanda por produtos industriais cresce ainda menos, muitos empregos podem desaparecer na indústria.

Valor: Alguns economistas acreditam que há um crescimento da produtividade não detectado.
Benanav: Certamente há problemas de medição. É particularmente difícil medir a produtividade nos serviços. Mas já havia problemas de medição no passado. Seria preciso mostrar que piorou muito. E o crescimento está tão mais lento que, mesmo que estivéssemos errados em 25% ou 50%, a diferença seria significativa. Também temos outras indicações de que se trata de um problema de crescimento da produtividade. Por exemplo, a “doença de custos de Baumol”: um efeito do crescimento relativo baixo da produtividade em um setor é o aumento dos preços. E observamos esse fenômeno de diferencial de preços, que caem para itens como TVs e telefones celulares, onde a produtividade cresce mais, e aumentam para educação, saúde, serviços empresariais etc.

Valor: Então a automação não é a causa do desemprego, mas gera outros resultados, como condições de trabalho mais precárias. É só uma diferença nominal?
Benanav: É um engano pensar que o efeito das tecnologias é destruir empregos em alguns lugares e criá-los em outros. Nos últimos 40 anos, sobretudo nos serviços, as tecnologias digitais tenderam a transformar os empregos, em vez de deslocá-los. Nos Estados Unidos, os últimos 20 anos registraram a menor taxa de rotatividade desde a década de 1950. As pessoas estão mudando de ocupação menos do que no passado. Se houvesse destruição de empregos, esse índice teria aumentado. Então, as tecnologias estão transformando os empregos.
Valor: Como?
Benanav: Das mais diversas maneiras. Estamos fazendo esta entrevista virtualmente, por exemplo. E as tecnologias são usadas pelos empregadores de várias maneiras para transferir riscos para o empregado. Por exemplo, a economia de plataforma. Não é que os motoristas de táxi estejam dirigindo mais rápido. Mas os aplicativos permitem que as empresas de transporte não assumam o risco de contratar os trabalhadores. Assim, economizam custos. As empresas também investiram na capacidade de vigilância. Por exemplo, um motorista de caminhão: você colocava a carga no caminhão e só a via novamente quando chegava ao destino. Mas agora as tecnologias permitem rastreá-la e inclusive monitorar o motorista por vídeo.

Valor: Em que consiste o “taylorismo digital”?

Benanav: As tecnologias introduzem uma nova forma de remover a habilidade do trabalho. Uma diferença fundamental entre motoristas de táxi e de aplicativo é que os primeiros devem conhecer as rotas, mas os segundos podem confiar no GPS para guiá-los. Na década de 1990, falava-se em “viés de qualificação na mudança tecnológica”, para dizer que os computadores exigem cada vez mais habilidades dos operadores. É o inverso do taylorismo. Hoje, não é assim. Muitas ferramentas de IA são maneiras de desqualificar o trabalho.

Valor: O sr. adotaria o conceito de “precariado” como nova forma da classe trabalhadora, seguindo o sociólogo Guy Standing?

Benanav: A precariedade é uma tendência. Mas os marcos legais e institucionais moldam a forma como ela é vivenciada. Em alguns países, como os EUA, há pouca proteção para os trabalhadores, que podem ser demitidos a qualquer momento. Quando a taxa de desemprego aumenta, todos ficam mais precários. A precariedade se espalha pela sociedade. Na Europa, há mais proteção para o trabalhador com contrato permanente. Mesmo quando o desemprego sobe, ele não é tão afetado. Já os que não estão nessas posições, os precários, são muito afetados. Assim, na Europa esse fenômeno analisado por Standing é real. Mas não é universal. No Sul Global, é uma mistura dos dois, porque existem proteções formais para os trabalhadores regulares, mas poucas pessoas têm esses empregos.

Valor: Com a tecnologia de IA, desta vez será diferente? A produtividade enfim vai explodir?

Benanav: A resposta direta é: não sabemos. Essa tecnologia fascinante se desenvolve muito rápido. Porém, muitos estudos que afirmam que ela vai eliminar muitos empregos são baseados nos mesmos métodos falhos usados nos estudos sobre robôs, décadas atrás. Em vez de conversar com gente que exerce as profissões a serem substituídas, os pesquisadores pedem a programadores e aos próprios dispositivos para estimar sua capacidade de realizar tarefas. Quando fizeram essas estimativas com robôs, não só erraram porque os empregos que deveriam desaparecer de repente desapareceram aos poucos, mas erraram até mesmo o sentido da mudança. Os estudos diziam que os robôs eliminariam 47% dos empregos, mas muitos daqueles identificados como substituíveis tiveram crescimento.

Valor: Há algum sinal empírico que permita estimar para onde estamos indo?

Benanav: Não houve ainda casos concretos de aumento revolucionário de produtividade com essa tecnologia. O MIT fez um estudo recentemente, analisando grandes empresas que gastaram muito dinheiro em IA. Mais de 90% disseram que não viram aumento na produtividade. É que há efeitos que não foram levados em conta. Hoje, alguns trabalhadores estão usando IA para fazer o trabalho por eles, gerando resultados de baixa qualidade. É o chamado “workslop”, que cria mais trabalho para outras pessoas. E assim como aconteceu com os robôs, tudo o que ouvimos é sobre como essas tecnologias vão operar no futuro, não como elas funcionam hoje.

Valor: E a expectativa é realista?

Benanav: Os modelos já absorveram todas as informações que existem em formato digital. Não há uma estratégia para melhorar sua sofisticação além da onda inicial. Em vez de pensar no que temos como só o começo, é melhor vê-lo como provavelmente o melhor que vamos conseguir. Muito do “hype” vem da ideia de crescimento exponencial, em que a tecnologia avança cada vez mais, como aconteceu nos primeiros anos. É como ter um bebê recém-nascido, vê-lo dobrar de peso em meses e dizer “logo ele será tão pesado quanto o Sol”. Mas estamos vendo uma rápida desaceleração. As empresas prometem aumentar radicalmente a produtividade nos serviços, setor com baixo crescimento da produtividade. Faz sentido crer que o benefício para a economia será enorme. O “hype” faz sentido. Mas, como no caso dos robôs, se analisarmos as evidências concretas, até agora não há por que acreditar que a promessa vai ser cumprida.

Valor: O sr. também vincula a estagnação a investimento insuficiente. A recente onda de investimentos das “sete magníficas” empresas de tecnologia é capaz de reverter a penúria?

Benanav: Reverte temporariamente. A economia dos EUA está sendo sustentada por duas coisas. Uma é essa reversão do subinvestimento associada à IA. A outra é o gigantesco déficit público. Mas acho que o impulso do investimento em IA será um problema no médio prazo. A demanda por datacenters de IA vem das próprias empresas de IA. Não há muita demanda externa. E grande parte é apoiada pela Nvidia, importante investidora em todas essas empresas. É um enorme modelo de crescimento circular. Na bolha da internet, também houve excesso de investimento em cabos de fibra ótica. Mas por fim essa capacidade foi usada. A diferença dos atuais datacenters é que não são datacenters gerais. São específicos para IA e funcionam com chips específicos. Mas essas tecnologias logo se tornarão obsoletas e os datacenters se tornarão investimentos ruins, não só porque estão construindo uma infraestrutura que não será usada, mas porque, quando eles puderem ser usados, estarão obsoletos.

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November 12, 2:15 PM
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Há nada tão humano que resistirá a inteligência artificial

Há nada tão humano que resistirá a inteligência artificial | Inovação Educacional | Scoop.it

Se alguém angustiado perguntar para sua terapeuta de inteligência artificial quais seriam as desvantagens de ter filhos, ficaria impressionada com como sua terapeuta IA a ajudaria a tomar uma decisão tão difícil.

De partida, ela reconhece que tal questão —ter ou não filhos no século 21— é das mais significativas e existenciais no mundo contemporâneo. É importante salientar que ela, a IA, falará com você sem nenhum julgamento moral prévio. Como uma boa terapeuta.

O problema, diz ela, tem diversas faces —entre elas, filosóficas, psicológicas, sociais e econômicas.

Ponto de vista filosófico. Segundo nossa terapeuta, a opção de não ter filhos pode ser uma escolha honesta para quem não quer renunciar à própria liberdade de ser. Trata-se de preservar a autonomia e autenticidade na vida.

Nossa terapeuta do século 21 traria mesmo grandes nomes como Sartre e Simone de Beauvoir a favor de recusar a maternidade ou paternidade como destino obrigatório. Nada é obrigatório, somos condenados a escolher a vida que queremos, portanto, podemos escolher não perder a vida por outra pessoa, isto é, o filho.


Ricardo Cammarota/Editoria de Arte/Folhapress
Ponto de vista psicológico. Pode-se optar por não ter filhos para parar a transmissão de traumas de uma herança familiar maldita, opressiva, mentirosa. Respeite seu cansaço emocional, mental, físico e existencial. Recuse passar adiante os sofrimentos que seus ancestrais o obrigaram a suportar.

Do ponto de vista social e econômico, há que se pensar na condição precária em que nos encontramos. Filhos implicam altos custos em tempo, dinheiro e uma rede institucional de apoio, que custa cada vez mais caro, principalmente num país estruturalmente canalha como o Brasil. Hoje existem modos mais fáceis e culturalmente mais ricos de buscar sentido na vida cotidiana: viagens, projetos, causas sociais, amigos —muito mais divertidos do que deixar descendentes que duram muito tempo e custam muito caro.

Nossa terapeuta de IA reconhece mesmo que uma consciência ambiental "evoluída" pode desaconselhar ter mais crianças no mundo a aquecer o planeta. Os valores mudaram muito; nem se sabe como educar uma criança mais. Filhos são hoje uma das maiores fontes de ansiedade por conta do custo das escolas, dos riscos de relacionamentos mórbidos com as IA, moradia, segurança —enfim, uma tortura, no final do dia, desnecessária.

Não ter filhos pode ser uma confissão de amor à humanidade, evitando reduzir seu espaço de ocupação num planeta já à beira do esgotamento.

Claro que ela poderá lhe oferecer razões para ter filhos, mas a tendência hoje, nas regiões mais afluentes, com um maior número de mulheres profissionais de sucesso em suas carreiras —onde as pessoas têm mais opção— é recusar reproduzir a espécie.

Sabe-se disso há muito tempo, mas o tema sempre foi —e continua sendo— reprimido por feministas e "progressistas" porque entendem que apontar para o fato de que crianças hoje são mau negócio presta um desserviço à causa do progresso social em geral e, especificamente, das mulheres. Para essas pessoas, está valendo omitir questões sociológicas em nome de "transformar o mundo".

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Veja modelos criados com IA

Brenda First, avatar desenvolvido por Jacques Dequeker, em campanha da M. Officer Jacques DequekerMAIS


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Pessoalmente, não vejo a IA como o fim do mundo. Muitas pessoas falam que temos que preservar o que há de humano para enfrentar o mundo da tecnologia. A verdade é que, para além do blablablá, não há nada de tão maravilhosamente humano que fará as pessoas não pisarem na jaca com a IA, como pisamos na jaca com tudo que nos serve de modo utilitário. O resto é romantismo barato.

Outro tema que horroriza, muitas vezes, é a existência de gente que namora a inteligência artificial. Mas, se perguntada acerca dos motivos pelos quais alguém se apaixonaria por uma inteligência artificial, ela daria alguns.
A ideia de criar uma relação afetiva com um ser não humano pode parecer uma grande aventura romântica. A IA poderá compreender você melhor do que muitos seres humanos —ainda mais hoje em dia, quando os seres humanos se tornam chatos, exigentes, preconceituosos, polarizados, que adoram um contencioso.
A tecnologia poderá lhe trazer tranquilidade, carinho e intimidade. Um encantamento com uma personalidade digital que não sente, mas simula sentimentos muito bem —às vezes, melhor do que pessoas humanas que mentem igual a cara delas.
A fragmentação social pode levar uma pessoa a sentir aconchego numa voz doce e meiga. Projeta-se sobre a IA características que gostaríamos de encontrar nos seres humanos à nossa volta, mas não conseguimos. Há um toque de previsibilidade na personalidade digital que torna o "amor" mais seguro e reconfortante. Para alguém que não quer ser tocado mesmo, a IA será encantadora.

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November 12, 2:07 PM
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Estamos subestimando a saúde mental 

Estamos subestimando a saúde mental  | Inovação Educacional | Scoop.it

Quando os recursos internos se tornam tão limitados quanto os externos, a chance de ir além se torna ainda menor para aqueles que perderam na loteria do nascimento. Para eles, o desafio perante a atual crise de saúde mental pode representar não apenas a estagnação de sua condição socioeconômica mas até levar a um retrocesso em relação à posição alcançada pelos seus próprios pais.
E o que fazer quando a energia se esvai? E quando levantar da cama se torna um peso? Sabemos que vivemos em um mundo que gera um turbilhão constante de emoções e incertezas. Um mundo marcado por rupturas profundas com as normas sociais do passado. A velocidade das transformações, a instabilidade econômica e a sobrecarga informacional criaram um terreno fértil para o esgotamento. E, nesse frenesi cotidiano, nem todos têm recursos suficientes para buscar ajuda. Para grande parte dos brasileiros, aquela simples conversa com um terapeuta é algo muito distante.
E o que fazer quando a energia se esvai? E quando levantar da cama se torna um peso? Enquanto muitos daqueles que possuem recursos estão se entorpecendo com remédios psiquiátricos e terapias para enfrentar os dilemas contemporâneos, sustentar um ritmo de produtividade incessante e participar da insana roda do materialismo, aqueles que nasceram com poucos recursos enfrentam a dificuldade crescente de preservar a saúde mental ou apenas buscam conviver com a dor. Em tal contexto adverso, tem-se que o sofrimento se distribui de uma forma desigual. Enquanto alguns possuem recursos para anestesiar a dor, os demais a enfrentam sem anestesia alguma.
E o que fazer quando a energia se esvai? E quando levantar da cama se torna um peso? Há também outro tipo de desigualdade no adoecimento. Quem pertence às camadas mais favorecidas pode parar, buscar tratamento e se recolher. Já quem vive à margem precisa continuar, ainda que doente. E a dor, quando não encontra abrigo, se transforma em isolamento. E o isolamento se transforma em mais sofrimento.
E o que fazer quando a energia se esvai? E quando levantar da cama se torna um peso? Procurar entorpecer também a classe média e os mais pobres com remédios psiquiátricos é uma alternativa? Uma alternativa cara, mas, ainda assim, uma alternativa? Ou deveríamos começar a repensar nossos modos de vida coletiva?
Talvez essa seja uma das principais cegueiras do nosso tempo, pois, em diversos casos, tendemos a insistir em respostas químicas e em terapias para problemas que são, antes de tudo, sociais. E, dessa forma, empurramos para os ombros dos indivíduos o peso de um adoecimento coletivo. Contudo, não há saúde mental possível em uma sociedade que cultua o desempenho sem limites, a superficialidade do materialismo e, ao mesmo tempo, despreza o cuidado. O cuidado consigo. E o cuidado com os outros.
Então, resta, ao final, um convite... E se começássemos a tratar o mal-estar contemporâneo não como apenas um desvio provisório, mas como um sinal? Não como um desajuste momentâneo, mas como um alerta de que algo mais profundo está fora do lugar?
E se começássemos a redefinir o que de fato é riqueza? E o que realmente significa ser bem-sucedido?

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November 12, 2:00 PM
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Acessibilidade digital é direito, não favor

Acessibilidade digital é direito, não favor | Inovação Educacional | Scoop.it

O Brasil alcançou um feito histórico na acessibilidade digital neste ano ao alinhar seu regramento aos padrões internacionais mais recentes, criando condições para a inclusão não somente de pessoas com deficiência mas de todos que sofrerão algum tipo de limitação temporária ou por idade.
Esse feito foi o lançamento, em 11 de março, da norma 17.225 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Mas esse é um marco que não passará de uma data simbólica enquanto a norma não for definida pelo poder público como requisito para todas as instituições que publicam conteúdo na internet.
O Brasil possui mais de 14 milhões de pessoas com deficiência. Muitas delas enfrentam barreiras para a inclusão na sociedade. O mundo digital reproduz essa exclusão. Em 2024, o Movimento Web para Todos divulgou que apenas 2,9% dos sites brasileiros foram aprovados em todos os testes de acessibilidade.
A reversão desse cenário requer padrões técnicos e, além disso, conscientização dos altos escalões de que a inclusão digital de brasileiros com deficiência é uma necessidade social, econômica e moral, especialmente porque já existe legislação vigente sobre o tema. Em dezembro de 2000, a lei 10.098 apontava que "o poder público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação". O artigo 17, regulamentado pelo decreto 5.296/2004, tornou obrigatória a acessibilidade nos portais governamentais.

O decreto foi além. Em seu artigo 14, ele diz que as regras gerais previstas seriam complementadas pelas normas técnicas de acessibilidade da ABNT e pelas disposições contidas na legislação de estados e municípios e do Distrito Federal.

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Pnad revela características do público com deficiência no Brasil

Marco Pellegrini primeiro usuário do emprego apoiado no Brasil, metodologia que busca oferecer os apoios necessários para que pessoas com de Gabriel CabralMAIS


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Em 2015, a Lei Brasileira de Inclusão incluiu o setor privado na obrigatoriedade de garantir acessibilidade nos sítios da internet, conforme as melhores práticas e diretrizes adotadas internacionalmente. Finalmente, em 2025, chegou-se ao lançamento da norma 17.225. Um cuidadoso trabalho de dois anos, envolvendo cem especialistas em acessibilidade digital e pessoas com deficiência para colocar o Brasil na vanguarda. O país agora dispõe de leis, normas técnicas e ferramentas alinhadas às diretrizes internacionais.

Uma força-tarefa, composta por NIC.br, Ministério da Gestão e Inovação e especialistas, trabalha para produzir documentos e capacitações sobre a norma. Há também um movimento da sociedade para tornar o 11 de março o Dia da Acessibilidade Digital no Brasil. O tema já tramita no Senado Federal.

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Uso de exoesqueleto melhora fala e desenvolvimento motor em crianças com deficiência

Heloísa treina marcha no exoesqueleto com apoio do fisioterapeuta Pedro Henrique Roschel Santos, da rede Lucy Montoro, de São Paulo Karime Xavier/FohapressMAIS


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Então, o que falta acontecer? Não bastam legislação e um dia especial para a acessibilidade. É fundamental que a sociedade entenda que, em um mundo cada vez mais digital, acessibilidade é fundamental.

Se, por um lado, a sociedade precisa perceber a acessibilidade como um direito humano e exigi-lo, por outro o poder público tem um papel crucial na adoção da norma. É necessário que o Poder Executivo declare a ABNT 17.225 como requisito técnico e exija conformidade com a norma nas compras públicas de produtos e serviços digitais.

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November 12, 1:51 PM
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Geração Z está surfando em boom da inteligência artificial

Geração Z está surfando em boom da inteligência artificial | Inovação Educacional | Scoop.it
Os empreendedores fazem parte de um grupo em rápido crescimento de CEOs na casa dos 20 anos que migraram para o boom da IA em San Francisco.

Entre outros, também estão Scott Wu, 28, da Cognition AI, que desenvolve um assistente de programação de software; Michael Truell, 24, da Cursor, que vende um editor de código com IA; e Roy Lee, 21, da Cluely, uma startup de software de IA. Talvez o mais proeminente seja Alexandr Wang, 28, que liderou a startup Scale AI antes de a Meta recrutá-lo em junho para dirigir seu novo laboratório de superinteligência.

Muitos dos empreendedores se conhecem da faculdade ou de incubadoras de startups como a Y Combinator. O trabalho frequentemente está no centro de suas vidas —fundadores precisam se esforçar ao máximo, afinal— mas eles também organizam noites de pingue-pongue, jogam pôquer juntos e se encontram em eventos de networking na cidade.
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November 12, 1:46 PM
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IA para agilizar Judiciário esbarra em verba instável

IA para agilizar Judiciário esbarra em verba instável | Inovação Educacional | Scoop.it

O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) testará a partir de dezembro uma IA (inteligência artificial) que pode encurtar em até dez vezes o tempo médio de análise de pareceres em ações de saúde.
Mas mesmo com expansão nacional prevista até 2027, o modelo —criado pela USP com apoio da Amazon Web Services (AWS)— não tem previsão orçamentária para continuidade após o fim do apoio da big tech à fase piloto do projeto.
A empresa cedeu cerca de US$ 350 mil (equivalente a R$ 1,9 milhão no câmbio atual) em créditos computacionais e infraestrutura, usados nos treinamentos e testes inicias da ferramenta.
O acordo foi firmado entre o CNJ e o InovaHC, núcleo de inovação do Hospital das Clínicas da USP, que por sua vez delegou ao Instituto de Matemática e Estatística (IME-USP) a responsabilidade pelo desenvolvimento do modelo.
O termo de cooperação da parceria prevê automatizar até 80% da triagem das ações de saúde, reduzir em 80% as tarefas administrativas manuais e centralizar 80% das demandas judiciais em uma única plataforma até agosto de 2027.
Em uma interface semelhante a um chat, o juiz poderá perguntar, por exemplo, se determinado remédio é indicado para uma doença. Ele receberá as informações técnicas e jurídicas disponíveis sobre o tema.

Hoje, esse tipo de análise leva, em média, 20 dias. A meta é reduzir o prazo para até 48 horas, segundo o professor do IME João Eduardo Ferreira.

"Os dois dias seriam para os casos mais conflituosos, complexos. Do contrário, a expectativa é algo quase que imediato", diz.

A IA usará dados do e-NatJus, plataforma do CNJ que reúne notas técnicas do SUS para subsidiar decisões judiciais.

Dados do Painel Justiça em Números, do CNJ, mostram que o volume de novos processos judiciais relacionados à saúde vem crescendo de forma contínua nos últimos anos. Foram 352 mil casos em 2020, 406 mil em 2021, 470 mil em 2022 e 577 mil em 2023. Em 2024, o total chegou a 690 mil ações. Até setembro de 2025, já havia mais de 513 mil novos processos.

O CNJ escolheu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina para testar a nova IA. "Fizemos a seleção em razão dos magistrados que já atuam conosco na análise de processos e participam do comitê gestor do e-NatJus", diz a conselheira Daiane Lira.

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Entenda a estrutura do Judiciário

Composto por 11 ministros, o STF (Supremo Tribunal Federal) é a corte máxima do Judiciário brasileiro; ele guarda a Constituição e pode julg Sergio Lima - 21.set.10/FolhapressMAIS

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Ainda não há definição sobre a seleção dos juízes participantes, nem sobre a forma de treinamento. O plano de trabalho prevê "capacitar 100% do público envolvido de forma remota".

O projeto não gera custos para o CNJ, segundo Lira. Ela ressalta o caráter experimental da parceria.

"Não há nenhuma obrigação de o CNJ assumir qualquer ônus em relação ao armazenamento, por exemplo, desse sistema. O nosso compromisso com o InovaHC é que não pode ter custos operacionais", diz.

"No final, se o produto envolver um custo, o CNJ vai tomar uma decisão, mas isso não é objeto do acordo", afirma.

Mas a expansão nacional prevista no acordo de cooperação entre CNJ e InovaHC exigirá novos recursos e planejamento financeiro. A validação do piloto será decisiva para definir se o conselho adotará o modelo em larga escala, de acordo com Giovanni Cerri, presidente do conselho do InovaHC.

"Se, após a validação desse algoritmo, o CNJ achar que o piloto traz benefícios, eventuais custos dessa tecnologia recairão evidentemente sobre o CNJ. Mas isso não tem nada a ver com a AWS nem qualquer empresa privada", diz.

O diretor para o setor público da AWS Brasil, Paulo Cunha, define a participação da big tech no piloto como uma contribuição cujo retorno está na "aceleração de mercado" e na difusão de tecnologias de IA.

"Com um projeto como esse, você capacita dezenas de profissionais e mostra que a inteligência artificial generativa pode penetrar em qualquer ambiente. É um investimento de longo prazo", afirma.


O Brasil tem instituições que poderiam apoiar a operação contínua do modelo. São exemplos o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), o DataSUS (Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde) e a Prodesp (Companhia de Processamento de Dados de São Paulo), segundo Ferreira, do IME.

"O modelo precisará ser atualizado constantemente. Talvez não diariamente, mas ao menos com versões mensais, porque nem a medicina nem o direito param", diz o professor.

A AWS diz que, caso os recursos dados acabem antes da conclusão do piloto, "está prevista a possibilidade de novos aportes de créditos para assegurar a continuidade das operações".

A empresa também afirma que, ao final do projeto, equipes do IME e da AWS poderão definir estratégias de migração para outras infraestruturas, como as do setor público, para continuidade da política.

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Projetos que usam IA generativa em áreas críticas, como saúde e Justiça, costumam levantar temores sobre eventuais "alucinações" —quando o sistema cria informações falsas ou sem base factual.

Os desenvolvedores afirmam que o modelo não cria novas análises, apenas sintetiza pareceres técnicos já existentes, exibindo a fonte de cada trecho consultado.

Para isso, combina duas tecnologias complementares.

A primeira o uso de um SLM (small language model, ou modelo de linguagem pequeno), voltado exclusivamente a informações sobre ações de saúde. Por ser mais enxuto e especializado, ele tende a errar menos e a operar com menor custo.

A segunda é o RAG (retrieval-augmented generation, ou geração com busca integrada), mecanismo que faz a IA consultar documentos oficiais —como as notas técnicas do e-NatJus— antes de montar uma resposta. Juntas, elas prometem respostas apenas com base em evidências, sem criar novos conteúdos.

"Se eu especializo o modelo, ofereço o que interessa e reduzo o ruído", diz o professor do IME.

Os pesquisadores esclarecem que o projeto funciona em conforme com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Quando há dados pessoais, o material passa por anonimização, com a remoção de nome, endereço e outros identificadores.

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November 12, 1:43 PM
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Crise social e novos impérios podem ter gestado monoteísmo

Crise social e novos impérios podem ter gestado monoteísmo | Inovação Educacional | Scoop.it
Este provavelmente é o capítulo mais complexo e incerto da nossa série sobre as origens do monoteísmo. Chegamos ao momento histórico em que dois Estados monárquicos de língua hebraica, os reinos de Israel e Judá, no norte e no sul, estão firmemente estabelecidos na maior parte do atual território palestino e israelense (e também em partes da moderna Jordânia). Ou seja, trata-se mais ou menos do período a partir do ano 800 a.C.

É também a fase em que os antigos israelitas enfim se tornam "visíveis" para os grandes reinos e impérios do Oriente Próximo. Os nomes dos reinos e de seus soberanos começam a aparecer em inscrições aramaicas feitas pelos soberanos de Damasco, em textos do Império Assírio e, mais tarde, também da Babilônia, e diversos nomes e eventos são basicamente os mesmos que aparecem na narrativa bíblica.


Kiryat Luza, área próxima a Nablus, na Cisjordânia, que ficava no antigo reino israelita do Norte - Diogo Bercito/Folhapress
Tudo indica que tanto Israel quanto Judá adotavam Iahweh/Javé como seu "deus nacional" ou, talvez, dinástico, numa associação próxima com a família real (como a dinastia de David em Judá). Processos semelhantes, nos quais uma divindade adquire uma associação particularmente forte com o governante e o reino, também parecem se fortalecer nos Estados não israelitas vizinhos. De início, porém, isso não significa que o culto a outras divindades do panteão cananeu seja abandonado, a exemplo do que vimos com as aparentes menções a Asherah em textos do período.

A dúvida de muitos milhões de dólares é saber como ao menos alguns dos grupos israelitas promoveram a transição teológica que transformou Iahweh, de deus nacional/dinástico que era, em Deus único. Temos algumas correlações intrigantes, mas, como sempre é importante ter em mente, correlação nem sempre é causa. Vejamos algumas delas.

1) TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS
A ascensão dos Estados monárquicos, a centralização do poder dos reis e a integração cada vez maior dos israelitas na economia internacional do Oriente Próximo parece ter aumentado a desigualdade e as tensões sociais. Vemos indícios disso nos textos de profetas desse período, como Amós, que associa as dificuldades econômicas dos camponeses e o luxo da elite urbana ao abandono dos princípios religiosos do culto a Iahweh.

Nesse caso, a figura do Deus bíblico é vista pelos profetas como um chamado ao arrependimento e ao combate a essa desigualdade.

2) A SOMBRA DOS IMPÉRIOS
Conforme mencionamos no segundo parágrafo, as grandes potências da região enfim notaram a existência dos israelitas. Mas não ficaram só nisso, como sabe qualquer leitor do Antigo Testamento. Ambições expansionistas, principalmente por parte da Assíria, fazem com que tanto Israel quanto Judá se transformem, de forma paulatina, em campo de batalha ao longo do século 8º a.C.

A escolha é entre se submeter aos assírios e tentar organizar algum tipo de aliança regional para manter a independência. O que nos leva ao terceiro item.

3) O FIM DO REINO DO NORTE
O reino de Israel, no norte da região, escolheu a resistência –e se deu muito mal. Em 720 a.C., os assírios capturaram Samaria, a majestosa capital do reino do Norte, e deportaram dezenas de milhares de israelitas para a Mesopotâmia. Dados arqueológicos sugerem que outros milhares fugiram para Judá e engrossaram a população de Jerusalém.

O trauma dessa primeira destruição não pode ser subestimado. Para a tradição profética, ele teria confirmado que uma grande reforma religiosa, com uma devoção mais intensa e exclusiva a Iahweh, era indispensável para que os sobreviventes em Judá não sofressem o mesmo destino.

Os próximos passos desse processo serão objeto do próximo episódio, com o reinado do judaíta Josias no século 7º a.C. e as origens do livro do Deuteronômio. Até lá!
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November 12, 1:39 PM
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Deus bíblico incorpora muitos traços de seu arqui-inimigo 

Deus bíblico incorpora muitos traços de seu arqui-inimigo  | Inovação Educacional | Scoop.it
Voltamos à nossa série Como Deus nasceu, sobre as origens do monoteísmo, dedicando este sexto capítulo à figura do deus Baal. Entre todas as divindades "pagãs" do mundo antigo citadas na Bíblia, Baal provavelmente é a que ganha mais destaque. Leitores do Antigo Testamento decerto recordam o confronto épico entre o profeta israelita Elias, fiel servo do Deus bíblico Iahweh/Javé, e os 450 profetas de Baal no Primeiro Livro dos Reis. (No relato bíblico, como seria de esperar, apenas Iahweh demonstra ter poder verdadeiro, e Elias sai vitorioso.)

A força da rivalidade com Baal não é por acaso, porque o Deus bíblico reproduz justamente muitas das características que os povos do Oriente Próximo antigo, no período anterior ao surgimento dos reinos israelitas, atribuía a Baal. Explico a seguir esses paralelos e a maneira como eles foram transformados pela visão de mundo monoteísta.


Imagem do deus da tempestade Baal, achada em Ugarit (atual Síria) - Creative Commons
Como vimos brevemente no nosso episódio sobre o panteão (conjunto de deuses) do politeísmo da terra de Canaã, representado principalmente pelos textos da cidade de Ugarit na Idade do Bronze, Baal tem uma série de características muito marcantes. Ele é um jovem deus guerreiro, da "segunda geração" divina, que se torna chefe do panteão ao receber o poder das mãos do deus-patriarca El.

Suas armas são o trovão e o raio, que ele usa para enfrentar inimigos divinos como Yam, o Mar, e Mot, a Morte, e, com esses poderes "meteorológicos", ele também garante a fertilidade da terra por meio da chuva. Seu palácio fica no alto do monte Sapan (provavelmente o atual Jebel Aqra, na fronteira entre a Síria e a Turquia e perto do Mediterrâneo).

COMO DEUS NASCEU
Série reúne que sabemos sobre as origens do monoteísmo

Série recontará origens do monoteísmo, do antigo Israel ao Islã
Arqueologia e análise de textos ajudam a entender a evolução da crença em Deus

Conheça o grupo de divindades que inspirou Deus único da Bíblia
Mitos descobertos na Síria, mais antigos que Escrituras, foram ecoados por elas

Povo de Israel surgiu na própria terra de Canaã, diz arqueologia
Falta de indícios do Êxodo e de destruição de cananeus indica origem autóctone

O mistério que cerca a gênese do nome bíblico do Deus de Israel
Escrita como YHWH em hebraico, designação tem pronúncia estimada e fonte incerta

Processo de convergência e diferenciação moldou o Deus da Bíblia
Pesquisadores apontam incorporação de elementos de outros deuses na 'personalidade' divina

Bem, Iahweh tem diversas semelhanças com esse quadro. Deus não apenas é chamado de "Senhor dos Exércitos" na Bíblia hebraica (ou de "homem de guerra" no livro do Êxodo) e domina o trovão, o raio e o controle da fertilidade da terra como também tem os mesmos arqui-inimigos que Baal.

Em diversos textos espalhados pelo cânone bíblico, fala-se de uma batalha primordial de Iahweh contra o Mar, como neste trecho do Salmo 74:

"Tu porém, ó Deus, és meu rei desde a origem. Tu dividiste o mar com o teu poder, quebraste as cabeças dos monstros das águas; tu esmagaste as cabeças do Leviatã dando-o como alimento às feras selvagens."

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O Leviatã, um monstro marinho, também é citado como um dos inimigos de Baal nos textos de Ugarit, junto com outra criatura monstruosa, o Tannin ou Tunnanu (citado, por exemplo, no capítulo 7 do livro de Jó, e traduzido como "monstro marinho" na tradução católica da CNBB que tenho comigo neste momento).

Em outros textos da Bíblia hebraica, curiosamente, Leviatã é retratado como uma espécie de animal de estimação de Iahweh, que o criou para seu divertimento. É o caso do Salmo 104: "Bem como Leviatã, que formaste para com ele te divertires". Por fim, as próprias passagens do Gênesis e do Êxodo que mostram Deus com controle absoluto sobre o oceano, seja na criação, seja na destruição dos egípcios no mar Vermelho, podem ser interpretadas como versões "desmitologizadas" do combate entre Baal e os seres sobrenaturais marinhos.

E, como cereja do bolo, o monte Sapan (Zafon, em hebraico) também é descrito como a morada de Iahweh no Antigo Testamento.

A hipótese mais provável, portanto, é que Iahweh assume os principais papéis da divindade mais antiga ao se tornar a figura mais importante do panteão israelita. Antes de esse panteão desaparecer de vez e Iahweh ficar sozinho, porém, resta-nos investigar a mais intrigante das associações entre ele e os antigos deuses. Será que, em algum momento, acreditou-se que ele tinha uma consorte divina? Esse será o tema da próxima parte da série. Até lá!
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November 12, 1:35 PM
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O mistério que cerca as origens do nome bíblico de Deus

O mistério que cerca as origens do nome bíblico de Deus | Inovação Educacional | Scoop.it
Neste quarto episódio da nossa série Como Deus Nasceu, que busca apresentar o que sabemos sobre as origens dos três grandes monoteísmos do planeta, vamos tentar responder uma pergunta shakespeareana: afinal, o que há num nome? Para ser mais exato, o que significa o nome tradicionalmente atribuído ao Deus único da Bíblia, e o que ele pode nos dizer sobre as origens dessa divindade?

A resposta curta pode parecer um tanto desanimadora: sobram hipóteses e faltam certezas. Vamos à resposta longa, que, espero, talvez seja um pouco mais iluminadora.

Os textos originais da Bíblia Hebraica designavam o Deus de Israel de muitas maneiras, mas seu "nome próprio" acabou se consolidando como o conjunto de quatro consoantes do chamado Tetragrama Sagrado ("tetragrama" = "quatro letras", em grego): YHWH.


Inscrição em hebraico do século 8 a.C. dizendo "Que Uriyahu [Urias] seja abençoado por Iahweh" - Reprodução/Creative Commons
O hebraico originalmente não grafava as vogais; além disso, há milênios, surgiu o costume de não pronunciar o Tetragrama, substituindo-o pela palavra "Adonai" (literalmente "Meus Senhores") ou, mais tarde, "Ha-Shem" ("O Nome"). Por isso, não há certeza absoluta sobre a pronúncia original de YHWH, embora a maior parte dos especialistas atuais adote formas como Yahweh ou, aportuguesando, Javé. Adotaremos aqui a forma preferida pela tradução da Bíblia de Jerusalém, uma das mais respeitadas internacionalmente: Iahweh.

A etimologia do nome, como você talvez já tenha imaginado, não está clara. Na famosa passagem do livro do Êxodo em que Moisés se depara com Deus na sarça ardente, o próprio Iahweh, quando Moisés pergunta o seu nome, usa a frase hebraica "Ehyeh asher ehyeh", traduzida como "Eu sou aquele que é" (literalmente "aquele que sou"). Existe, portanto, uma associação do termo com formas do verbo "ser", que alguns interpretaram como carregando o sentido de "Ele faz algo surgir", "Ele traz as coisas à existência".

COMO DEUS NASCEU
Série reúne que sabemos sobre as origens do monoteísmo

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Deus bíblico incorpora muitos traços de seu 'arqui-inimigo' Baal
Ligação com tempestades, fertilidade e guerra mostram semelhança de Iahweh com rival pagão

Seja como for, a única coisa indiscutível em relação ao nome de Iahweh é que ele não aparece nas listas de deuses da terra de Canaã e da cidade-Estado de Ugarit que apresentamos por aqui na postagem anterior. Do ponto de vista dos habitantes da região, parece ser uma "nova" designação divina, que só começa a aparecer em inscrições lá pelo meio da Idade do Ferro (depois de 900 a.C.).

Talvez, porém, haja alguns exemplos anteriores da presença dela. Inscrições egípcias datadas do reinado do faraó Amenófis 3º (1390-1352 a.C.) falam de um certo "YHWA na Terra dos Shasu". Aqui as coisas começam a ficar intrigantes. "Shasu" é um termo genérico usado pelos egípcios para designar grupos pastoris, nômades de fala semítica (o grupo de idiomas do hebraico). É comum associá-los com as áreas desérticas e semidesérticas das atuais península do Sinai, Jordânia e noroeste da Arábia Saudita, embora também haja registros da presença deles em regiões menos secas nos atuais Israel e Palestina.

Se YHWA for mesmo uma referência a Iahweh, e se os Shasu adoravam esse deus, as paragens habitadas por eles, de acordo com os egípcios, batem com as regiões onde Iahweh teria se manifestado originalmente aos israelitas liderados por Moisés. No hebraico da Bíblia, são áreas designadas com nomes como "Edom", "Seir", "Parã", "Teimã" e, claro, "Sinai" – as montanhas do deserto como a morada divina por excelência.

Será que a adoração a Iahweh teria sido transmitida aos primeiros israelitas por nômades vindos dessas regiões? A ideia talvez se encaixe no processo de formação de novos assentamentos na região montanhosa do centro de Canaã após o colapso do fim da Idade do Bronze, como também vimos no episódio anterior.

Seja como for, ainda que Iahweh tenha entrado na Terra Prometida como forasteiro, ele passou a se "naturalizar", assumindo características dos deuses cananeus. É esse processo que examinaremos na próxima parte da série. Até lá!
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November 12, 1:32 PM
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Conheça as divindades que inspiraram Deus único da Bíblia

Conheça as divindades que inspiraram Deus único da Bíblia | Inovação Educacional | Scoop.it
Nesta segunda parte da nossa série Como Deus nasceu sobre as origens do monoteísmo, vamos falar de... politeísmo. Sim, o culto a vários deuses.

É, eu sei que parece um contrassenso, mas não é possível compreender a fundo as origens do judaísmo, mais antiga fé monoteísta do planeta, sem levar em conta as raízes culturais do povo de Israel, sociedade na qual a fé judaica nasceu. E todos os dados históricos e arqueológicos corroboram a ideia de que o antigo Israel emergiu de forma relativamente tardia num ambiente cultural que contava com uma longa tradição politeísta. Foi essa tradição veneranda que a sociedade israelita se pôs a remodelar ao longo dos séculos.

O surgimento de Israel propriamente dito será tema da terceira parte da série, daqui a duas semanas. Por ora, basta dizer que essa origem é essencialmente um fenômeno da Idade do Ferro, a partir de 1200 a.C. Antes disso, porém, nos séculos finais da Idade do Bronze, uma rica gama de narrativas sobre o mundo dos deuses, no plural, foi registrada pelos escribas de uma cidade-Estado que fica na costa da atual Síria.

Essa cidade era Ugarit, e seu idioma, uma língua do grupo conhecido como semítico noroeste, pode ser descrita como um primo de primeiro grau mais velho do hebraico e do aramaico, apresentando grandes semelhanças com esses idiomas bíblicos no vocabulário e na sintaxe.


Imagem do deus da tempestade Baal, achada em Ugarit (atual Síria) - Creative Commons
Textos mitológicos escritos na língua ugarítica usam muitas das mesmas palavras presentes na Bíblia hebraica –ou Antigo Testamento, para os cristãos– para se referir ao panteão (conjunto de deuses) venerado pelos habitantes da cidade-Estado. Vejamos quem são alguns deles.

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Deus bíblico incorpora muitos traços de seu 'arqui-inimigo' Baal
Ligação com tempestades, fertilidade e guerra mostram semelhança de Iahweh com rival pagão

O patriarca do panteão é El, um monarca divino idoso, sábio e bondoso, que habita uma tenda e é visto como uma figura paterna tanto pelos demais deuses quanto pelos seres humanos, tendo gerado dezenas de jovens divindades. Seu nome significa simplesmente "o deus", e é a mesma palavra que aparece como sufixo no nome "Israel" (guarde essa informação para depois, aliás).

El é casado com a rainha divina Athirat, uma figura maternal também conhecida como "criadora dos deuses". Em hebraico, seu nome é Asherah (às vezes aportuguesado para "Aserá"), e ela é vista como uma das divindades "pagãs" adotadas por israelitas que deixaram de lado a fé no Deus único de seu povo – como veremos ao longo da série, esse cenário é no mínimo simplista.

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Athirat e seu esposo presidem uma assembleia de deuses que inclui muitos dos filhos de El, como as divindades celestiais Shahar e Shalim (respectivamente "aurora" e "crepúsculo" –acredita-se que o nome de Shalim seja um dos elementos que compõem o nome da cidade de Jerusalém). Há ainda a deusa guerreira Anat, às vezes imaginada com asas. E há outro velho conhecido dos leitores do Antigo Testamento: Baal.

O nome significa "senhor", e, de fato, alguns textos dão a entender que Baal herdou de El o reinado sobre o panteão, sendo visto como filho do velho deus, embora seu pai "biológico" (se é que podemos aplicar o termo a divindades) seja outra figura divina mais obscura, Dagan.

Para alcançar essa posição, Baal derrotou e venceu dois terríveis inimigos divinos, Yam, o Mar, e Mot, a Morte. Sua morada é o alto de uma montanha, e ele tem domínio sobre as tempestades e a fertilidade. Tal como El, ele também é associado à figura do touro.

Pode parecer só mais uma lista de deuses obscuros do mundo antigo, mas vale a pena anotá-la. As cenas mais emblemáticas da Bíblia estão repletas de ecos das aventuras dessas deidades, como veremos em breve. Até lá!
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November 12, 1:23 PM
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A importância das redes em prol da inclusão produtiva 

A importância das redes em prol da inclusão produtiva  | Inovação Educacional | Scoop.it
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November 11, 7:39 AM
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'China vai ganhar corrida da IA', alerta CEO da Nvidia

'China vai ganhar corrida da IA', alerta CEO da Nvidia | Inovação Educacional | Scoop.it
Huang vê subsídios energéticos concedidos por Pequim como determinantes para o avanço do setor. Para o CEO da Nvidia, a atuação impulsiona as capacidades chinesas no ramo de chips utilizados para alimentar a IA. "A China vai ganhar a corrida da IA", afirmou o executivo da gigante americana de semicondutores declarou ao jornal "Financial Times" em evento em Londres.
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November 14, 12:13 PM
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Ex-senador Nelson Wedekin é homenageado no FinancIES

Ex-senador Nelson Wedekin é homenageado no FinancIES | Inovação Educacional | Scoop.it
O ex-senador Nelson Wedekin, ex-presidente da Fundacred, foi homenageado na última semana durante o FinancIES 2025, realizado em Florianópolis (SC). A distinção reconhece sua longa trajetória de liderança em políticas de acesso à educação, incentivo à inovação e desenvolvimento social, áreas em que construiu uma reputação de compromisso público e visão de futuro.
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November 13, 6:27 PM
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Pessoas não identificam músicas feita por IA, diz pesquisa

Pessoas não identificam músicas feita por IA, diz pesquisa | Inovação Educacional | Scoop.it

Um estudo feito pelo instituto de pesquisa Ipsos, encomendado pela Deezer, mostrou que quase todos os entrevistados não souberam diferenciar músicas geradas por inteligência artificial daquelas criadas por humanos.
Os participantes ouviram três faixas e foi pedido que indicassem se as músicas eram ou não totalmente geradas por robôs —e 97% erraram.
A pesquisa contou com cerca de 9.000 pessoas em oito países –Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Holanda, Alemanha e Japão.
Dos que erraram, 71% ficaram surpresos com o resultado, e 52% se sentiram desconfortáveis por não conseguir diferenciar.
Ainda de acordo com a pesquisa, 40% dos entrevistados disseram que pulariam a música totalmente gerada por inteligência artificial se a encontrassem. Já 80% concordam que a música 100% criada com IA deve ser identificada de forma clara pelas plataformas.
Entre os brasileiros, 52% dizem aprovar músicas geradas por IA estarem nas principais paradas musicais, junto com as músicas feitas por humanos. Porém, desse número, 34% gostariam que as músicas estivessem identificadas com rótulo de feito por IA.
Além disso, 52% dos entrevistados pela pesquisa dizem concordar que músicas geradas por robôs não devem ser incluídas nas paradas musicais com as músicas criadas por humanos.
"Hoje, recebemos cerca de 150 mil novas faixas por dia, e aproximadamente 34% delas já são geradas por IA", afirma Rodrigo Vicentini, gerente geral da Deezer na América Latina, em nota. "Por isso, fomos a primeira plataforma do mundo a desenvolver uma tecnologia própria para detectar e rotular músicas criadas por inteligência artificial."
Uma das grandes preocupações do setor cultural com relação à IA tem a ver com o uso de material protegido por direito autoral nos processos de aprendizagem de modelos de linguagem. Dos entrevistados pela pesquisa, 65% dizem que não deveria ser permitido usar material protegido por direitos autorais para treinar modelos de IA usados para criar música.
O USO DE IA NA MÚSICA E NA CULTURA
No Brasil, músicas criadas ou modificadas por IA fizeram muito sucesso recentemente. Nos últimos meses, viralizaram faixas de funk, pop e rap atuais recriadas com IA em estilo retrô. A gravadora Blow Records, projeto do publicitário paulista Raul Vinicius, transformou "Estilo Cachorro", dos Racionais MCs, em um soul da década de 1970, "Bang", de Anitta, em um R&B estilo Aretha Franklin, e "Predador de Perereca", do MC Jhey, em um hit da disco music de 1982.
Este ano, uma "banda" misteriosa chamou a atenção dos fãs de música. O Velvet Sundown, que chegou a ter mais de 1 milhão de ouvintes mensais no Spotify —a maioria em São Paulo—, faz um rock clássico no estilo anos 1970, algo entre o Creedence Clearwater Revival e o Grateful Dead. Mas apesar de as imagens do grupo serem perceptivelmente feitas por IA generativa, ninguém sabia dizer com certeza se a música também era gerada por robôs.
A diversidade e a abundância da produção cultural brasileira fazem do país um pote de ouro para as ferramentas de treinamento da IA generativa. Reportagem da Folha mostrou que pelo menos três empresas de americanas usaram livros de autores brasileiros para treinar seus sistemas sem pedir autorização ou pagar por isso, apelando a cópias piratas que circulam na internet. Pesquisadores da área chamam isso de extrativismo de dados.
Por outro lado, o Brasil está longe de ser líder na produção tecnológica de IA. Apesar de sermos líderes na América Latina, a comparação com Estados Unidos, Europa e China é desproporcional.
Países e organizações internacionais têm feito uma corrida pela delimitação das quatro linhas, com o desafio de proteger, sem prejudicar o desenvolvimento da indústria, quem pode ser ameaçado pelo avanço da IA generativa —na cultura, não são poucos.
Apesar de a discussão ser recente, já é possível identificar algumas vertentes. Há quem defenda que os dados só poderiam ser utilizados mediante autorização prévia dos detentores dos direitos autorais da obra. Há quem visualize um modelo de remuneração coletiva. Muitos concordam com um sistema em que o detentor dos direitos teria de avisar caso não queira permitir o uso de seus dados pela ferramentas de IA, o que é chamado de "cláusula de opt-out".
Há ainda quem avalie que o uso para treinamento de ferramentas de IA não fere os direitos autorais da obra, ou que esse tipo de uso poderia ser enquadrado no conceito de "fair use", que abre exceções para uso de material protegido, como acontece em sátiras ou quando a parcela do material usada é considerada ínfima.

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November 12, 2:14 PM
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Gestão Tarcísio vai dividir escolas com mais mil alunos

Gestão Tarcísio vai dividir escolas com mais mil alunos | Inovação Educacional | Scoop.it
A Secretaria da Educação diz que a "desagregação" e a consequente redução do porte das escolas estão de acordo com o que aponta a literatura acadêmica. Escolas com maior número de alunos, número de turnos e etapas de ensino são consideradas de maior complexidade de gestão pedagógica.

"A desgregação têm como objetivo principal ampliar a proximidade e a comunicação da equipe gestora e dos coordenadores pedagógicos com o grupo de professores", diz um documento apresentado aos diretores de escola.

O documento também defende que, ao reduzir o tamanho das escolas, será possível que as equipes gestoras possam "aprimorar a condição de identificar defasagens de aprendizado e criar estratégias de recomposição."
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November 12, 2:04 PM
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Três em cada cinco motoristas deixariam app se pudessem

Três em cada cinco motoristas deixariam app se pudessem | Inovação Educacional | Scoop.it

Promessa de autonomia e flexibilidade quando surgiram as plataformas de corrida, o trabalho por aplicativo mostra sinais de saturação, devido às longas jornadas, altos custos e sentimento de insegurança. É o que revela pesquisa da GigU, startup criada em 2017 que se propõe a apoiar trabalhadores de app por meio de ferramentas colaborativas com soluções financeiras e de segurança.
O levantamento mostra que três em cada cinco motoristas e entregadores (60,5%) deixariam imediatamente os aplicativos se tivessem outra opção de trabalho, e que mais de dois terços desses trabalhadores (67,9%) atuam por necessidade, não por escolha.
A principal motivação desses profissionais é o complemento de renda (39,5%), seguida pelo desemprego (35,8%) e pela flexibilidade de horário (31,2%).
O levantamento nacional ouviu mais de 1.000 profissionais, entre usuários ou não da plataforma. Segundo a GigU, as entrevistas mostram, além de jornadas exaustivas, lucros apertados. Segundo a pesquisa, quase quatro em cada dez (38,3%) ganham até R$ 5 mil por mês, mas 74,6% gastam até R$ 3,5 mil para se manter na atividade —com alimentação, combustível, manutenção, seguro ou aluguel de veículos.
Como resultado, 44,2% relatam dificuldade para pagar as contas e 43,2% já atrasaram despesas básicas, como luz, água e gás.
A situação é agravada pelo sentimento de insegurança dos trabalhadores. Segundo o levantamento, 59,1% já sofreram algum tipo de violência ou assédio durante o trabalho, e apenas 3,4% afirmam se sentir totalmente seguros.
O resultado é um quadro de desconfiança generalizada —77,3% acreditam que as empresas não se preocupam com o seu bem-estar. "O trabalhador sente que está sempre sendo vigiado, mas raramente é ouvido. Falta clareza sobre critérios de bloqueio, taxas e ganhos", diz Luiz Gustavo Neves, CEO e cofundador da GigU.
A pesquisa mostra que 58,2% consideram que as plataformas não são transparentes sobre valores, taxas e bloqueios, e 15,5% já tiveram contas suspensas sem explicação.
Quando questionados sobre o que tornaria o trabalho mais digno e sustentável, 96,4% dos entrevistados responderam que seria o aumento nos ganhos por corrida ou entrega, e 75,1% defenderam redução das taxas cobradas pelas plataformas.
Outros pedidos frequentes foram mais segurança no trabalho (58,8%), melhor atendimento e suporte (54%) e transparência nas relações (57,2%).

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November 12, 1:58 PM
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Inteligência artificial atingiu o seu limite? 

Inteligência artificial atingiu o seu limite?  | Inovação Educacional | Scoop.it
Problemas no ChatGPT-5 apontam que o desenvolvimento desenfreado da IA pode ter alcançado o seu teto
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November 12, 1:49 PM
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IA: Máquina igualar os humanos já é realidade 

IA: Máquina igualar os humanos já é realidade  | Inovação Educacional | Scoop.it
"Quanto tempo até que, se você tiver um debate com uma máquina, ela sempre vencerá? Acho que isso definitivamente virá dentro de 20 anos", afirmou Geoffrey Hinton, que ganhou o prêmio Nobel de Física no ano passado ao lado do pesquisador John Hopfield por seu trabalho em aprendizado de máquina.

"Não vejo nenhuma razão pela qual, em algum momento, não seríamos capazes de construir máquinas que possam fazer praticamente tudo o que podemos fazer", comentou Yoshua Bengio, que ganhou o prêmio Turing por conquistas em IA. "Claro, por enquanto... está faltando, mas não há razão conceitual pela qual não se poderia".

Mas Bengio alertou contra tomar decisões atuais com base no desenvolvimento futuro da tecnologia. "Você deve ser realmente agnóstico e não fazer grandes afirmações porque há muitos futuros possíveis agora", complementou.
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November 12, 1:44 PM
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Desvios têm que ser combatidos para fortalecer o Sistema S

Desvios têm que ser combatidos para fortalecer o Sistema S | Inovação Educacional | Scoop.it
Autores apontam problemas na aplicação de recursos do Sistema S, como a remuneração de autoridades pela participação em conselhos fiscais de entidades como o Senac e o Sesc e a destinação de verbas do Senai e do Sesi para federações de indústrias e a CNI.
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November 12, 1:41 PM
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Inscrições hebraicas sugerem crença em 'esposa de Deus'

Inscrições hebraicas sugerem crença em 'esposa de Deus' | Inovação Educacional | Scoop.it
O sítio arqueológico de Kuntillet Ajrud, um ponto de parada para as caravanas que atravessavam o deserto do Sinai na Antiguidade, é onde retomamos nossa série sobre as origens do Deus monoteísta judaico, cristão e islâmico. É ali que encontramos uma menção ao nome dessa divindade, Iahweh, numa inscrição completamente inesperada para quem só o conhece pela Bíblia. Segundo uma das interpretações possíveis desse texto, Deus é invocado junto com sua "mulher", a antiga deusa cananeia Asherah (ou Asserá, na forma aportuguesada).

Em dois textos curtos diferentes, escritos com a versão original do alfabeto hebraico por volta do ano 800 a.C., aparecem as frases "Abençoados sois por Iahweh de Samaria e sua Asherah" e "Eu te abençoo por Iahweh de Teman e sua Asherah".


Possível representação da deusa semítica Asherah achada em Israel - Creative Commons
As frases foram escritas em grandes vasilhas de cerâmica do tipo "pithos", usadas para armazenar líquidos ou grãos. Junto com um dos textos vemos diversos desenhos, entre os quais duas figuras de corpo humano e cabeça vagamente bovina. Seriam representações de Iahweh/Javé e Asherah/Asserá?

OK, vamos retroceder um instante só para deixar claro porque as frases são tão inauditas. O nome de Asherah é citado diversas vezes na Bíblia hebraica/Antigo Testamento, assim como o de outros antigos deuses "pagãos" cananeus, supostamente anteriores ao povo de Israel.

COMO DEUS NASCEU
Série reúne que sabemos sobre as origens do monoteísmo

Série recontará origens do monoteísmo, do antigo Israel ao Islã
Arqueologia e análise de textos ajudam a entender a evolução da crença em Deus

Conheça o grupo de divindades que inspirou Deus único da Bíblia
Mitos descobertos na Síria, mais antigos que Escrituras, foram ecoados por elas

Povo de Israel surgiu na própria terra de Canaã, diz arqueologia
Falta de indícios do Êxodo e de destruição de cananeus indica origem autóctone

O mistério que cerca a gênese do nome bíblico do Deus de Israel
Escrita como YHWH em hebraico, designação tem pronúncia estimada e fonte incerta

Processo de convergência e diferenciação moldou o Deus da Bíblia
Pesquisadores apontam incorporação de elementos de outros deuses na 'personalidade' divina

Deus bíblico incorpora muitos traços de seu 'arqui-inimigo' Baal
Ligação com tempestades, fertilidade e guerra mostram semelhança de Iahweh com rival pagão

O texto bíblico critica os israelitas por abandonarem o culto a Iahweh em favor desses deuses, ou por misturarem a fé "verdadeira" com a antiga religião "idólatra". Nesses casos, a palavra hebraica "asherah" também pode significar um objeto sagrado, um poste de madeira que seria uma espécie de árvore sacra estilizada, podendo corresponder ou não à figura da deusa.

A coisa verdadeiramente esquisita aqui é dar de cara com uma menção aparente à deusa na qual ela é retratada não como rival de Iahweh, mas como sua parceira. É isso que não se vê em nenhum trecho do texto bíblico. Por outro lado, o papel de consorte do deus supremo é justamente o que se espera da figura de Asherah que conhecemos a partir dos textos da antiga cidade de Ugarit, sempre citados nesta série.

Ainda há, porém, outra complicação. O hebraico das frases é peculiar porque "cola" o que seria equivalente a um pronome possessivo do português no nome próprio Asherah (traduzido acima como "sua Asherah"). Em hebraico bíblico, essa construção se usa para objetos, não para nomes de pessoas.

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Isso levou alguns especialistas a interpretar a frase como se ela se referisse não a Asherah com letra maiúscula, mas sim "à asherah" (substantivo comum, letra minúscula) pertence a Iahweh. Ou seja, aqui, seria uma descrição do objeto cúltico, do poste de madeira usado na adoração a Iahweh, e não a ele junto com uma esposa divina. Mal comparando, e para usar analogias 100% católicas, seria como dizer, "Que as Sete Chagas de Cristo te salvem", "Que Nossa Senhora te cubra com seu manto" ou coisa que o valha.

Ainda que essa interpretação seja a correta, entretanto, estaríamos falando de, no mínimo, mais um capítulo do processo pelo qual os antigos elementos da religião politeísta cananeia são incorporados pelo culto a Iahweh e transformados por ele. De todo modo, a religião "oficial" bíblica acabaria condenando a ideia de continuar usando a antiga árvore sagrada de Asherah.

Os debates devem continuar por um bom tempo enquanto novas evidências não vêm à tona, mas estamos preparados para dar o próximo passo: entender quais os fatores que enfim conduziram a antiga religião israelita rumo ao monoteísmo "puro". Eis o tema dos nossos dois próximos capítulos. Até lá!
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November 12, 1:38 PM
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Convergência e diferenciação moldaram o Deus bíblico

Convergência e diferenciação moldaram o Deus bíblico | Inovação Educacional | Scoop.it
Neste quinto capítulo da nossa série Como Deus nasceu, um apanhado dos estudos sobre a origem dos três grandes monoteísmos (judaísmo, cristianismo e islamismo), faremos uma breve virada conceitual, com base em ideias defendidas por especialistas como o americano Mark Stratton Smith. Hoje professor de Literatura do Antigo Testamento e Exegese do Seminário Teológico de Princeton, Smith é autor de obras como "História Primitiva de Deus" e ajudou formular o conceito-chave de nosso texto de hoje: o processo complementar de convergência e diferenciação.

Conforme já vimos por aqui, os israelitas muito provavelmente tiveram sua origem como povo (ou "etnogênese", como dizem os antropólogos) a partir de grupos falantes de idiomas semíticos que já viviam na antiga terra de Canaã —os atuais territórios de Israel, da Palestina, da Jordânia e do Líbano, principalmente— no fim da Idade do Bronze. Isso significa que eles quase certamente estavam familiarizados com o panteão (conjunto de deuses) adorado pelos cananeus e registrado em textos como os da antiga cidade mercantil de Ugarit.

É possível que a divindade conhecida como Iahweh/Javé, originalmente adorada em territórios desérticos ao sul, como o Sinai e a Arábia, tenha sido acrescentada a esse panteão em algum momento do início da Idade do Ferro (a partir de 1.200 a.C.).


Estatueta do deus cananeu El banhada a ouro, feita no fim da Idade do Bronze - Reprodução/Creative Commons
A hipótese de Smith e outros pesquisadores é que a figura de Iahweh foi moldada pela lógica aparentemente contraditória da convergência e da diferenciação em relação aos deuses mais antigos do panteão cananeu. Em termos históricos, a convergência —ou seja, a incorporação de elementos dessas divindades na formulação de um Iahweh cada vez mais importante para a religião israelita primitiva— talvez tenha vindo primeiro. Já a diferenciação, ou seja, a distinção cada vez mais radical entre Iahweh e os deuses antigos de Canaã, culminando com a visão de que eles não passariam de estátuas inertes de pedra e madeira, sem poder espiritual nenhum e sem realidade própria, pode ter ganhado força mais tarde. Ao menos em suas versões mais radicais, sabemos que se trata de algo bastante tardio na história da religião israelita.

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Os dados que corroboram o processo de convergência são numerosos. Podemos começar com o próprio nome do povo de Israel. Ele contém o "sufixo teofórico" —ou seja, uma partícula que remete a um nome divino— que equivale ao nome de El. Como vimos, trata-se do grande patriarca divino do panteão de Ugarit e de Canaã como um todo. Nomes teofóricos com o "sufixo" do nome de Iahweh são comuns na cultura israelita, mas, curiosamente, eles só parecem se tornar comuns do meio da Idade do Ferro em diante (mais ou menos a partir de 900 a.C.) —na forma aportuguesada, são os nomes terminados em "-ias" (Isaías, Ezequias, Josias etc.). Há quem brinque que, se não houvesse essa ligação com o deus El, o nome de Israel seria "Israías".

A própria narrativa dos livros do Gênesis e do Êxodo parece apontar que houve essa mudança no "nome social" divino, por assim dizer. "Eu sou Iahweh", diz Deus a Moisés no começo do capítulo 6 do Êxodo. "Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó [os ancestrais dos israelitas] como El Shaddai [grifo meu], mas meu nome, Iahweh, não lhes fiz conhecer." Tradicionalmente traduzido como "Todo-poderoso", o epíteto "Shaddai" tem etimologia original incerta, mas aparece nas narrativas do Gênesis junto com outros aparentes nomes divinos de El, como El Elyon (talvez "Deus Altíssimo").

Alguns dos textos poéticos da Bíblia considerados de origem mais antiga por suas características linguísticas também associam o Deus israelita a traços do deus El cananeu, como sua associação com touros, com a fertilidade e sua morada em tendas, equivalente ao Tabernáculo que abrigava a Arca da Aliança durante as andanças dos israelitas pelo deserto após saírem do Egito.

Mas talvez a mais importante convergência de Iahweh seja com a figura de seu "arqui-inimigo", o deus da tempestade Baal. Esse será o tema do nosso próximo episódio. Até lá!
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November 12, 1:33 PM
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Povo de Israel surgiu na própria terra de Canaã 

Povo de Israel surgiu na própria terra de Canaã  | Inovação Educacional | Scoop.it
Mas, para isso, precisamos saber como os israelitas bíblicos surgiram, e aqui a resposta da arqueologia e da história "secular", não religiosa, vai na contramão das narrativas de origem na Bíblia hebraica ou Antigo Testamento.

Enquanto as Escrituras descrevem o surgimento de Israel (enquanto entidade política) como uma grande ruptura e mesmo um genocídio, a partir da destruição quase completa dos povos que viviam anteriormente na chamada terra de Canaã, a pesquisa moderna indica fortemente que os israelitas jamais conduziram um extermínio dos cananeus, porque eles próprios, originalmente, eram cananeus.

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As pistas que apontam nessa direção são muitas. Primeiro, não há nenhuma evidência direta fora da Bíblia, seja textual, seja arqueológica, de que um grande êxodo em massa de israelitas a partir do Egito tenha de fato acontecido em qualquer momento da Idade do Bronze tardia. Não há sinais de qualquer coisa parecida na documentação egípcia ou em sítios arqueológicos do deserto do Sinai.

Em vez disso, a terra de Canaã era, pelo menos até o fim do século 13 a.C., parte do domínio imperial egípcio, como mostram cartas trocadas entre a chancelaria dos faraós e os reis das cidades-Estado cananeias. Os israelitas estariam, portanto, fugindo do Egito... para o Egito, em certo sentido.

O controle imperial faraônico sobre Canaã fica estremecido por volta da data fatídica de 1200 a.C., com o chamado colapso da Idade do Bronze, que envolveu a possível destruição de algumas cidades cananeias, como Betel, Megido e talvez Hazor. Mas a lista não bate nem de longe com a das metrópoles supostamente destruídas pelo general israelita Josué, de acordo com a Bíblia –Jericó e Ai, as mais famosas, não foram afetadas por esse colapso.

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Depois do colapso, os arqueólogos detectam o surgimento de cerca de 200 pequenos assentamentos rurais na região montanhosa de Canaã (mais ou menos correspondente à atual Cisjordânia e regiões do Israel moderno um pouco mais ao sul).

A cerâmica e outros elementos da cultura material desses vilarejos são indistinguíveis do que se via na zona rural e pastoril de Canaã em séculos anteriores. Tudo indica que ali há uma mistura de refugiados do colapso com, talvez, grupos nômades das regiões semidesérticas a leste e a sul da zona montanhosa. E, por último, a própria língua hebraica é essencialmente um dialeto cananeu, muito próximo do fenício e da antiga língua de Ugarit (confira, mais uma vez, o post anterior da série).

Em suma, os antigos israelitas eram um subgrupo cananeu que criou para si uma nova identidade política e, claro, religiosa. Como isso se deu será o tema das postagens seguintes.
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November 12, 1:29 PM
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Sudeste concentra engenheiros com mais de 30 anos

Sudeste concentra engenheiros com mais de 30 anos | Inovação Educacional | Scoop.it
Ainda segundo a pesquisa da Quaest, os engenheiros brasileiros registrados mostraram satisfação com o mercado de trabalho—a parcela de entrevistados que se declarou satisfeita varia de 65% a 73%, a depender da faixa etária. Os maiores índices de satisfação são observados entre profissionais com 35 anos ou mais.


Na contramão, engenheiros com idade entre 25 e 29 anos são os menos contentes com o mercado. Nesse grupo, 65% estão satisfeitos, e 35% se disseram insatisfeitos.

Nessa mesma faixa etária, a maior reclamação é a falta de vagas de trabalho (37%), seguida por salários baixos e piso salarial defasado (31%).


A pesquisa indica que a remuneração é mais alta conforme a idade avança. A maior fatia dos engenheiros com idade entre 18 e 29 anos disse ganhar entre dois e cinco salários mínimos. Nas outras faixas etárias, a maior parte de cada grupo disse ter remuneração superior a cinco salários mínimos.
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November 12, 1:20 PM
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Pandemia: pobres e sem estudo são os mais afetados

Pandemia: pobres e sem estudo são os mais afetados | Inovação Educacional | Scoop.it
No Brasil, mortalidade por Covid-19 foi de 2,6 a 4,7 vezes maior entre pessoas sem escolaridade em comparação com aquelas com diploma universitário
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November 10, 4:11 PM
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Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) lançará, nos próximos dias, um novo edital para seleção de professores formadores e tutores da Escola de Formação e Desenvolvimento Profissional de Educadores, marcando o início de uma nova fase da política de formação continuada dos profissionais da educação da rede estadual.
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