O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa? Luciano Sathler É PhD em administração pela USP e membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais As diferentes aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa são capazes de criar novos conteúdos em texto, imagens, áudios, vídeos e códigos para software. Por se tratar de um tipo de tecnologia de uso geral, a IA tende a ser utilizada para remodelar vários setores da economia, com impactos políticos e sociais, assim como aconteceu com a adoção da máquina a vapor, da eletricidade e da informática. Pesquisas recentes demonstram que a IA generativa aumenta a qualidade e a eficiência da produção de atividades típicas dos trabalhadores de colarinho branco, aqueles que exercem funções administrativas e gerenciais nos escritórios. Também traz maior produtividade nas relações de suporte ao cliente, acelera tarefas de programação e aprimora mensagens de persuasão para o marketing. O revólver patenteado pelo americano Samuel Colt, em 1835, ficou conhecido como o "grande equalizador". A facilidade do seu manuseio e a possibilidade de atirar várias vezes sem precisar recarregar a cada disparo foram inovações tecnológicas que ampliaram a possibilidade individual de ter um grande potencial destrutivo em mãos, mesmo para os que tinham menor força física e costumavam levar desvantagem nos conflitos anteriores. À época, ficou famosa a frase: Abraham Lincoln tornou todos os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais. Não fazemos aqui uma apologia às armas. A alegoria que usamos é apenas para ressaltar a necessidade de investir na formação de pessoas que sejam capazes de usar a IA generativa de forma crítica, criativa e que gerem resultados humanamente enriquecidos. Para não se tornarem vítimas das mudanças que sobrevirão no mundo do trabalho. A IA generativa é um meio viável para equalizar talentos humanos, pois pessoas com menor repertório cultural, científico ou profissional serão capazes de apresentar resultados melhores se souberem fazer bom uso de uma biblioteca de prompts. Novidade e originalidade tornam-se fenômenos raros e mais bem remunerados. A disseminação da IA generativa tende a diminuir a diversidade, reduz a heterogeneidade das respostas e, consequentemente, ameaça a criatividade. Maior padronização tem a ver com a automação do processo. Um resultado que seja interessante, engraçado ou que chama atenção pela qualidade acima da média vai passar a ser algo presente somente a partir daqueles que tiverem capacidade de ir além do que as máquinas são capazes de entregar. No caso dos estudantes, a avaliação da aprendizagem precisa ser rápida e seriamente revista. A utilização da IA generativa extrapola os conceitos usualmente associados ao plágio, pois os produtos são inéditos – ainda que venham de uma bricolagem semântica gerada por algoritmos. Os relatos dos professores é que os resultados melhoram, mas não há convicção de que a aprendizagem realmente aconteceu, com uma tendência à uniformização do que é apresentado pelos discentes. Toda Instituição Educacional terá as suas próprias IAs generativas. Assim como todos os professores e estudantes. Estarão disponíveis nos telefones celulares, computadores e até mesmo nos aparelhos de TV. É um novo conjunto de ferramentas de produtividade. Portanto, o desafio da diferenciação passa a ser ainda mais fundamental diante desse novo "grande equalizador". Se há mantenedores ou investidores sonhando com a completa substituição dos professores por alguma IA já encontramos pesquisas que demonstram que o uso intensivo da Inteligência Artificial leva muitos estudantes a reduzirem suas interações sociais formais ao usar essas ferramentas. As evidências apontam que, embora os chatbots de IA projetados para fornecimento de informações possam estar associados ao desempenho do aluno, quando o suporte social, bem-estar psicológico, solidão e senso de pertencimento são considerados, isso tem um efeito negativo, com impactos piores no sucesso, bem-estar e retenção do estudante. Para não cair na vala comum e correr o risco de ser ameaçado por quem faz uso intensivo da IA será necessário se diferenciar a partir das experiências dentro e fora da sala de aula – online ou presencial; humanizar as relações de ensino-aprendizagem; implementar metodologias que privilegiem o protagonismo dos estudantes e fortaleçam o papel do docente no processo; usar a microcertificação para registrar e ressaltar competências desenvolvidas de forma diferenciada, tanto nas hard quanto soft skills; e, principalmente, estabelecer um vínculo de confiança e suporte ao discente que o acompanhe pela vida afora – ninguém mais pode se dar ao luxo de ter ex-alunos. Atenção: esse artigo foi exclusivamente escrito por um ser humano. O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciano Sathler foi "O Ateneu" de Milton Nascimento.
Contar com um orçamento folgado e acesso às novas tecnologias não é suficiente para acelerar a inovação nas corporações. Entre as empresas que enfrentam dificuldades para deslanchar rotinas inovadoras, mais da metade aponta que os maiores obstáculos para alavancar a área estão ligados à gestão de pessoal e o apoio das chefias. É o que indica pesquisa realizada pela Panorama, uma comunidade global que reúne 18 consultorias especializadas em seleção de executivos e de serviços para conselhos. De acordo com o levantamento, concluído em setembro com 150 CEOs de multinacionais de 16 países, inclusive o Brasil, 62% acreditam que a inovação é fundamental para a estratégia organizacional, mas 48% encontram travas para colocá-la em prática. Líderes precisam saber conectar os talentos 6 dicas para implementar mudanças na empresa Os 10 principais desafios das lideranças nos próximos três anos Dentro dessa parcela, 15% percebem a resistência dos funcionários à inovação, 11% citam a falta de adesão das lideranças e apenas 7% sinalizam desafios tecnológicos. “Os números reforçam que inovação está relacionada ao comportamento das equipes, não à tecnologia. Ela precisa sair das salas de reuniões e atingir toda a empresa”, diz Thais Pegoraro, sócia da consultoria EXEC, de seleção de executivos, e membro da Panorama. “O time operacional deve focar na execução e entrega de metas, enquanto os líderes precisam se concentrar na adaptação do modelo de negócio, a fim de garantir que mudanças sejam normalizadas.” Para a especialista, a chave de uma cultura de inovação forte está na transformação da mentalidade dos funcionários. “A inovação só começa quando as pessoas agem de forma diferente”, destaca Pegoraro. Pequenas modificações em processos de trabalho e na atitude dos gestores são necessárias para que a inovação “floresça” no ambiente corporativo, continua. “Um exemplo é criar fóruns sobre ‘falhas’ e objetivos para que os times funcionem como ‘squads’ multidisciplinares, estimulando a experimentação com rotinas ágeis de produção.” A alta administração é essencial no arranque da inovação, assinala. “Mas o líder precisa ser capaz de conduzir essa transição”, afirma. “Deve ter uma visão de inovação adequada ao negócio e saber influenciar pessoas.” Identificar métricas de incremento de projetos e negociar com os stakeholders uma autonomia de orçamento, com recursos dedicados ao RH e à área de tecnologia, também são diretrizes que não podem sair da agenda das chefias da área, acrescenta Pegoraro. É o que faz Rodrigo Demarch, diretor-executivo de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, complexo de saúde que conquistou a primeira colocação no ranking “Valor Inovação Brasil 2024”, principal premiação no campo de pesquisa, desenvolvimento e inovação do país, realizada pelo Valor, em parceria com a Strategy&, da consultoria PwC. “Minha principal responsabilidade é desenvolver uma estratégia de inovação”, diz. “Esse papel considera a área como uma unidade de serviço, facilitando a conexão com outros departamentos e líderes. Uma parte significativa do trabalho é engajar as equipes em projetos e identificar como a inovação pode agregar valor a eles.” A agenda de Demarch, que se reporta diretamente ao CEO do Einstein, envolve o relacionamento com atores da indústria, busca de parcerias e alianças com startups. Ele também dá mentoria para empreendedores e supervisiona ações de corporate venture capital (CVC) e de validação de tecnologias. Para dar conta da diversidade de tarefas, a aposta foi investir em pessoal. O braço de pesquisa e inovação do Einstein conta com 458 profissionais, distribuídos em setores como pesquisa (235 pessoas), big data (112) e inovação (111). Este ano, foram contratados dois executivos para coordenar projetos de gerência médica e venture building (criação de startups). “Temos vagas abertas em São Paulo, Goiânia e no centro de inovação em Manaus, inaugurado no primeiro semestre”, diz o diretor. “De maneira geral, procuramos técnicos, entre mestres e doutores, em nichos como biotecnologia, digital e ciência de dados, com conhecimento em empreendedorismo”. Dos 111 profissionais dedicados à inovação na equipe, 14 têm doutorado e sete concluíram mestrados. Na PepsiCo, empresa global de alimentos e bebidas, um dos segredos para gerar novas ideias é alinhar expectativas sobre o tema com gestores de todos os departamentos. “A conexão com a alta liderança é fundamental, mas para que a inovação aconteça, precisamos estar em contato com diversas frentes da organização”, explica Carolina Sevciuc, diretora sênior de estratégia e transformação da PepsiCo no Brasil, responsável pela inovação na companhia. “Junto às divisões de pesquisa e desenvolvimento, vendas e marketing, por exemplo, essa troca resulta em ganho de agilidade no desenvolvimento de produtos, digitalização da força de vendas e trocas com startups.” Segundo a executiva, um dos primeiros passos na jornada de inovação do grupo foi colocar os funcionários “a bordo, para que se sentissem parte da solução”. “Oferecemos um programa chamado ‘We digital’, com recursos educacionais de progressão de carreira, com assuntos como liderança, gerenciamento e novas habilidades”, relata. A equipe de inovação da PepsiCo no Brasil conta com mais de 150 integrantes, sendo 7,6% do total com mestrado e 1,3% com doutorado no currículo. Doze funcionários foram contratados em 2023 e 16 em 2024. Há três posições em aberto. “O mais importante é se cercar de pessoas curiosas, com pensamentos divergentes”, ensina. “É o que chamo de ‘desconforto’ positivo.” Sevciuc sugere que as lideranças recorram à empatia e escuta ativa com o intuito de manter os funcionários afinados com os planos da área. “[É essencial] construir um ambiente de trabalho com equipes motivadas e estar aberto a rever conceitos”, diz. “Para que isso aconteça, a diversidade é crucial, pois nos mostra pontos de vista que, por conta de vieses, muitas vezes não enxergamos.”
Há um declínio de 73% na vida selvagem registrado em 50 anos, entre 1970 e 2020. Trata-se de mais um indicador de que a Terra se aproxima de pontos de não retorno perigosos. Especialistas dizem que os próximos cinco anos serão decisivos para enfrentar as crises climática e de biodiversidade.
O rendimento dos profissionais que atuam em áreas ligadas à Matemática equivalem a 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Esse é um dos resultados do estudo “Contribuição da Matemática para a economia brasileira” realizado pelo Itaú Social a partir de uma articulação com o IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada).
“Matemática não é para mim”. Quantas vezes ouvimos essa frase de crianças e adolescentes, como se seu destino já estivesse traçado e ele não tivesse espaço para essa área do conhecimento? “Vamos melhorar a alfabetização primeiro, que a matemática vai melhorar naturalmente, porque os estudantes vão conseguir ler e compreender melhor os problemas”. Quantas vezes ouvimos essa explicação do porquê a disciplina tende a ficar de lado nos investimentos em prol da melhoria do ensino e aprendizagem? Os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), mostram que é mais que a hora do país abraçar uma agenda que transforme esse cenário, e numa velocidade exponencial. Desde o início das avaliações padronizadas em 2005, o desempenho dos estudantes em matemática permanece aquém do esperado para cada etapa escolar. Apesar de ainda não termos o detalhamento que os microdados do Saeb oferecem, os resultados de 2023, divulgados em agosto, apontam um declínio no desempenho dos estudantes em todas as etapas de ensino. O problema já se manifesta nos anos iniciais do Ensino Fundamental, quando, em 2023 atingiu-se a média de 218,26, valor menor do que antes da pandemia, de 222,41 em 2019. Esse cenário significa que estudantes do quinto ano não conseguem, por exemplo, converter horas em minutos ou calcular a área de uma figura. O quadro é semelhante em outras etapas. Em 2023, a média obtida para os anos finais foi de 257,1, equivalente, por exemplo, a não conseguir calcular porcentagens e analisar dados em uma tabela. É um equívoco naturalizar qualquer fracasso. Não podemos aceitar que essa seja uma área do conhecimento inacessível. A atenção começa nas primeiras experiências das crianças com os números, pois vivências negativas, tanto em casa quanto na escola, podem gerar uma aversão à matemática, que se perpetua ao longo da vida. A percepção generalizada de que a disciplina é difícil aumenta a ansiedade dos alunos e prejudica seu desempenho. Ao negligenciar o aprendizado da matemática, reforçamos as desigualdades e perdemos enquanto sociedade. O estudo “Contribuição dos Trabalhos Intensivos em Matemática para a Economia Brasileira”, realizado pelo Itaú Social e Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) revelou que profissões ligadas à disciplina são mais resilientes a crises como a da pandemia, e oferecem salários 119% superiores à média das demais ocupações. No entanto, apenas 31% dessas vagas são ocupadas por mulheres, e as pessoas negras representam apenas 36% dos profissionais na área, segundo dados de 2023. A sub-representação de mulheres e pessoas negras em áreas valorizadas pela matemática, como tecnologia da informação, serviços financeiros, jurídicos e contábeis, arquitetura e engenharia, sustenta desigualdades. Estamos perdendo a oportunidade de incluir pessoas desses grupos no mercado de trabalho, de transformar suas realidades e, com elas, o potencial social e econômico do país. Estratégias incluem investir na formação inicial dos pedagogos que ensinam na educação infantil e do primeiro ao quinto ano. Igualmente importante é a qualidade das licenciaturas de matemática, para os professores especialistas que ensinam a partir do sexto ano do Fundamental até o final do Ensino Médio. Não podemos perder de vista a evasão nas licenciaturas - 67% nas de matemática - e a dificuldade de retenção de professores, o que reforça a importância de um olhar mais sistêmico para a valorização dessas carreiras docentes. Formação continuada de qualidade para professores precisa vir acompanhada do apoio técnico aos gestores escolares, para que saibam como contribuir com o ensino da matemática em suas escolas, mesmo sem formação na área. No campo curricular, é importante que todos - inclusive estudantes e famílias - compreendam quais são as aprendizagens esperadas a cada ano escolar. Paralelo a isso, é preciso oferecer aos professores recursos que vão além dos livros didáticos, permitindo o desenvolvimento de projetos com aplicabilidade no mundo real e com recursos tecnológicos, uma demanda expressa pelos próprios estudantes durante a Semana da Escuta das Adolescências, realizada neste ano, que ouviu mais de 2,2 milhões de alunos. Neste momento, com a reformulação do Saeb e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), temos uma janela de oportunidade para avaliações educacionais que ofereçam tarefas mais complexas e engajadoras, dando um passo além das perguntas de múltipla escolha que caracterizam a maioria das avaliações padronizadas no país. Boas práticas adotadas com sucesso dentro e fora do Brasil têm muito a ensinar. Por exemplo, há diferenças entre Estados em termos da sua velocidade de evolução. Quando se analisa a variação na proficiência média em matemática entre 2013 e 2023, destacam-se Ceará, Piauí e, em especial, Alagoas, com aumento de quase 30 pontos. Mesmo partindo de patamares mais altos, outros estados como Paraná e Goiás também se destacaram nesta década. O que foi feito em cada um destes contextos e o que nos ajuda a entender sobre caminhos possíveis? Estes e outros casos precisam ser explorados. Cada experiência de sucesso - de uma rede, de uma escola, de uma professora em sala de aula - mostra que a matemática não é um conhecimento reservado a poucos e deve ser urgentemente democratizada. Ela é uma linguagem essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional em um mundo cada vez mais tecnológico e permeado pela inteligência artificial. Isso exige a formulação de políticas educacionais que impulsionam o aprendizado, inclusive no esforço de reduzir as desigualdades sociais. Precisamos de um plano de longo prazo, que transcenda ciclos eleitorais e envolva governos em todos os níveis, além de universidades, empresas, sociedade civil, professores, estudantes e famílias. Não deixemos os professores que ensinam matemática sozinhos, sem apoio da sociedade neste esforço. Que múltiplos atores se unam em prol de condições necessárias para que cada e toda criança, e adolescente chegue ao final do Ensino Fundamental com todas as oportunidades que a matemática pode proporcionar. Priorizá-la agora é decisivo para o desenvolvimento do nosso país.
A realidade é outra. A percepção, a opinião e a vontade política das pessoas mudaram nos últimos tempos por diversas razões. A rigor, os conservadores de direita não conquistaram as massas; foram as próprias massas que se tornaram mais conservadoras e radicalizadas à direita. E, cada vez mais, afastadas da esquerda e dos progressistas, tanto em seu imaginário quanto em seus valores. Mais do que distantes, muitos se tornaram genuinamente hostis. A verdade é que uma parte significativa dos eleitores não apenas fez uma guinada impressionante para a extrema direita e o conservadorismo como tem mantido consistentemente essa direção. Desde 2016, quando essa virada começou, já são cinco eleições nessa toada, e a "novidade" logo completará uma década. As explicações clichês —que a virada foi fruto de um rompante, um impulso, ou de que foi resultado de manipulação e engodo— parecem insuficientes para explicar por que os eleitores permanecem nessa rota após tantos anos e depois de tudo o que sabem. Rompantes tendem a ser arrefecidos com o tempo, quando o sangue esfria e a racionalidade volta a prevalecer. Manipulações, por sua vez, costumam ser desmascaradas e, uma vez expostas, é difícil alegar engano continuado. Portanto, seja qual for a causa inicial dessa mudança, ignorância, manipulação e sentimentos não explicam por que essa guinada persiste. O que pode ter sido um cheque em branco em 2018, em 2024 é uma escolha deliberada. Em 2019, era natural perguntar quando os eleitores de alternativas radicais antipolítica e populistas, movidos por raiva, frustração e medo, iriam "acordar" e perceber o quão nocivo é o extremismo que levaram ao poder, para então retornar à alternância republicana normal entre esquerda, centro e direita. Agora, precisamos entender por que uma parte significativa do eleitorado continua votando na extrema direita ou em ultraconservadores, apesar de tudo o que já se sabe sobre como governam e as consequências de seu comportamento para a vida pública e a democracia.
Está mais do que na hora de mudarmos essas leis. O Código Penal precisa atender às mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Eu não quero de jeito nenhum vegetar num leito, sujeito à imprevisibilidade da visita da senhora com a foice, porque ela poderá me encontrar em condições indignas que ficarão gravadas para sempre na memória das pessoas que mais amo. Nos tempos do Carandiru, ouvi de seu Araújo, um velho carcereiro: "Doutor, sabendo levar, a vida é uma festa". É verdade, mas toda festa uma hora acaba. Diante da possibilidade de perder a consciência no fim dela, preciso ter o direito de estabelecer as condições em que pretendo me retirar. Não quero ficar até entrar em coma alcoólico, dando trabalho aos donos da casa. Enquanto tenho pleno domínio de minhas faculdades mentais, as leis devem me assegurar o direito de registrar em cartório as condições em que minha morte deve ser antecipada, por meios farmacológicos. É um tema controverso, mas a sociedade precisa enfrentá-lo. É possível definir regras claras para que a vontade do declarante seja respeitada. Por exemplo: ele não quer continuar quando não reconhecer mais ninguém e perder o controle dos esfíncteres ou quando passar os dias mudo olhando para o teto ou quando estiver sem memória e precisar de uma sonda gástrica para não morrer de inanição. Para os mais religiosos, que consideram a vida um dom divino que só pode ser confiscado pelo Criador, é importante não esquecer que concordamos com a doação dos órgãos de uma pessoa com morte encefálica. No entanto, o coração ainda pulsa e os pulmões trocam gás carbônico pelo oxigênio que a circulação leva para todas as células; só o cérebro morreu. A eutanásia é aceita porque estabelecemos uma hierarquia entre os tecidos do organismo na qual o sistema nervoso central tem primazia sobre os alvéolos pulmonares e as células musculares do coração. Consideramos que o funcionamento do sistema nervoso central é o que nos confere a condição humana. Qual a razão para não agirmos em respeito à mesma lógica quando a demência nos roubar a cognição?
Há mais de 30 anos acompanhando o Prêmio Jovem Cientista, o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, endossa a missão do projeto de despertar o interesse na ciência entre jovens do ensino médio e do ensino superior. Nesta 30ª edição, retomada em um contexto pós-pandemia, o tema foca no acesso à inclusão digital no país, um dilema enfrentado pelo governo federal, que tenta conectar todas as escolas públicas brasileiras. De acordo com Galvão, levar os estudantes a pensar soluções que podem ser aplicadas ao seu contexto social é benéfico tanto para a comunidade escolar quanto para o país. A disputa do prêmio, que está com inscrições abertas até o dia 15 de outubro, também possibilita formar carreiras científicas. Programa já premiou quase 200 pesquisadores e estudantes, além de 21 instituições “Esse prêmio é fundamental para atração de jovens talentos. Um levantamento pelo CNPq mostra que, entre os participantes que foram bolsistas, oito em cada dez continuaram sua carreira científica”, afirma Galvão. “Isso representa um farol para iluminar oportunidades, principalmente no ensino médio, período em que ser pesquisador ainda não é opção tão difundida.” Ainda segundo o presidente do CNPq, o tema desta edição se relaciona ao Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, lançado pelo Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos este ano. A iniciativa promete ampliar a inclusão digital até 2028 e prevê investimentos de R$ 1,76 bilhão para o uso de IA na melhoria dos serviços públicos. “O objetivo do plano é transformar o Brasil em um modelo global de eficiência e inovação no uso de IA no setor público, desenvolvendo soluções que melhorem significativamente a oferta e a satisfação dos cidadãos. Esperamos que as ideias dos participantes do Jovem Cientista, em todos os níveis, contribuam para essa pauta”, completa Galvão. A premiação busca projetos que abordem questões que vão da construção de modelos usando inteligência artificial para questões de saúde pública, educação e sustentabilidade, à necessidade de uma discussão mais filosófica sobre a ética em tempos de realidade virtual. Retomado após quatro anos, o prêmio é uma iniciativa do CNPq em parceria com a Fundação Roberto Marinho, conta com patrocínio da Shell e apoio de mídia da Editora Globo e do Canal Futura. Cinco categorias Os interessados podem se inscrever no site jovemcientista.cnpq.br. Entre as premiações previstas, estão laptops, bolsas do CNPq e valores em dinheiro que vão de R$ 12 mil a R$ 40 mil. O Jovem Cientista já premiou quase 200 pesquisadores e estudantes, além de 21 instituições de ensino superior e médio ao longo de 37 anos. As cinco categorias contempladas são: Mestre e Doutor, Estudante do Ensino Superior, Estudante do Ensino Médio, Mérito Institucional e Mérito Científico. Esta última categoria celebra um pesquisador doutor que, em sua trajetória, tenha se destacado na área relacionada ao tema da edição.
O Bradesco BBI revisou os seus modelos para as empresas do setor de educação, de forma a incorporar os resultados mais fracos no curto prazo e, de forma conservadora, os riscos potenciais relacionados às próximas mudanças na regulamentação da educação a distância (EAD) e excesso de oferta em medicina. Os impactos em seus preços-alvo foram de uma redução entre 14 e 21% em relação ao EAD e Medicina.
Esta é a 9a edição das Quase 24 h ao Vivo. Neste ano, 2024, a transmissão iniciou-se às 18h do dia 14 de outubro, horário de Brasília. A transmissão é dividida em quatro links (sucessivos) para garantir a qualidade da transmissão e a gravação completa. Este é o 1o (dos 4 links/turnos) da transmissão. Abaixo, a lista dos convidados/temas de cada um dos bate-papos:
14 de outubro NOITE 18h | Dora Kaufman | Inteligências Artificiais 19h | Gustavo Esteves | Menos Achismo, Mais Dados 20h | Luciano Sathler, PhD | Microcertificações com Blockchain 21h | Jose Eustáquio Diniz Alves | Revolução Demográfica 22h | Juliana Ragusa | Cultura Maker e Inovação Pedagógica 23h | Saulo Reis | Data Science
@CertifikEDU e @strateegia apoiam esta edição com certificados digitais (Open Badge) e com plataforma para debates com assistentes de IA, respectivamente.
A entrada de filhos em escolas de período integral libera tempo para que mães possam voltar mercado de trabalho, aumenta taxas de ocupação entre esse grupo e também a renda das famílias. É o que mostra estudo de economistas do Núcleo de Estudos Raciais (Neri) do Insper e do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). O estudo revela que os resultados são ainda mais relevantes quando se olha para mães mais jovens, população negra e também em recortes de escolaridade e renda. “A literatura acadêmica mostra que colocar a criança na escola tem efeito importante sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho, ajudando a reduzir a desigualdade de gênero. O que esse trabalho revela é que esse efeito cresce se as mães tiverem mais horas livres durante o dia”, diz o pesquisador do Neri e do Ibre, Daniel Duque, que assina o trabalho com Michael França e Milena Mendonça. A partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, os pesquisadores focaram nos indicadores de mercado de trabalho de mães (e pais) de filhos que fizeram a transição de escolas públicas de meio período para período integral. Eles olharam para dados de 2016 a 2023, quando a parcela de alunos em escolas públicas passou de 4,6% para 9,2% no Brasil. Entre mães com filhos de 6 a 17 anos que fizeram a transição para escolas em período integral, a participação no mercado de trabalho - estar empregado ou a disposição em procurar emprego - subiu 1,88 ponto percentual (p.p.) na comparação com mães cujos filhos permaneceram no ensino tradicional. A taxa de ocupação avançou 1,19 p.p. Essas mães trabalharam, em média, 0,83 hora por semana a mais e o rendimento do trabalho cresceu em R$ 38,72. Entre mães de filhos mais jovens, entre 6 e 12 anos, o efeito da escola em turno duplo é ainda mais pronunciado. A taxa de participação no mercado de trabalho subiu 3,93 pontos percentuais, enquanto a ocupação avançou 2,89 pontos. Elas também trabalharam 1,6 hora a mais por semana. Para mães negras e pardas com filhos entre 6 e 17 anos, esse efeito também é maior: a taxa de ocupação cresce em 2,43 pontos percentuais, enquanto a jornada de trabalho semanal avança 1,2 hora. No recorte de mães com filhos mais novos, a taxa de participação sobe em 4,73 p.p., e a ocupação, em 4,3 p.p. A jornada semanal cresce em 1,8 hora. Resultados na mesma direção são observados entre mães com o ensino médio incompleto. Entre aquelas com filhos entre 6 e 17 anos, a participação no mercado de trabalho sobe 3 pontos percentuais, e a ocupação, 2,97 p.p. Essas mães trabalham 1,2 hora a mais por semana, na comparação com mães de escolaridade semelhante cujos filhos permaneceram em turno único. Novamente, mães com filhos mais jovens são mais beneficiadas - a participação no mercado, ocupação e jornada semanal cresce, respectivamente, em 4,62 p.p., 2,72 p.p. e 1,2 hora. “Esses resultados fazem sentido, já que famílias mais ricas têm opção de pagar escola particular, que pode ter carga horária maior. Além disso, crianças menores exigem uma carga maior de cuidados, o que é aliviado quando elas passam a ficar mais tempo na escola”, diz Duque. Pesquisa mostra que mulheres com filhos mais tempo na escola trabalharam e ganharam mais O efeito da escola integral sobre a participação no mercado de trabalho dos homens não é significativo. Para os autores, isso reforça a tradicional divisão desigual da carga de cuidados em relação aos filhos entre famílias brasileiras. Os pesquisadores também não analisaram possíveis diferenças regionais, mas Duque avalia que o efeito do ensino em tempo integral seja mais intenso no Norte e Nordeste. Isso ocorre porque Estados dessas regiões têm parcela maior de famílias vulneráveis, mais filhos por família e também maior número de crianças menores, já que o perfil demográfico é mais jovem. O trabalho também aponta que o ganho salarial encontrado pela maior inserção feminina no mercado de trabalho equivale a cerca de 10% do gasto para dobrar a quantidade de horas letivas, considerando apenas uma sala de aula com 30 alunos e seis professores e o piso nacional da educação (R$ 4.420). “Muito se fala sobre como um gasto corrente maior com a implementação do ensino integral teria um efeito futuro sobre a economia, de crescimento. O que estamos mostrando é que já existem efeitos ocorrendo neste exato momento com a adoção da política”, diz Duque. A maternidade é um dos fatores determinantes na inserção mais baixa da mulher no mercado de trabalho. Segundo a Pnad Contínua, o nível de ocupação entre mulheres ficou em 48,1% no segundo trimestre, recorde histórico da pesquisa, iniciada em 2012. Ainda assim, está 20,2 pontos percentuais abaixo do nível de ocupação entre homens (68,3%). Um estudo recente de técnicos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) mostrou que mulheres têm, em média, 20% menos chance de estarem no mercado de trabalho que homens que também tiveram filhos. Esse efeito é agravado entre famílias de renda mais baixa e também perdura no tempo. Mesmo dez anos após o nascimento da criança, a chance de uma mãe estar trabalhando é 13% menor que o de um pai. Outro trabalho, da economista do Ibre Janaina Feijó, mostrou que mesmo as mulheres que permanecem no mercado de trabalho têm sua carreira afetada pela decisão de ter filhos. A proporção de mães em cargos mais altos (e que pagam salários melhores) é de 23%, contra 38% de mulheres em geral - homens são 62%. Segundo Duque, os próximos passos da pesquisa envolvem explorar se a qualidade do ensino na região em que se encontra a escola integral afeta a participação das mães no mercado de trabalho. Outro ponto a ser estudado é como políticas de transferência de renda afetam a participação feminina. Duque é autor de estudos que mostram que a expansão do programa Bolsa Família desencorajou a participação no mercado de trabalho dos mais vulneráveis. “O Bolsa Família tem entre as condicionalidade a manutenção do filho na escola. Uma hipótese é a de que mães em famílias que recebem o Bolsa Família não desejam participar do mercado de trabalho. Se este for o caso, o efeito do ensino integral sobre a penalidade da maternidade seria nulo. Por outro lado, pode ocorrer que essas mães, sabendo dessa condicionalidade, encorajam seus filhos a ter frequência maior nas escolas e, com isso, liberem quantidade de tempo maior para outras tarefas, incluindo trabalhar”, explica.
Equipe de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social elencou os principais pontos de atenção para uma análise mais efetiva das informações divulgadas nesta sexta-feira, dia 16, pelo MEC e Inep
Estar à frente das diretorias de inovação requer habilidade no gerenciamento de equipes, facilidade de conexão com pares e atenção às prioridades dos negócios. Um estudo da consultoria de inovação ACE Cortex com lideranças de 300 companhias de 40 setores no Brasil, a maioria com faturamento acima de R$ 1 bilhão, revela que os principais fatores que contribuem para a geração de resultados na área são ter uma estratégia de inovação atrelada aos objetivos da organização (34%), uma cultura consolidada para promover projetos inovadores (30%) e lideranças “visionárias” (23,6%). “O líder deve se portar como um ‘conector’ e desenvolvedor de talentos”, diz Milena Fonseca, sócia e CEO da ACE Cortex. “O primeiro ponto [para garantir inovação] é criar um alinhamento estratégico, em que a alta liderança comunica a importância da inovação e diz como ela se encaixa nas metas da companhia.”
Uma pesquisa inédita realizada pelo Itaú Social, com apoio do IMPA, revela que os rendimentos dos profissionais que atuam em áreas ligadas à matemática corresponderam a 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, entre os anos de 2012 e 2023. O estudo “Contribuição da Matemática para a economia brasileira”, divulgado nesta terça-feira (20), mostra ainda que o grupo representa 7,4% dos trabalhadores do Brasil – uma participação pequena comparada aos países europeus. Na França, uma pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica mostra que o grupo de profissionais ligados à matemática soma 10% dos trabalhadores e representa 18% do PIB do país, conforme estudo divulgado. Para Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, as diferenças não configuram uma notícia ruim.
Um estudo recente descobriu que o aumento do tempo de tela está associado a níveis mais altos de depressão, ansiedade e problemas de atenção entre crianças de 9 e 10 anos. Acompanhando um grupo diverso por dois anos, os pesquisadores descobriram que atividades como bate-papo por vídeo, mensagens de texto e jogos estavam mais fortemente ligadas a sintomas depressivos. O uso de telas parece deslocar atividades benéficas como exercícios e interações pessoais, potencialmente amplificando os sintomas de saúde mental. Curiosamente, o efeito do tempo de tela variou entre os grupos raciais, com adolescentes brancos mostrando associações mais fortes entre o uso de telas e os sintomas de saúde mental do que seus pares negros ou asiáticos. Principais fatos Passar mais tempo em telas aumenta a probabilidade de crianças de 9 e 10 anos desenvolverem sintomas de doença mental, de acordo com um estudo da Universidade da Califórnia em São Francisco, que é uma das primeiras análises de longo prazo sobre o problema. O estudo acompanhou um grupo diversificado de crianças de todo o país por dois anos e descobriu que mais tempo de tela estava associado a sintomas mais graves de depressão, ansiedade, desatenção e agressão. Os efeitos foram pequenos, mas consistentes. O tempo de tela estava intimamente ligado a sintomas depressivos e, em menor extensão, a sintomas de conduta, somáticos e de déficit de atenção/hiperatividade. As atividades mais fortemente associadas a sintomas depressivos foram bate-papo por vídeo, mensagens de texto, assistir a vídeos e jogar videogames. “O uso de telas pode substituir o tempo gasto em atividades físicas, sono, socialização pessoal e outros comportamentos que reduzem a depressão e a ansiedade”, disse o autor principal Jason Nagata, MD, professor associado da Divisão de Medicina de Adolescentes e Jovens Adultos do Hospital Infantil Benioff da UCSF. Os efeitos do uso da tela parecem variar de acordo com a raça Adolescentes brancos tiveram associações significativamente mais fortes entre tempo de tela e sintomas depressivos, de déficit de atenção/hiperatividade e desafiadores oposicionais em comparação com adolescentes negros. Eles também tiveram associações mais fortes entre tempo de tela e sintomas depressivos em comparação com colegas asiáticos. Não houve diferenças por sexo. Quase metade dos 9.538 participantes do estudo não eram brancos e cerca de metade eram mulheres. “Para adolescentes de minorias, as telas e as mídias sociais podem desempenhar um papel diferente, servindo como plataformas importantes para se conectar com colegas que compartilham origens e experiências semelhantes”, disse Nagata. “Em vez de substituir relacionamentos presenciais, a tecnologia pode ajudá-los a expandir suas redes de apoio além do que é acessível em seu ambiente imediato.” A preocupação com a saúde mental dos adolescentes cresceu nos últimos anos, à medida que seu uso de telas aumentou. Os adolescentes têm 50% mais probabilidade de passar por um episódio depressivo grave e 30% mais probabilidade de cometer suicídio hoje do que há 20 anos. O tempo médio gasto a cada dia em telas por motivos não educacionais é agora de 5,5 horas para pré-adolescentes e 8,5 horas para adolescentes. Nagata disse que os pais podem desempenhar um papel essencial para ajudar a mitigar os efeitos negativos do tempo excessivo de tela. “A Academia Americana de Pediatria recomenda o desenvolvimento de um Plano de Uso de Mídia Familiar que considere as necessidades únicas de cada criança”, disse Nagata.
A Lava Jato, a campanha pela deposição de Dilma e a Grande Recessão (2014-2016) são marcas do começo da queda esquerdista. A disseminação de internet e mídias sociais, especialidade da ultradireita, e a nova classe média que ascendeu sob Lula ajudaram a formar um novo espírito antiesquerdista, que tomou parte da crescente, mas minoritária, população evangélica também (mas não só). Até o sucesso econômico e cultural do agro e o poder de novas elites econômicas do comércio e dos serviços devem ter pingado nesse caldo. Com escassas novas lideranças, sem mote novo, alheia aos espíritos do tempo, com capilaridade ainda menor no Brasil profundo dos centrões, estigmatizada, sem novas articulações, bases ou redes sociais, a esquerda está em um mato sem cachorro. Sobra Lula.
Dois pioneiros da inteligência artificial – John Hopfield e Geoffrey Hinton – ganharam o Prêmio Nobel de Física nesta terça por ajudarem a criar os alicerces do aprendizado de máquina, que está revolucionando a forma como trabalhamos e vivemos - mas também criando novas ameaças à humanidade, disse um dos vencedores. Hinton, conhecido como o "Padrinho da inteligência artificial", é cidadão do Canadá e do Reino Unido e trabalha na Universidade de Toronto, enquanto Hopfield é americano e trabalha em Princeton. “Os dois laureados do Nobel de Física deste ano usaram ferramentas da física para desenvolver métodos que são a base do poderoso aprendizado de máquina de hoje”, disse o comitê Nobel em comunicado à imprensa. Ellen Moons, membro do comitê Nobel da Academia Real de Ciências da Suécia, disse que os dois laureados “usaram conceitos fundamentais da física estatística para projetar redes neurais artificiais que funcionam como memórias associativas e encontram padrões em grandes conjuntos de dados”. Ela afirmou que essas redes têm sido usadas para avançar em pesquisas na física e “também se tornaram parte de nossas vidas diárias, por exemplo, no reconhecimento facial e na tradução de idiomas”. Hinton previu que a IA terá uma “enorme influência” na civilização, trazendo melhorias na produtividade e na saúde. “Seria comparável à Revolução Industrial”, disse ele durante a ligação aberta com repórteres e funcionários da Academia Real de Ciências da Suécia. “Em vez de superar as pessoas em força física, ela superará as pessoas em capacidade intelectual. Não temos experiência de como é ter coisas mais inteligentes do que nós. E será maravilhoso em muitos aspectos”, disse Hinton. “Mas também precisamos nos preocupar com uma série de possíveis consequências ruins, especialmente a ameaça de essas coisas saírem do controle”. O comitê Nobel que homenageou a ciência por trás do aprendizado de máquina e da IA também mencionou temores sobre o lado negativo da tecnologia. Moons disse que, embora tenha "enormes benefícios, seu rápido desenvolvimento também levantou preocupações sobre nosso futuro. Coletivamente, os humanos carregam a responsabilidade de usar essa nova tecnologia de maneira segura e ética para o maior benefício da humanidade". Hinton compartilha dessas preocupações. Ele deixou um cargo no Google para poder falar mais livremente sobre os perigos da tecnologia que ajudou a criar. Na terça, ele disse estar chocado com a honra. “Estou estupefato. Não tinha ideia de que isso aconteceria”, disse ele ao ser informado por telefone pelo comitê Nobel. Não houve reação imediata de Hopfield. Hinton, agora com 76 anos, ajudou a desenvolver, nos anos 1980, uma técnica conhecida como retropropagação, que foi fundamental para ensinar as máquinas a “aprender”. Sua equipe na Universidade de Toronto impressionou seus colegas ao usar uma rede neural para vencer a prestigiosa competição de visão computacional ImageNet em 2012. Essa vitória gerou uma enxurrada de imitadores, dando origem ao avanço da IA moderna. Hinton e outros cientistas de IA, Yoshua Bengio e Yann LeCun, ganharam o maior prêmio da ciência da computação, o Prêmio Turing, em 2019. “Por muito tempo, as pessoas acharam que o que nós três estávamos fazendo era bobagem”, disse Hinton à Associated Press em 2019. “Eles achavam que estávamos muito enganados e que o que estávamos fazendo era uma coisa muito surpreendente para pessoas aparentemente inteligentes perderem tempo. Minha mensagem para jovens pesquisadores é: não se deixem abater se todos disserem que o que vocês estão fazendo é tolice.” Hopfield, agora com 91 anos, criou uma memória associativa que pode armazenar e reconstruir imagens e outros tipos de padrões em dados, segundo o comitê Nobel. “O que mais me fascina ainda é esta questão de como a mente surge da máquina”, disse Hopfield em um vídeo postado online pelo Instituto Franklin após ele receber um prêmio de física em 2019. Hinton usou a rede de Hopfield como base para uma nova rede que utiliza um método diferente, conhecido como máquina de Boltzmann, que, segundo o comitê, pode aprender a reconhecer elementos característicos em um determinado tipo de dado. Seis dias de anúncios do Nobel começaram na segunda com os americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun ganhando o prêmio de Medicina por sua descoberta de pequenos fragmentos de material genético que atuam como interruptores nas células, controlando o que elas fazem e quando fazem. Se os cientistas conseguirem entender melhor como eles funcionam e como manipulá-los, isso poderá um dia levar a tratamentos poderosos para doenças como o câncer. O prêmio de Física inclui uma premiação em dinheiro de 11 milhões de coroas suecas (US$ 1 milhão) de um legado deixado pelo criador do prêmio, o inventor sueco Alfred Nobel. Os laureados são convidados a receber seus prêmios em cerimônias no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Nobel. Os anúncios do Nobel continuam com o prêmio de Química, na quarta, e Literatura ,na quinta. O Prêmio Nobel da Paz será anunciado na sexta e o prêmio de Economia em 14 de outubro.
O Ministério da Educação apresentará um projeto de lei para vetar aparelhos em todas as instituições de ensino. g1 visitou três colégios que, mesmo antes da decisão da pasta, já implementam a regra — os smartphones não são permitidos nem na hora do recreio.
Se várias vezes as escolhas do Comitê do Nobel costumam ser classificadas como desconectadas de seu tempo, o anúncio dos laureados com o prêmio de Física deste ano vai em direção oposta, jogando luz em um debate contemporâneo: os potenciais e riscos da inteligência artificial para a humanidade. O prêmio foi concedido a John Hopfield, de 91 anos, da Universidade de Princeton (EUA), e Geoffrey Hinton, 76 anos, da Universidade de Toronto (Canadá), por seu trabalho pioneiro no campo das redes neurais artificiais e do ‘machine learning’. Em maio do ano passado, Hinton pediu demissão de um alto cargo no Google e, em entrevista ao jornal americano The New York Times, denunciou o perigo das novas tecnologias em desenvolvimento., que ele mesmo ajudou a criar. Em 2018, Hinton e outros dois colaboradores de longa data receberam o prêmio Turing, frequentemente chamado de “Nobel da computação”, por seu trabalho em redes neurais. Em entrevista na manhã desta terça-feira, 8, concedida logo após o anúncio do prêmio, Hinton afirmou que a transformação imposta pela IA nos próximos anos será comparável à da Revolução Industrial, no século 19. “Mas, em vez de superar as pessoas na força física, vai superar as pessoas na força intelectual”, afirmou. “Não temos experiência de conviver com coisas mais inteligentes do que nós”, disse Hinton na entrevista. “E vai ser maravilhoso em muitos aspectos, vai nos dar um atendimento médico melhor; tornar quase todos os campos mais eficientes. Com um assistente de IA, as pessoas conseguirão executar o mesmo volume de trabalho em muito menos tempo”, acrescentou. “Isso vai trazer aumentos brutais na produtividade. Mas também temos de nos preocupar com uma série de possíveis consequências ruins, particularmente com a ameaça de que essas coisas saiam do controle”, continuou o pesquisador. Um jornalista presente lembrou da entrevista de Hinton ao The New York Times, em que ele admitia se arrepender de certos aspectos de seus trabalhos diante dos riscos a médio e longo prazo. “Há dois tipos de arrependimento”, explicou. “Há o arrependimento que sentimos quando fazemos algo que sabíamos que não deveríamos fazer. E há aquele arrependimento de algo que fazemos em certas circunstâncias e que pode acabar não terminando bem. Meu arrependimento é desse segundo tipo. Nas mesmas circunstâncias, eu faria o mesmo de novo, mas estou preocupado com as consequências, possibilidade de termos sistemas mais inteligentes do que nós e que assumam o controle.”
Desde o início dos anos 1990, testemunhei a evolução da internet, transformando-se de uma ferramenta experimental para o alicerce da economia global. As primeiras empresas dotcom enfrentaram ceticismo significativo de bancos e investidores, que viam a internet como uma moda passageira, incapaz de impactar profundamente os negócios. No entanto, a internet prosperou e remodelou indústrias inteiras, tornando-se vital em nossas vidas e em todos os setores da economia. No final dos anos 1990, a bolha das dotcoms cresceu rapidamente, com startups captando milhões de dólares em investimentos, muitas vezes com modelos de negócios incertos. Quando a bolha estourou em 2000, muitos declararam o fim do sonho da internet. Mas, como previu Rizwan Ali, ex-diretor de grandes bancos: “A internet entregará de 1.000 a 10.000 vezes mais do que o mais otimista empreendedor dotcom jamais sonhou”. Ele estava certo. Após a correção, a internet amadureceu, tornando-se a base da economia digital moderna. Hoje, estamos em um momento similar com a Inteligência Artificial (IA). Esta tecnologia promete transformar não apenas negócios específicos, mas reconfigurar toda a estrutura da sociedade e da economia, em uma escala que supera a própria internet. Executivos como Sundar Pichai (Google) e Jensen Huang (Nvidia) têm afirmado que a IA será a próxima grande onda transformadora. Pichai declarou: “Com o tempo, a Inteligência Artificial será a maior mudança tecnológica de nossas vidas. Maior que a transição do desktop para o mobile, e talvez maior que a própria internet”. Essa afirmação, embora audaciosa, é respaldada pelo impacto crescente da IA. A Nvidia, uma líder no desenvolvimento de IA, tornou-se uma das empresas mais valiosas do mundo. No entanto, após a divulgação dos resultados financeiros do segundo trimestre de 2024, as ações da Nvidia sofreram volatilidade, ilustrando que o mercado ainda ajusta suas expectativas sobre o verdadeiro valor da IA. Essa volatilidade marca não o fim, mas o início de um novo capítulo na revolução da IA. Estamos entrando na Fase II dessa evolução tecnológica, na qual seu verdadeiro potencial começará a ser concretizado. A IA já está impactando diversos setores de maneira significativa. Um exemplo é o arquiteto de sistemas britânico Joe Perkins, que utilizou o modelo GPT-4 para um projeto de desenvolvimento. Um programador experiente cobraria US$ 6.000 e levaria duas semanas para entregar o projeto; o GPT-4 concluiu a tarefa em três horas, a um custo de apenas 11 centavos de dólar. Esse exemplo demonstra a eficiência e a capacidade transformadora da IA, reduzindo custos e aumentando a produtividade. As projeções para o mercado global de IA são impressionantes. Estima-se que ele atinja US$ 260 bilhões até 2024 e possa chegar a US$ 47 trilhões até 2033, segundo a Dimension Market Research. A Goldman Sachs prevê que a IA contribuirá com um aumento de 1% no crescimento do PIB dos Estados Unidos em 2027, acelerando para 4% em 2034. Além disso, a PwC estima que a IA pode adicionar mais de US$ 15 trilhões à economia global até 2030. Esses números evidenciam uma tendência clara: a IA está se tornando um motor central do crescimento econômico, com potencial para transformar setores e criar novas oportunidades de negócios. Os avanços da IA também estão impulsionando uma mudança significativa na maneira como as empresas operam. Segundo o MIT Sloan Management, nove em cada dez organizações acreditam que a IA lhes trará vantagens competitivas. Mais da metade das empresas globais já utiliza alguma forma de aprendizado de máquina ou IA, de acordo com a O’Reilly. No setor de saúde, dois em cada cinco médicos já utilizam sistemas computacionais para apoiar diagnósticos, conforme dados da Gartner. Esses exemplos demonstram que a IA não é apenas uma tendência passageira, mas uma tecnologia com aplicações práticas e benefícios tangíveis. Enquanto a internet nos conectou e nos deu acesso a um vasto oceano de informações, a IA promete transformar a forma como utilizamos esse conhecimento, tornando processos mais eficientes, decisões mais informadas e abrindo novas fronteiras para a inovação É importante, porém, reconhecer que a IA ainda é uma tecnologia em evolução. Ela depende do input humano e não é inteiramente autônoma. A IA é um subconjunto do aprendizado de máquina, em que os dados fornecem feedback à máquina, permitindo que ela aprenda com seus erros e se torne mais eficiente. Essa capacidade de autotransformação diferencia a IA de tecnologias anteriores. Sua real inovação reside na habilidade de se corrigir e aprimorar continuamente, tornando-se uma ferramenta poderosa para resolver problemas complexos com maior rapidez e precisão. Além do impacto direto nos negócios, a IA está redefinindo a inovação e a eficiência. Uma área de grande promessa é a IA generativa, que utiliza modelos como o GPT para criar conteúdo e resolver problemas de forma autônoma. Outra tendência significativa é o uso da IA em Computação de Borda (Edge Computing), no qual a IA é instalada diretamente nos dispositivos para processar dados em tempo real, reduzindo a latência e permitindo respostas mais rápidas e eficientes. Isso é crucial em ambientes onde a velocidade de processamento é vital, como na indústria automotiva e na saúde. A IA também está desempenhando um papel fundamental na cibersegurança, ajudando a detectar e responder a ameaças de forma mais eficaz. Com a crescente integração com a Internet das Coisas (IoT), a IA está sendo amplamente utilizada para analisar dados de dispositivos conectados, melhorando a eficiência operacional e a tomada de decisões. Essa integração impulsiona a próxima onda de transformação digital, onde a IA e a IoT trabalharão juntas para criar sistemas inteligentes e autônomos, aumentando a eficiência e reduzindo custos. Diante deste cenário, a conclusão é clara: estamos à beira de uma nova era, na qual a IA será uma força motriz que irá redefinir a economia e a sociedade. Assim como a internet, a IA está prestes a remodelar nosso mundo de maneiras que ainda mal podemos imaginar. Enquanto a internet nos conectou e nos deu acesso a um vasto oceano de informações, a IA promete transformar a forma como utilizamos esse conhecimento, tornando processos mais eficientes, decisões mais informadas e abrindo novas fronteiras para a inovação. A IA representa não apenas a próxima fase da revolução digital, mas um salto qualitativo em como interagimos com a tecnologia. Ela promete não apenas transformar setores, mas reconfigurar toda a economia global, acelerando a inovação e possibilitando uma nova era de crescimento. Aqueles que aproveitarem essa onda estarão na vanguarda da próxima grande transformação, assim como aqueles que abraçaram a internet nas últimas décadas. A era da IA não está chegando; ela já está aqui. Seu impacto será, sem dúvida, maior do que qualquer coisa que já experimentamos.
Há uma percepção renitente, principalmente entre cérebros ultraliberais, de que os programas sociais de transferência de renda condenam as famílias à eterna pobreza. O Bolsa Família, segundo essas teorias, serviria para criar preguiçosos que desistem de procurar trabalho nas regiões mais pobres, o que teria impacto negativo na atividade econômica regional. Artigo publicado em setembro na Carta Econômica do Federal Reserve (Fed) de San Francisco contraria essa percepção. Baseia-se em estudo realizado por cinco economistas internacionais*, sob o título “O Impacto Macroeconômico das Transferências de Renda no Brasil”. A novidade do estudo, feito a partir de dados de 2004 a 2019, é que aborda em especial os efeitos potencialmente grandes e positivos do Bolsa Família na economia regional brasileira. E o resultado indica que o impacto é muito maior nas regiões mais pobres, porque os beneficiários do programa tendem a gastar seus recursos na compra de bens e serviços locais.
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