Não faz muito tempo que escolas particulares se gabavam de suas salas com notebooks e pufes coloridos, muitas vezes jogados sobre tapetes de grama sintética. Diante da angústia dos pais com o uso excessivo de tecnologia e seus prejuízos para crianças e adolescentes, o marketing da educação experimenta uma reviravolta em que aulas e recreios sem celular e com grama de verdade soam como vanguarda. O banimento do uso dos smartphones no ambiente escolar cresce no Brasil e em outros países e começa a entrar no rol de critérios para a escolha da escola de algumas famílias. É uma camada de pais que não negam a importância da tecnologia na educação, mas entendem que seus benefícios passam longe de intervalos com crianças e jovens com a cabeça curvada e os olhos mergulhados em uma tela. Embora esse seja um movimento crescente, o banimento ainda exige coragem dos gestores escolares. Colégios que tomaram essa atitude, apesar de terem recebido apoio da maioria das famílias, não deixaram de enfrentar resistência de uma parte delas. Isso sem falar dos estudantes, em especial os adolescentes. Os resultados começam a aparecer ao longo dos meses. Em escolas brasileiras e de outros países, os relatos são de que os alunos ficam mais focados, concentrados e, consequentemente, suas notas sobem; a ansiedade diminui, e aumenta a interação entre eles, além da disposição para ler livros, brincar e praticar esportes. Mas, até os benefícios ficarem claros, há uma travessia que envolve insegurança, irritação ou mesmo cenários mais complicados de abstinência. Além de bancar tudo isso, as escolas pioneiras no banimento não tinham clareza de como a proibição iria se refletir nas matrículas. Será que perderiam alunos? Ou ganhariam? A fase de matrículas está começando, e essas escolas afirmam que a procura tem sido animadora. Uma delas, de São Paulo, que adotou a medida no início de 2024, conta que bateu recorde de transferências no meio do ano e, para 2025, está com uma demanda 20% superior à que registrou nesse mesmo período no ano passado. Quando vão conhecer essas escolas, os pais se impressionam especialmente com o recreio, que ganha um ar "retrô", fica mais parecido com o do tempo deles. Colégios que nunca liberaram o celular, normalmente vistos como "alternativos", aqueles que têm no DNA a valorização do contato com a natureza e das artes, passaram a reforçar na comunicação a sua visão sobre tecnologia. Colocam-se, assim, como uma opção até mesmo para famílias afeitas a um ensino mais tradicional. Em paralelo, discute-se internacionalmente a proibição por lei. Vários países já adotaram restrições, entre eles os EUA, que inicia agora o ano letivo em meio ao que o jornal The New York Times chamou de "uma nova onda" de leis de banimento. No Brasil, a rede municipal do Rio foi a primeira no veto legal e, em São Paulo, há um projeto de lei na Assembleia Legislativa para proibir o uso do celular nas escolas públicas e privadas. Enquanto estamos no universo facultativo, entre as escolas que banem o celular e as que o liberam completo, há um mundo de regras e de visões sobre a relação entre tecnologia e educação. Seja qual for a escola e a escolha, o debate é mais que urgente.
O que acontece quando a maioria faz uso de uma IA para realizar suas atividades laborais? E, no caso dos estudantes, quando os trabalhos passam a ser produzidos com o apoio de uma IA generativa? Luciano Sathler É PhD em administração pela USP e membro do Conselho Deliberativo do CNPq e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais As diferentes aplicações de Inteligência Artificial (IA) generativa são capazes de criar novos conteúdos em texto, imagens, áudios, vídeos e códigos para software. Por se tratar de um tipo de tecnologia de uso geral, a IA tende a ser utilizada para remodelar vários setores da economia, com impactos políticos e sociais, assim como aconteceu com a adoção da máquina a vapor, da eletricidade e da informática. Pesquisas recentes demonstram que a IA generativa aumenta a qualidade e a eficiência da produção de atividades típicas dos trabalhadores de colarinho branco, aqueles que exercem funções administrativas e gerenciais nos escritórios. Também traz maior produtividade nas relações de suporte ao cliente, acelera tarefas de programação e aprimora mensagens de persuasão para o marketing. O revólver patenteado pelo americano Samuel Colt, em 1835, ficou conhecido como o "grande equalizador". A facilidade do seu manuseio e a possibilidade de atirar várias vezes sem precisar recarregar a cada disparo foram inovações tecnológicas que ampliaram a possibilidade individual de ter um grande potencial destrutivo em mãos, mesmo para os que tinham menor força física e costumavam levar desvantagem nos conflitos anteriores. À época, ficou famosa a frase: Abraham Lincoln tornou todos os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais. Não fazemos aqui uma apologia às armas. A alegoria que usamos é apenas para ressaltar a necessidade de investir na formação de pessoas que sejam capazes de usar a IA generativa de forma crítica, criativa e que gerem resultados humanamente enriquecidos. Para não se tornarem vítimas das mudanças que sobrevirão no mundo do trabalho. A IA generativa é um meio viável para equalizar talentos humanos, pois pessoas com menor repertório cultural, científico ou profissional serão capazes de apresentar resultados melhores se souberem fazer bom uso de uma biblioteca de prompts. Novidade e originalidade tornam-se fenômenos raros e mais bem remunerados. A disseminação da IA generativa tende a diminuir a diversidade, reduz a heterogeneidade das respostas e, consequentemente, ameaça a criatividade. Maior padronização tem a ver com a automação do processo. Um resultado que seja interessante, engraçado ou que chama atenção pela qualidade acima da média vai passar a ser algo presente somente a partir daqueles que tiverem capacidade de ir além do que as máquinas são capazes de entregar. No caso dos estudantes, a avaliação da aprendizagem precisa ser rápida e seriamente revista. A utilização da IA generativa extrapola os conceitos usualmente associados ao plágio, pois os produtos são inéditos – ainda que venham de uma bricolagem semântica gerada por algoritmos. Os relatos dos professores é que os resultados melhoram, mas não há convicção de que a aprendizagem realmente aconteceu, com uma tendência à uniformização do que é apresentado pelos discentes. Toda Instituição Educacional terá as suas próprias IAs generativas. Assim como todos os professores e estudantes. Estarão disponíveis nos telefones celulares, computadores e até mesmo nos aparelhos de TV. É um novo conjunto de ferramentas de produtividade. Portanto, o desafio da diferenciação passa a ser ainda mais fundamental diante desse novo "grande equalizador". Se há mantenedores ou investidores sonhando com a completa substituição dos professores por alguma IA já encontramos pesquisas que demonstram que o uso intensivo da Inteligência Artificial leva muitos estudantes a reduzirem suas interações sociais formais ao usar essas ferramentas. As evidências apontam que, embora os chatbots de IA projetados para fornecimento de informações possam estar associados ao desempenho do aluno, quando o suporte social, bem-estar psicológico, solidão e senso de pertencimento são considerados, isso tem um efeito negativo, com impactos piores no sucesso, bem-estar e retenção do estudante. Para não cair na vala comum e correr o risco de ser ameaçado por quem faz uso intensivo da IA será necessário se diferenciar a partir das experiências dentro e fora da sala de aula – online ou presencial; humanizar as relações de ensino-aprendizagem; implementar metodologias que privilegiem o protagonismo dos estudantes e fortaleçam o papel do docente no processo; usar a microcertificação para registrar e ressaltar competências desenvolvidas de forma diferenciada, tanto nas hard quanto soft skills; e, principalmente, estabelecer um vínculo de confiança e suporte ao discente que o acompanhe pela vida afora – ninguém mais pode se dar ao luxo de ter ex-alunos. Atenção: esse artigo foi exclusivamente escrito por um ser humano. O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luciano Sathler foi "O Ateneu" de Milton Nascimento.
Coincidências acontecem, mas algumas coincidências acontecem mais do que outras. Desde o início de 2023, os EUA têm apresentado um crescimento da sua produtividade três vezes acima da década anterior à pandemia. O PIB dos EUA vem também crescido além das expectativas e as frequentes correções das taxas de crescimento da economia têm sido uma curiosidade persistente nos EUA e em outros países ao redor do mundo. As novas descobertas científicas também têm aumentado a um ritmo acelerado. Atualmente, existem mais de 350 ensaios clínicos de vacinas contra o câncer, e cientistas da área já estão começando a falar, agora sem ironia, sobre a possibilidade de uma cura para o câncer. Essas coincidências vão se tornar cada vez mais frequentes, e aos poucos vai começar a ficar claro de que não se tratam de coincidências. Algo de muito importante aconteceu em novembro de 2022 que está começando a mudar a economia global. No dia 30 de novembro de 2022, uma empresa modesta e sem fins lucrativos chamada OpenAI lançou despretensiosamente o primeiro algoritmo conversacional de inteligência artificial (IA) que de fato funcionava, o ChatGPT. E desde então muita coisa mudou no mercado de trabalho. Rapidamente, profissionais de todas as áreas começaram a aplicar essa tecnologia para aumentar a sua produtividade - como no caso da escrita de melhores relatórios, na diminuição do tempo perdido com o preenchimento de burocracias, e no desenvolvimento de melhores códigos de programação. Essas primeiras aplicações práticas da IA no dia-a-dia das empresas e da ciência têm gerado uma revolução silenciosa que está apenas começando. Por mais que as grandes empresas de IA continuem a perder muito dinheiro, e que as novidades científicas que vêm diretamente dos algoritmos, como no caso do AlphaFold, sejam ainda muito raras, tudo indica que o impacto indireto dos algoritmos na produtividade já começou. O grande desafio para os próximos anos será definir como a riqueza gerada pela IA será distribuída pela sociedade. As grandes empresas irão tentar usar o seu poder de oligopólio para incorporar esses ganhos de produtividade para os seus donos e herdeiros. A sociedade precisa começar a se organizar para impedir que isso aconteça. Se a revolução da IA ficar nas mãos de poucos, apenas trocaremos velhos monopólios por novos. O desafio será garantir que essa tecnologia quebre barreiras, redistribua poder e transforme o progresso tecnológico em avanço social. O verdadeiro potencial da IA não está em automatizar o presente, mas em reprogramar o futuro. A IA só será revolucionária se for para todos.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA EM: https://www.estadao.com.br/link/empresas/o-futuro-das-redes-sociais-e-assustador-diz-orkut-buyukkokten/- Orkut Büyükkökten, criador do serviço que leva seu primeiro nome, está de saco cheio de redes sociais. Não que o engenheiro turco esteja cansado de um mercado que tenha ajudado a desbravar quando a internet brasileira era “mato”. Mas ele não vê com bons olhos os rumos que serviços do tipo tomaram nos últimos 10 anos, virando atalho para desinformação, polarização e degradação da saúde mental. A mudança dos serviços coincide com o período no qual a rede social Orkut esteve desativada. Neste dia 30 de setembro, completa-se dez anos do dia em que o Google encerrou o site que ensinou a muitos brasileiros o que é rede social, comunicação online e comunidades virtuais. Ao Estadão, Orkut refletiu sobre toda as transformações pelas quais passaram as redes sociais durante esse período - e a sua avaliação não é nada animadora.
“Com os algoritmos tão fortes, você fica sentado e espera o serviço trazer alguma coisa. E você reage e comenta. Nem parece rede social. O TikTok é uma plataforma de transmissão”, afirma Manuela Barem, jornalista e especialista em redes sociais. De fato, a ideia de que redes sociais “morreram” e deram lugar a plataformas de mídia é forte entre especialistas da área.
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Orkut nunca teve app para celular Foto: Rafael Henrique - stock.adobe.com Recentemente, usuários que não experimentaram a sensação de navegar por uma rede social livre de algoritmos se espantaram com a ausência de mediação. Com o bloqueio do X no Brasil, parte dos usuários da rede de Elon Musk migrou para o Bluesky - e se chocou com o suposto silêncio da rede, que adota organização cronológica de posts como era na internet orkutiana.
“Houve uma trend recente no Bluesky de pessoas ‘falando com o algoritmo’ numa tentativa de conectá-las a coisas de seu interesse. Isso é caricato e simbólico. Você não aciona um algoritmo como se estivesse falando com a Alexa”, diz Souza. Realmente, é a antítese da web 2.0, da qual o Orkut foi um grande símbolo: não existe mais construção contínua do espaço digital por parte de sua comunidade. Hoje, o algoritmo faz tudo por você.
Com os algoritmos tão fortes, você fica sentado e espera o serviço trazer alguma coisa. E você reage e comenta. Nem parece rede social. O TikTok é uma plataforma de transmissão
Manuela Barem, jornalista e especialista em redes sociais
Profissionalização A mudança de modelo foi determinante para a profissionalização não só das plataformas, mas também de seus usuários. “A rede social virou plataforma de entretenimento. É lugar para consumir fotos, vídeos e textos de pessoas que não são necessariamente próximas. São pessoas que você admira e em quem se inspira. É a ascensão das redes sociais como local por excelência dos influenciadores”, explica Souza.
Dessa maneira, “influenciador” virou profissão de desejo de muitos brasileiros. Segundo pesquisa da Nielsen, o País tem 10,5 milhões de influenciadores, com perfis tendo a partir de 1 mil seguidores. Esse número corresponde a um terço de toda a base de usuários do Orkut, quando ele perdeu o posto de rede social mais popular do Brasil.
Lan houses, como essa na favela Santa Marta, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, em 2009, eram pontos comuns de acesso ao Orkut Foto: Marcos De Paula/AE Para muita gente se comportar profissionalmente desde o primeiro momento em que se pisa numa rede social se tornou peça importante do jogo - é um contraste principalmente aos primeiros anos de Orkut, quando viver de internet parecia um sonho para poucos.
“Entra muita gente nova nas redes já copiando outras pessoas. Copiam a estratégia e o conteúdo inteiros. Muitas vezes, eles nem sabem que copiar pega mal. A pessoa já chega com a ideia de que vai virar influenciador e vai passar por cima de todo mundo. Ela só está sedenta por tirar algum ganho daquela presença ali nas redes”, diz Manuela.
“O fim do Orkut também representou o fim da inocência de toda uma era antes da monetização de conteúdos e o advento dos algoritmos ditando o alcance de publicações”, diz Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais.
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O fim do Orkut também representou o fim da inocência de toda uma era antes da monetização de conteúdos e o advento dos algoritmos ditando o alcance de publicações
Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais
Faz mal Embora o Orkut represente uma certa inocência na internet, ele não estava livre de problemas sérios. A companhia era inundada de conteúdo ilegal e criminoso.
“Os problemas jurídicos causados pelo compartilhamento ilegal de obras com copyright e conteúdos pornográficos, assim como a criação de comunidades com conteúdos racistas e troca de informações entre pedófilos, homofóbicos e outros tipos de criminosos, sem que houvesse um modo eficaz de coibir essas comunicações dentro da interface do Orkut, mostrou o lado danoso de uma rede social sem uma política eficaz de moderação de conteúdos e proliferação e perfis anônimos ou fakes”, lembra Alexandre Inagaki, consultor em redes sociais.
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Facebook vai mudar para tentar atrair geração Z; veja as novidades Em 2008, como resultado da ‘CPI da pedofilia’, o Google fechou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal para a remoção e fornecimento de informações sobre contas que promoviam pornografia infantil. Em 2014, dois advogados da gigante no País foram detidos por suposto não cumprimento do acordo. E a fundação em 2005 da SaferNet, uma das principais organizações brasileiras de combate à violação aos direitos humanos, está intimamente ligada ao combate de pornografia infantil no Orkut.
No entanto, o lado nocivo das redes sociais só se agravou na década em que o Orkut esteve ausente e trouxe novos problemas, como polarização, desinformação, extremismo político, ansiedade, cultura do cancelamento e problemas de saúde mental, especialmente em jovens. Três episódios marcantes do período são o caso Cambridge Analytica (2018), o 8 de janeiro em Brasília (2023) e as desculpas de Mark Zuckerberg em audiência no senado americano a pais de crianças que morreram por depressão e bullying originados no Instagram (2024).
Felix Ximenes, representante do Google Brasil em 2008, entrega documentos à CPI da pedofilia Foto: Ed Ferreira/AE Assim, moderação de conteúdo virou o tema da década - e segue emperrado no Congresso. “O debate sobre moderação de conteúdo nas redes sociais já existia, mas não com a sofisticação que ele vai ganhar na segunda metade dos anos 2010, tanto que o Marco Civil da Internet não fala sobre padrões de moderação de conteúdo. Isso é uma questão que eu acho que aparece em especial nesses anos 10, mas numa segunda metade”, afirma Souza.
Futuro É difícil prever como será a segunda década sem Orkut - talvez não fosse possível prever tudo o que aconteceu com as redes sociais na primeira década. Mas, o recente bloqueio do X no Brasil, que abriu caminho para que os públicos experimentassem outros espaços, pode oferecer uma pista - e, talvez, ele seja até meio parecido com o Orkut.
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Com o iminente retorno do X, grupos que migraram para outras redes, especialmente o Bluesky, ponderam se devem voltar à antiga rede. É como se bolhas específicas tivessem se estabelecendo em plataformas específicas, um pouco como eram as comunidades do Orkut, que se organizavam por gosto e afinidade. Parte da experiência da última década, na qual bolhas diferentes compartilhavam o mesmo espaço digital, pode ter virado uma grande ressaca.
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O caminho pode ser o nicho. “O futuro é redes mais fechadas, mais nichadas e com novos recursos que possibilitem o compartilhamento de conteúdos de maneiras mais restritas aos “melhores amigos”, driblando os riscos da cultura do cancelamento e dos julgamentos alheios”, afirma Inagaki.
É um caminho que também já pode ser visto no atual cenário de influenciadores (e seus seguidores). Ser grande em uma plataforma já não resulta gigantismo por osmose em outras. Você pode ter 10 milhões de seguidores no TikTok e 10 mil no Instagram.
Ainda é cedo para dizer se esse é o caminho, pois, em muitos casos, furar a bolha é o único caminho para o avanço da sociedade. As únicas certezas, porém, são a mudança e a necessidade de não aprofundar problemas novamente. “A experiência de estar numa rede social vai mudar e a gente vai ter diversas novas chances de não estragar”, diz Souza.
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O mais recente censo da educação superior revela que o número de matrículas universitárias no Ensino a Distância (EAD) praticamente equivalia ao do ensino presencial em 2023 – dos 9,9 milhões de estudantes do ensino superior, 4,9 milhões estavam no EAD, ante 5,06 milhões no presencial, de acordo com levantamento recém-divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Os dados demonstram que é questão de tempo para que o EAD ultrapasse o presencial, razão pela qual demonizar a modalidade, que para muitos brasileiros é a única opção de avançar nos estudos, é contraproducente. Uma devida regulação e inspeção dos cursos, contudo, é mais do que necessária. É verdade que o contato pessoal, essencial em diversas esferas da vida, é ainda mais relevante quando se está aprendendo; a proximidade entre professor e aluno, entre os próprios estudantes e o debate de ideias e conceitos são amplamente mais ricos no modelo presencial. Mas também é verdade, e a pandemia de covid-19 é prova disso, que as ferramentas online evoluíram imensamente, sendo possível oferecer conteúdo sólido e de qualidade via EAD. Some-se a isso o contexto brasileiro, de inexistência de estabelecimentos de ensino em regiões onde há demanda ou de alunos que têm de escolher entre se locomover ou estudar. Daí a necessidade de que o MEC atue de modo a garantir um EAD sólido e de qualidade, e não apenas buscar limitar a opção. Não parece ser o que vem ocorrendo. O ministro da Educação, Camilo Santana, não participou da divulgação do censo, pois estava ocupado com a campanha para as eleições municipais em seu Estado, o Ceará. Já o secretário executivo do MEC, Leonardo Barchini, afirmou que a pasta é contra o EAD, e que as matrículas na modalidade estão explodindo “por conta dessa regulação que estamos revendo hoje”. A regulação, de fato, não vem avançando muito. “A gente tinha um documento de 2007 e precisava rever toda essa situação”, disse a secretária de regulação do MEC, Marta Abramo, alegando que a pasta está reavaliando parâmetros de qualidade do segmento EAD, sem detalhar quando esses padrões serão divulgados. O ministro, agora ocupado com compromissos outros, havia dito no ano passado que o MEC criaria uma agência para regular o ensino superior. Em janeiro deste ano, em entrevista ao Broadcast/Estadão, Santana declarou que o governo pretendia “criar um marco regulatório para a educação a distância”; proposta que nunca saiu do papel. A pasta afirma que está “finalizando um projeto de lei” a ser enviado ao Congresso até o fim do ano, talvez sem atentar que já estamos no último trimestre de 2024. De concreto, apenas uma resolução de maio do Conselho Nacional de Educação (CNE) determinando que cursos de licenciatura EAD devem oferecer 50% das aulas de forma presencial. Há uma preocupação especial, e legítima, com a formação de professores, já que o curso de Pedagogia lidera em matrículas EAD. Mas, a julgar pelas prioridades do ministro e pela demora no envio de propostas ao Congresso, o avanço desse modelo seguirá desregulado.
O historiador e autor de best-sellers internacionais Yuval Noah Harari defende em seu novo livro, "Nexus", que informação e verdade não são a mesma coisa. Embora pareça óbvia, a afirmação não corresponde ao entendimento do público. Nossa tendência é tomar uma coisa pela outra, o que explicaria o efeito contagioso das fake news. O livro é um alerta enfático contra o vale-tudo das redes às vésperas da revolução da inteligência artificial.
"Nexus" se propõe a fazer a genealogia admonitória das redes de informação desde a pré-história até a inteligência artificial, passando pela Bíblia, pelas guerras de religião e pelo advento da democracia e dos totalitarismos na modernidade. A promessa se sustenta até se perder em especulações reiteradas à exaustão sobre o que nos reserva o futuro nada radiante da IA. É como Cassandra pregando para surdos.
Yuval Harari em Beverly Hills, na Califórnia - Emily Berl/10.set.18/The New York Times É claro que a informação muitas vezes leva à verdade, mas ela costuma ser mais palatável quando também produz algum tipo de ordem. Não é possível abrir mão da ordem social em nome da verdade, por exemplo. E as duas nem sempre combinam. Daí o conforto da ilusão, e da confusão entre uma e outra.
O problema potencial da IA é a criação de uma rede de informação absoluta e inquestionável. A solução, como nos mostra a história, seria a instauração simultânea e urgente de um sistema de contrapesos formado por instituições transparentes e falíveis, mas sempre prontas a prestar contas umas às outras e ao cidadão, que relativizassem e regulassem o poder das redes de informação como transmissoras da verdade, sem abrir mão da ordem, à imagem das democracias e da ciência moderna.
Harari trata diversas redes de informação ao longo da história como produtoras de ficção, narrativas ordenadoras e normativas, como a Bíblia, as identidades nacionais e os racismos. Aí mora o perigo de uma rede de informação autointerpretativa e inquestionável como a IA, com o poder de estabelecer, por meio de um pensamento e de uma lógica inacessíveis, uma ordem ficcional absoluta travestida de verdade.
Em oposição a esse sentido negativo e ilusório, o modelo de ficção exaltado por Harari no livro é um episódio da série "Black Mirror". A boa ficção, para ele, seria a representação especular, parábola ilustrativa, advertência sobre os riscos que corremos. Aí estaria a contribuição especulativa da arte para a verdade. Há, porém, outra dimensão positiva da ficção, que parece escapar ao escopo do livro.
A ficção é o discurso que se desdiz e se desconstrói por definição. Assim como a arte, ela é um exercício de verdade em si, independente da informação. A verdade nela já não é referencial; é a própria criação. E por isso talvez ela já não faça sentido para muita gente num mundo dominado por redes de informação, porque foi reduzida à utilidade de instrumento de reconhecimento e confirmação, conquista de mercado e motivação social.
Ao contrário das redes nas quais ela se confunde com a verdade, como na Bíblia ou nas fake news, a ficção assumida como tal traz o sistema de contrapesos embutido na própria porosidade de um discurso falível e questionável, que pode tomar formas polifônicas, contraditórias e paradoxais. A ficção é, por natureza, duplo e duplicidade, afirmação e negação simultâneas, diálogo e reflexão. É a sua verdade.
1 10 Conheça autores que já trabalharam com a autoficção em seus livros
A escritora Annie Ernaux aos 22, em novembro de 1962, cinco antes da morte de seu pai, que originaria "O Lugar" Acervo Pessoal de Annie ErnauxMAIS
VOLTARFacebookWhatsappXMessengerLinkedinE-mailCopiar link Quando a escritora argentina Ariana Harwicz disse recentemente, num encontro em São Paulo, sentir-se chantageada pela autoficção, como leitora, era disso que ela estava falando. De uma ficção que quer passar por verdade referencial, confundindo informação e verdade, e que por isso depende antes de mais nada da crença na expressão da identidade do autor para poder existir como prova, documento.
Tomando o modelo da palavra divina, essa "ficção absoluta" é um oximoro que não admite questionamento. Nela, ou a dúvida é banida como imoral ou é ignorada como fraqueza.
A justiça climática é um termo que revela a faceta ética e política das mudanças do clima, muitas vezes observada apenas como uma questão puramente ambiental. Neste contexto, surge o debate do racismo climático, que relaciona o impacto dos efeitos do clima sobre populações mais vulneráveis e marginalizadas historicamente.
A pesquisa Vigilância por Lentes Opacas: Mapeamentos da Transparência e Responsabilização de Projetos de Reconhecimento Facial no Brasil foi desenvolvido pelo CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania) e pelo Lapin (Laboratório de Políticas Públicas e Internet).
O estudo calcula uma média a partir da transparência ativa, na qual os órgãos públicos divulgam as informações por iniciativa própria, e da passiva, em que a publicação de informações depende da LAI (Lei de Acesso à Informação).
Os paralelos se desenham sozinhos. Em 1999, o governo dos Estados Unidos prevaleceu em um processo antitruste de alto perfil contra um gigante da tecnologia que alegava estar abusando de um monopólio. O caso girou em torno do "poder do padrão" nos navegadores de internet: o "Tio Sam" conclui que a Microsoft estava forçando os fabricantes de computadores a distribuir seu navegador junto com o software Windows. Isso resultou em propostas para dividir a Microsoft (embora a empresa tenha vencido em recurso e permanecido inteira).
Os observadores de tecnologia poderiam ser perdoados por sentir um dèjá-vu. Em agosto, os reguladores antitruste marcaram sua primeira grande vitória contra as big techs em um quarto de século, quando Amit Mehta, juiz do Distrito de Columbia, decidiu que o Google praticava monopólio nas buscas online.
Desmantelamento do Google é uma das possíveis sanções do processo antitruste nos EUA - Andrew Kelly/Reuters Usando o poder do padrão, ele argumentou, o Google bloqueou rivais e aumentou os preços de seus anúncios além das taxas de mercado livre. Em 8 de outubro, o Departamento de Justiça deve apresentar propostas de soluções para esse abuso de poder de monopólio. Isso pode incluir uma proposta para desmantelar o gigante da tecnologia —talvez separando o Chrome, seu navegador, ou o Android, seu sistema operacional para dispositivos móveis.
Essa medida seria imprudente. Não está nada claro que isso resolveria a questão central apresentada no caso. Além disso, embora o Google tenha desfrutado por muito tempo dos vastos lucros associados ao seu domínio na busca, pode não continuar a fazê-lo. Novas ferramentas de inteligência artificial generativa, como Chatgpt e Claude, estão rapidamente ganhando participação de mercado.
O Google é o mecanismo de busca mais usado na web, lidando com cerca de 90% das consultas nos EUA. Esse domínio, decidiu Mehta, foi consolidado por meio de "acordos de busca padrão". Abra o Safari em um iPhone ou o Mozilla Firefox em um laptop e digite uma consulta na barra de pesquisa, e será o Google que retornará os resultados. Pelo privilégio de fazer isso, o Google compartilha parte da receita de publicidade que seu mecanismo de busca gera. Esses pagamentos totalizaram US$ 26 bilhões em 2021. Cerca de US$ 20 bilhões foram para a Apple sozinha.
1 5 As empresas mais valiosas dos EUA
Nvidia - US$ 3,33 trilhão Dado Ruvic/ReutersMAIS
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VOLTARFacebookWhatsappXMessengerLinkedinE-mailCopiar link Empresas pagarem para estar na frente da fila para potenciais clientes não é uma ideia absurda. Fabricantes de cereais pagam supermercados para estarem "ao nível dos olhos" nas prateleiras; editoras pagam livrarias por lugares em suas cobiçadas "mesas frontais". O problema com os acordos de busca padrão é que eles não apenas tornam uma opção mais proeminente —eles tiram o poder de escolha por completo.
Separar o Chrome ou o Android não resolveria esse problema, desde que o Google ainda pudesse pagar aos seus eventuais proprietários para ser o mecanismo de busca padrão. Portanto, o tribunal deve direcionar os arranjos padrão diretamente.
A Justiça poderia restringir a opção do Google de pagar para ser uma das várias opções de mecanismo de busca, uma solução que reguladores europeus já implementaram. Na ausência do cheque gordo que o Google paga para ser o padrão, a Apple e outras empresas de tecnologia com grandes recursos financeiros poderiam se concentrar em construir seus próprios mecanismos de busca.
Uma ordem para forçar o Google a tornar pública parte da tecnologia que permite que seu mecanismo de busca funcione, como seu índice de páginas da web e registros de consultas de busca, poderia facilitar a tentativa de rivais. O julgamento revelou que custa cerca de US$ 20 bilhões para construir um mecanismo de busca, além de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento anual. Reduzir esses custos permitiria que empresas menores competissem também.
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No entanto, já há evidências emergentes de que o domínio do Google na busca está enfraquecendo à medida que as ferramentas de IA generativa ganham terreno. Uma pesquisa do banco Evercore descobriu que o Chatgpt é o "mecanismo de busca preferido" para 8% dos americanos. A inovação enfraqueceu dramaticamente o domínio da Microsoft há um quarto de século também. A empresa foi rapidamente deixada para trás à medida que a tecnologia móvel decolou.
A intervenção antitruste pode ter acelerado o declínio da empresa. É por isso que é importante para os reguladores olharem tanto para o futuro quanto para o passado. Se o Google for deixado sem controle, o perigo é que sua posição de incumbente impeça a competição.
Com seus enormes conjuntos de dados proprietários, o Google pode um dia construir ferramentas de IA melhores do que seus rivais. Impulsionado por seus lucros de monopólio, oferece suas ferramentas de IA atuais gratuitamente, ao contrário dos novos concorrentes que devem cobrar assinaturas para ajudar a cobrir seus custos.
Se o Google estivesse realmente bloqueando futuros rivais, então limitar a capacidade de usar seu mecanismo de busca para distribuir seus produtos de IA poderia impedi-lo de explorar um monopólio para adquirir outro. Uma divisão, por mais politicamente atraente que possa ser para alguns, não é a resposta.
Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença.
Visão de que medida pioraria qualidade dos currículos era a velha demofobia O Censo da Educação Superior mostrou que o Brasil está prestes a bater a marca dos 10 milhões de jovens nas universidades. Como os dados são de 2023, é possível que isso já tenha acontecido. O mesmo censo revelou que 51% dos alunos que entraram nas universidades graças às cotas concluíram os cursos. Entre os não cotistas, esse desempenho ficou em 41%. Além da simples estatística, há aí uma lição política, indicativa do grau de demofobia incrustado na vida nacional. Nos últimos anos do século passado, quando se discutia a Lei das Cotas, muita gente boa, inclusive professores, era contra a ideia, por motivos supostamente pedagógicos. As cotas comprometeriam a qualidade dos currículos, pois os cotistas não seriam capazes de acompanhar as aulas. Além disso, muitos deles acabariam deixando os cursos. Era apenas a velha demofobia. Todos os argumentos contra as cotas revelaram-se errados. Na segunda metade do século 19, argumentava-se que os escravizados não estavam preparados para a Lei do Ventre Livre nem para a alforria dos sexagenários e muito menos para a Abolição.
O National Institute of Standards and Technology (NIST) propôs novas diretrizes para proteger as identidades digitais das pessoas contra fraudes. Entre elas estão a proibição de regras de senha que os especialistas em segurança cibernética há muito consideram ultrapassadas. Não é mais necessário solicitar caracteres especiais, como “%” e “$”, por exemplo. E não há mais perguntas de segurança sobre seu primeiro animal de estimação ou melhor amigo de infância. O NIST disse que as alterações têm o objetivo de ajudar os consumidores a escolher senhas fortes e evitar a perda de tempo com requisitos inúteis. A pesquisa também sugere que todos esses asteriscos extras não tornaram nossas senhas muito mais seguras. “Senhas altamente complexas introduzem uma nova vulnerabilidade em potencial: É menos provável que elas sejam memoráveis e mais provável que sejam escritas ou armazenadas eletronicamente de maneira insegura”, diz a proposta mais recente do NIST. Se as diretrizes entrarem em vigor, as empresas, os órgãos governamentais e outros provedores de serviços online terão que parar de solicitar que você redefina sua senha a cada poucos meses. A Microsoft, por sua vez, chamou a prática de “antiga e obsoleta” antes de parar de exigir alterações periódicas de senha em 2019. “As alterações regulares de senhas tendem a levar as pessoas a um caminho de senhas piores em geral”, disse Hans Raj Kumar, diretor de gerenciamento de produtos do provedor de gerenciador de senhas Dashlane. “Quem nunca mudou simplesmente um número no final de uma senha?”. A proposta do NIST exigia que os sites parassem de proibir determinados caracteres especiais e recomendava que permitissem espaços e caracteres como emojis nas senhas. Portanto, sua nova senha pode ser uma frase como “Um mergulho na lagoa durante a chuva” ou “Os bons tempos nunca foram tão bons”. As alterações regulares de senhas tendem a levar as pessoas a um caminho de senhas piores em geral” Hans Raj Kumar, diretor de gerenciamento de produtos do provedor de gerenciador de senhas Dashlane Os especialistas em segurança cibernética estão pressionando para que as senhas sejam totalmente eliminadas em favor de algo com menos espaço para erros humanos. Até lá, aqui está a sabedoria sobre senhas que inspirou as regras do NIST: Mantenha o que está funcionando Mudanças frequentes de senha provavelmente o tornam mais vulnerável a uma invasão digital. Não há necessidade de alterar suas senhas, a menos que você tenha sido afetado por uma violação de dados, diz o NIST. No caso de uma violação de dados, a empresa culpada deve entrar em contato com você por e-mail, informando que suas informações foram comprometidas. Se isso acontecer, altere as senhas de suas contas de saúde, financeiras e de rede social. Em seguida, ligue para as grandes empresas de relatórios de crédito e peça para congelar seu crédito. As senhas devem ter mais de oito caracteres e, idealmente, pelo menos 15, segundo o NIST. Não se baseie em nada contextual, como o nome do site ou seu nome de usuário. Evite fazer referência a coisas de sua vida, como nomes de filhos ou animais de estimação. (Os criminosos cibernéticos também têm acesso ao Facebook). Além disso, nada de usar uma palavra aleatória do dicionário como senha - os ataques computadorizados de “preenchimento de credenciais” inserem automaticamente as palavras existentes, mas não têm o poder de adivinhar todas as combinações de palavras e letras, portanto, opte por uma frase ou adicione alguns números e símbolos. Obviamente, quanto mais complexa for sua senha, mais difícil será lembrá-la. A empresa de pesquisa de mercado Forrester estimou em 2020 que os funcionários gastam 11 horas por ano tentando lembrar ou redefinir suas senhas. Isso é muito tempo perdido. O que nos leva a: Use um gerenciador de senhas Armazenar suas senhas em uma planilha, aplicativo de anotações ou caderno físico coloca você em risco. Esses programas não foram projetados para proteger credenciais importantes contra fraudadores e, se você perder ou excluir sua lista, poderá ficar no escuro. Em vez disso, comece a usar um gerenciador de senhas, que armazena suas senhas e as preenche automaticamente quando você faz login em um aplicativo ou site. Eles são mais seguros do que uma planilha porque mantêm suas credenciais ocultas atrás de uma senha. Alguns serviços até ocultam suas senhas deles mesmos usando criptografia. Testamos diferentes gerenciadores de senhas e recomendamos o Dashlane ou o 1Password. A Apple e o Google também oferecem gerenciadores de senhas que são sincronizados entre os seus dispositivos, de modo que uma senha de e-mail definida no seu MacBook, por exemplo, também aparecerá quando você acessar o e-mail no seu iPhone. Opte por chaves de acesso As chaves de acesso são como uma versão única das senhas: Você as configura uma vez e, depois disso, faz o login automaticamente. Em vez de digitar as credenciais, o aplicativo solicitará a mesma leitura do rosto ou do polegar que você usa para desbloquear o dispositivo. Eles funcionam usando criptografia para provar que você é quem diz ser. O Google, a Microsoft e outros grandes provedores oferecem suporte a chaves de acesso, e seu gerenciador de senhas deve armazená-las junto com suas outras senhas. (Uma chave de acesso é uma sequência gigante de caracteres, portanto, você nunca precisará lembrá-la ou protegê-la por conta própria).
O que você se lembra dos seus últimos dias no Orkut?
NEWSLETTER Estadão Pílula Um resumo leve e descontraído dos fatos do dia, além de dicas de conteúdos, de segunda a sexta. EXCLUSIVA PARA ASSINANTES INSCREVA-SE Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade. Tínhamos mais de 300 milhões de usuários em todo o mundo. Mas a rede nunca se tornou uma grande prioridade para o Google. E tínhamos uma equipe muito pequena que operava principalmente nos EUA e no Brasil. Então, o Google decidiu tornar o elemento social uma prioridade da empresa. Eles queriam adicionar uma camada social em todos os serviços do Google, como a pesquisa, o Gmail e o Google Fotos. Foi assim que surgiu o Google Plus. Quando você pensa no Google, você pensa em pesquisa, você pensa em empresas, você não pensa em rede social. Eu sempre acreditei que uma plataforma social deve ter sua própria marca. Essa foi uma das principais razões pelas quais o Plus nunca decolou. A pessoa que estava no comando do Google Plus cancelou todos os projetos de rede social no Google, para que não houvesse conflito. E o Orkut foi um deles. Foi um momento muito triste.
O sr. tentou argumentar para que o Google mantivesse o serviço? Vic Gundotra, gerente geral do Google, estava encarregado dos produtos de rede social da empresa. E o Google Plus era a visão dele. E foi uma decisão executiva dele fechar todos os produtos do Google. Eu não culparia o Google, mas foi uma execução muito ruim da parte deles. O único produto bem-sucedido que tinha um componente social era o Orkut, então eles tentaram muito forçar uma migração para o Google Plus. Obviamente não funcionou. E muitos usuários acabaram migrando para outras plataformas.
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O que o sr. aprendeu sobre moderação de conteúdo com o Orkut? Para ter boa moderação, você precisa de três componentes. Você precisa de tecnologia, e hoje há muita inteligência artificial (IA) e aprendizado de máquina que podem ser incorporados à moderação. O segundo é a própria base de usuários, a comunidade. Com o Orkut, sempre demos ferramentas para nossa base de usuários sinalizar e denunciar conteúdo questionável. E a terceira parte é ter moderadores humanos. E sabemos como a moderação não deve ser feita. Por exemplo, quando Elon Musk assumiu o Twitter, uma das primeiras coisas que ele fez foi se livrar de todos os moderadores. Durante a covid, houve campanhas massivas de desinformação no Facebook e no Instagram sobre vacinação.
O Orkut teve todos os recursos necessários para moderar bem a plataforma? O Orkut moderava muito bem.Você não via nenhum conteúdo como está causando ansiedade, depressão ou abuso ou assédio online. Tínhamos muitas pessoas trabalhando muito duro, como engenheiros, a própria comunidade de usuários e moderadores internos que garantiam que tivéssemos um ótimo conteúdo e conteúdo saudável. As mídias sociais se tornaram extremamente tóxicas. Há polarização política. Há isolamento. Há vergonha, ansiedade, depressão, problemas de saúde mental. E eles estão realmente prejudicando nossa sociedade, e, especialmente, crianças e a geração Z. Se você olhar para o Instagram, alguns dos conteúdos criam problemas de imagem em meninas de 13 anos. E mesmo que a empresa soubesse disso, eles não tomaram as medidas necessárias para se livrar desse conteúdo. Mas a sociedade e a humanidade não têm sido uma prioridade nas corporações de mídia social. Isso trouxe o colapso da sociedade.
O que mudou no cenário das redes sociais desde então? Três coisas principais mudaram bastante. A primeira é óbvia: A maioria do consumo de redes sociais está em nossos smartphones. Naquela época, as pessoas usavam desktops ou laptops para acessar o Orkut. A segunda coisa é que as pessoas passavam o tempo compartilhando, postando e enviando mensagens. E foi assim que eles se conectaram, foi assim que eles criaram comunidades, e foi assim que eles promoveram um ambiente saudável. Hoje, você fica rolando o feed e navegando em conteúdo sem sentido. A terceira coisa que mudou foi o surgimento do vídeo. Naquela época, eram textos e fotos. E agora que temos esses dispositivos poderosos é ótima banda larga, vemos as pessoas postando e consumindo muito vídeo.
Agora há também a mediação de conteúdo por algoritmos… Exatamente. Esses algoritmos são otimizados para engajamento e monetização. Com o Orkut, o feed era cronológico, certo? Hoje, é reordenando, dependendo se aquele conteúdo específico gera reação. Eles escolhem as postagens que geram ódio e raiva. Então, as redes estão espalhando loucamente ódio, raiva e desinformação. Estão espalhando negatividade porque lucram com a negatividade. Eles lucram com o ódio. E essa é uma das razões pelas quais as redes se tornaram tão tóxicas. É a priorização da monetização sobre a sociedade.
Ao criar o Orkut, o sr. imaginava que redes sociais poderiam ser usadas para corromper democracias em todo o mundo? As redes sociais hoje são administradas por aproveitadores. Eles só se importam com dinheiro e poder, certo? Quando você tem um tipo de plataforma que incentiva a polarização política, faz isso porque ela gera mais receita. Esse é o mal dessas pessoas que estão no comando. Com o Orkut, sempre garantimos que nossos usuários estavam felizes, nossas comunidades eram saudáveis. Não tínhamos conteúdo ilegal. O conteúdo era moderado diretamente. A maioria das pessoas nem se lembra que havia anúncios no Orkut, e ele era extremamente lucrativo. Mas sempre foi para melhorar a experiência.
Estou com a sensação de que o sr. não está muito feliz com a maneira como Elon Musk e Mark Zuckerberg estão administrando suas plataformas atualmente. Eu acho que ninguém está feliz. Você acha que as pessoas estão felizes com como o Facebook, Instagram, TikTok e Twitter são administrados? Acho que não.
O sr. se sente feliz por ter deixado o Orkut antes da chegada da ‘era sombria’ das redes sociais, quando a maiorias dos problemas dos serviços começaram a acontecer? Eu saí por causa da era sombria. Eu vi a era sombria chegando, então eu saí do Google para focar em criar uma plataforma que é sobre positividade, conexão e comunidade. Isso é ótimo. Na Hello, nosso maior desafio foi: Podemos criar uma plataforma que realmente faça as pessoas felizes e promova conexão e comunidade? Eventualmente nós acertamos. As mídias sociais são projetadas em torno de publicidade, corporações e lucro. Não são otimizadas em torno de felicidade, positividade, reunir pessoas e criar comunidade. E é por isso que tem sido tão prejudicial.
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Você usa alguma rede social atualmente? Claro, estou na maioria das redes sociais.
Qual é a sua favorita? Eu não tenho uma favorita, e é por isso que estou lançando uma nova.
Há espaço para novas redes sociais? Claro. A geração Z está procurando experiências autênticas. Eles não gostam das plataformas atuais. Os jovens agora não tiram selfies, por exemplo. É muito fascinante.
O sr. está acompanhando a disputa entre Elon Musk e o Supremo Tribunal Federal aqui no Brasil? Claro.
Qual é a sua opinião? Eu não aprovo a maneira como Elon administra o Twitter porque é só monetização. E ele age como se não se importasse se há terrorismo, crueldade animal, pornografia infantil. Ele não parece se importar com essas coisas. Porque se ele realmente se importasse, ele não teria se livrado da equipe de moderação. É muito importante se importar com a comunidade, ter empatia e compaixão. Eu não acredito que Elon esteja focado nas coisas certas. Não surpreende que o X tenha sido banido.
Qual é o futuro das redes sociais? O futuro das redes sociais é muito assustador agora por causa desse monte de IA. Tivemos um salto gigante com o ChatGPT e a IA generativa. Resultado: um monte de fotografias no Facebook geradas por IA. A maioria das pessoas nem consegue diferenciar. Se você olhar para o Instagram, há muitas contas falsas onde todas as imagens são geradas por IA. E elas estão respondendo a comentários, que também são gerados por IA. E estamos recebendo mais e mais spam de IA. Você quer falar com máquinas quando está em uma plataforma social? Ou você quer falar com pessoas reais? E estamos apenas vendo a ponta do iceberg. Vai ficar muito pior no futuro próximo. Veja a pesquisa do Google. Parece estar muito pior comparado 10 anos atrás. Mas não é o algoritmo que está pior. O algoritmo é melhor. Mas a internet está muito pior agora porque há tanto spam e desinformação. Reputação vai ser uma das coisas mais importantes nas mídias sociais daqui para frente.
A internet está muito pior agora porque há tanto spam e desinformação. Reputação vai ser uma das coisas mais importantes nas mídias sociais daqui para frente.
Há alguma luz no fim do túnel? Sim. Precisamos de líderes que realmente se importem em criar um futuro melhor. Eu me importo com o futuro. Eu me importo com a sociedade. Eu me importo com nossos filhos. Eu me importo com nossos netos. Você quer que seus filhos conversem com chatbots no smartphone? Ou você quer que eles saiam e brinquem com outras crianças? Precisamos nos certificar de que melhoramos o capital social. E melhoramos o capital social passando tempo com as pessoas. Precisamos sair para jantar e conversar durante as refeições. Precisamos nos encontrar pessoalmente. Se você olhar para a geração X e os millennials, a principal forma de comunicação era por chamadas telefônicas, não pelo smartphone. Para a geração Z, a comunicação é online. E precisamos mudar isso. Há muitas coisas que podemos fazer como sociedade e também como governo. E muitas dessas coisas são fáceis. Por exemplo, a idade de uso do telefone celular precisa ser aumentada. Jovens de 10 anos não deveriam usar celular ou TikTok. Podemos proibir telefones celulares nas escolas, certo? O que podemos fazer também é apoiar o jornalismo. Isso é muito importante.
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E qual é o futuro para você? Há chances do Orkut retornar? Não posso falar porque não anunciei nada oficialmente. Mas estou levando toda a experiência que tive com as quatro plataformas sociais que lancei: Club Nexus, InCircle, Orkut, Hello. E vou lançar uma nova rede social que é toda otimizada em torno de comunidade e conexão, mas não tenho uma data.
Os androides, fabricados pela Agility Robotics, têm o tamanho aproximado de uma pessoa e podem andar pelo chão do armazém, bem como se espremer em espaços apertados graças a seus joelhos para trás. A Amazon, que investiu na startup por meio de seu Fundo de Inovação Industrial, está testando alguns Digits (como são chamados os robôs da Agility), observando se os andróides se comunicam bem com seus outros sistemas de armazém e como os trabalhadores humanos da empresa se sentem em relação a seus colegas robóticos.
Nos últimos dias, o Brasil recebeu a notícia de investimentos bilionários para expansão de data centers no país. A Microsoft anunciou um investimento de R$ 14,7 bilhões em infraestrutura de nuvem e inteligência artificial (IA), com o objetivo de expandir seus serviços no Brasil. Este plano inclui também a capacitação de milhões de brasileiros em habilidades de IA. Paralelamente, a Amazon, por meio da sua subsidiária AWS, estará investindo R$ 10,1 bilhões até 2034 para expandir seus data centers no estado de São Paulo. O motivo? Sustentar o crescimento das soluções de IA, cada vez mais demandadas no país. Esses movimentos são indicativos das necessidades emergentes de data centers, impulsionadas pelas crescentes exigências computacionais dos modelos de IA. No entanto, junto com esta expansão, vem um grande desafio: como alimentar essa montanha computacional de energia. Com a popularização de modelos de IA cada vez mais complexos, como os modelos generativos, a quantidade de energia necessária para treiná-los é comparável à energia usada por pequenos países. Você não leu errado: países. Para se ter uma ideia, a simples geração de uma imagem em IA pode consumir o equivalente à energia necessária para recarregar um smartphone, segundo revelou estudo da Carnegie Mellon University. Com todo esse consumo, já estima-se que, até 2030, apenas os data centers devem representar 9% do consumo total de energia dos Estados Unidos, segundo análise do Electric Power Research Institute (EPRI).
Quando eu era pequeno, os meus pais foram à minha escola exigir que eu pudesse ir para as aulas com uma televisão, uma câmera de filmar, uma máquina fotográfica, um console de jogos, milhões de filmes e um toca-discos. As freiras não aceitaram, surpreendentemente. Disseram que a minha experiência escolar seria radicalmente diferente se eu tivesse acesso permanente a uma televisão, uma câmera de filmar, uma máquina fotográfica, um console de jogos, milhões de filmes e um toca-discos. Muito estranho. Enfim, tempos antigos. Felizmente, evoluímos. Hoje, todos os alunos vão para a escola com uma televisão, uma câmera de filmar, uma máquina fotográfica, uma console de jogos, milhões de filmes e um toca-discos. Está tudo contido num único dispositivo chamado smartphone. Além destas vantagens, o aparelho ainda lhes oferece a possibilidade de entrar em contato com amigos, conhecidos, ou até estranhos —instantaneamente. Os especialistas dizem que essa circunstância tem produzido efeitos preocupantes. Parece que as crianças e jovens não convivem, a não ser através do zingarelho. E o convívio digital é, segundo dizem, muito diferente do convívio real. O psicólogo social Jonathan Haidt, autor do livro "A Geração Ansiosa", nota que a atividade que as crianças levavam a cabo antigamente —brincar— foi substituída por outra coisa mais fria, mais distante, menos humana. Na prática, a exposição intensa ao smartphone e às redes sociais priva as crianças da sua infância, interfere na sua capacidade de frequentar a escola normalmente, e causa prejuízos mentais, físicos e sociais. Não sei se veem onde quero chegar. O que acabei de descrever são os malefícios do trabalho infantil —priva as crianças da sua infância, interfere na sua capacidade de frequentar a escola normalmente, e causa prejuízos mentais, físicos e sociais. O que significa que os problemas causados pelo antigo trabalho infantil são muito parecidos com os problemas causados pelo atual entretenimento infantil. A pobreza levava ao trabalho infantil, que desumanizava, e agora a riqueza leva ao entretenimento infantil, que desumaniza. Conseguimos substituir uma abominação por outra. Um dia ainda havemos de acertar.
Você conhece o termo? Uma fala da Ministra Anielle Franco conectando racismo como uma das causas de tragédias que aconteceram no último final de semana gerou polêmica. Mas o “Racismo Ambiental” já é amplamente usado em diversas áreas de pesquisa. Mas será que existe uma relação entre raça, classe social e as enchentes que atingem as cidades, do estado do Rio de Janeiro, ano após ano?
Na verdade, o modelo mais correto, pelo que indicam os estudos iniciais sobre a tema na área de comunicação científica, é exatamente o adotado pela dupla do "Nunca Vi 1 Cientista": dar nome aos bois. Deixar claro quem está falando bobagem e explicar tim-tim por tim-tim por que é bobagem, em vez de adotar formulações genéricas do tipo "tem gente falando a bobagem X por aí".
Além disso, no mesmo vídeo que deu origem ao processo, elas adotam outra estratégia fundamental: a de evitar o engajamento direto.
A questão é que não existe engajamento ruim na internet. Atacar uma postagem ou um vídeo diretamente no perfil do autor, ou compartilhar algo absurdo fazendo comentários indignados, só tende a aumentar o alcance –no sentido de número de perfis online alcançados mesmo– dos picaretas.
O certo, portanto, é usar reproduções, e não links diretos para os perfis que vivem de desinformação, e aconselhar as pessoas a bloquearem e, se possível, denunciarem as redes sociais pseudocientíficas às plataformas, caso haja essa opção. (A não ser que o dono da rede social em questão seja o Elon Musk. Aí a gente entrega pra Deus mesmo.)
O cenário é de guerra. E a única chance de enfrentar a desinformação é usar todas as armas legítimas à nossa disposição.
Mesmo em colégios que afirmam acolher diversidade, alunos com deficiência enfrentam bullying e falta de conteúdo adaptado e de formação de professores
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20.set.2024 às 10h00 EDIÇÃO IMPRESSA Ouvir o texto Diminuir fonte Aumentar fonte Laura Mattos SÃO PAULO Encontrar escolas que se apresentam como inclusivas não é tão difícil hoje em dia. O complicado é achar aquelas em que a inclusão vá além do discurso e da propaganda, afirmam especialistas e pais de crianças e jovens com deficiência.
"É comum que as escolas não tenham currículos de inclusão e coloquem alunos com autismo, com TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade] ou com outra dificuldade para tentar seguir o mesmo conteúdo oferecido para todos. Não pensam o que querem para cada estudante", afirma Lilian Feingold Conceição, psicóloga e orientadora educacional que se especializou em educação inclusiva.
A conscientização sobre a importância da inclusão social é um dos propósitos do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro. A data foi instituída por lei no país em 2005. Dez anos depois, em 2015, foi assinada a Lei Brasileira de Inclusão, que assegura os direitos das pessoas com deficiência, entre eles o acesso a uma educação de qualidade em escolas públicas ou privadas.
Crianças em sala da escola em São Paulo, em imagem ilustrativa - Danilo Verpa - 20.abr.2023/Folhapress No Brasil, mais de 6 milhões de estudantes têm algum tipo de deficiência ou transtorno de aprendizagem, 12,8% do total, de acordo com um levantamento da Equidade.info, iniciativa ligada à Escola de Educação da Universidade de Stanford, dos Estados Unidos.
Na rede privada, em especial, palavras como inclusão e diversidade são, muitas vezes, "colocadas em uma prateleira" sem que esses valores estejam contemplados em seus projetos pedagógicos, afirma a orientadora.
"As escolas particulares acabam se constituindo como produtos, estão dentro de um mercado e disputam os alunos. Boa parte levanta determinadas bandeiras verificando o que a sociedade quer naquele momento", diz.
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Assim como você: análises e histórias de um jornalista cadeirante Blog Vidas Atípicas aborda dúvidas e debates sobre autismo Repórter com baixa visão reflete sobre deficiência e aprendizagens em Haja Vista Advogada que presta consultoria sobre inclusão para famílias e escolas, Alynne Nunes diz que, "embora na rede pública o problema seja certamente mais profundo, com crianças sem laudos e sem atendimento, há muita negligência em escolas particulares".
"Temos que lembrar que a rede particular não é feita de escolas de elite –e mesmo essas não estão livres de ter problemas. Mas existem muitas escolas particulares de classe média, média baixa, e os problemas de falta de estrutura são grandes."
Presidente da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB de São Paulo e mãe de um jovem com autismo, Camilla Varella afirma que processos na Justiça envolvem uma série de colégios que se dizem inclusivos, até mesmo os mais caros.
É o caso da ação judicial movida pela família de Vicente, 16 (nome fictício), que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista) nível 1 —precisa de apoio ocasional— com altas habilidades —é superdotado.
1 5 Características que podem ajudar a identificar pessoas com autismo
Falta de contato visual Zanone Fraissat/FolhapressMAIS
VOLTARFacebookWhatsappXMessengerLinkedinE-mailCopiar link Sua dificuldade principal é o convívio social. A escola, portanto, precisaria estar apta a desafiá-lo no conteúdo e, ao mesmo tempo, lhe dar apoio na interação social. Ele foi matriculado em um dos colégios mais caros de São Paulo, que, segundo sua mãe, tem um discurso inclusivo e de apoio à diversidade.
Mas Vicente acabou se tornando vítima de bullying e de acusações de assédio. Segundo conta a mãe, o jovem faz cálculos de matemática de nível superior, porém, em alguns aspectos, parece uma criança e não consegue entender alguns códigos sociais.
A escola, afirma a mãe de Vicente, só concordou em oferecer esse apoio depois que a família entrou com uma ação na Justiça. E, como mediador, foi colocado um professor sem preparo relacionado ao autismo.
O jovem tem sido também impedido pela escola de participar de excursões, o que, para a mãe, reforça o preconceito dos colegas. Ela afirma que um dos maiores problemas é a falta de um trabalho de conscientização para toda a comunidade escolar: professores, funcionários, alunos e famílias.
Lilian Feingold Conceição diz que a inclusão, se for feita de forma equivocada, pode gerar insegurança para todos na escola, o que, obviamente, complica ainda mais a situação daqueles que têm deficiência ou algum transtorno de aprendizado.
"Mesmo em escolas que se dizem inclusivas, em que todas as famílias, ao matricular seus filhos, compram essa ideia, há o risco de que alguns pais passem a se questionar: ‘Será que isso não atrapalha? Será que não vai atrasar o aprendizado?’", diz.
A psicóloga defende um trabalho profundo de conscientização para mostrar que a inclusão é positiva para todos e para "descaracterizar a meritocracia". "A melhor escola não pode ser aquela que coloca um aluno no 1º lugar de medicina da USP, mas a que, além disso, coloca o aluno com autismo em seu melhor desempenho."
Taiza Stumpp, professora e pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) que coordena um grupo de estudo sobre o autismo e o Observatório de Saúde Mental da universidade, diz que famílias de crianças e jovens com TEA relatam pressão de alguns pais de alunos típicos (como são chamadas os que não têm deficiência ou transtorno de aprendizado) para um ensino centrado no conteúdo.
A escola sente que "deve explicações" a esses pais sobre a inclusão, explica Taiza, e não consegue dizer que a educação inclusiva é importante para formar todos os alunos como cidadãos que valorizam a diversidade.
Tanto em escolas públicas quanto em privadas os pesquisadores se deparam com profissionais "aflitos", conta Taiza, sem formação e protocolos para colocar a inclusão em prática. "A falta de apoio gera estresse para os professores e para as famílias", diz. "Entre as demandas estão a falta de material didático especial e de um desenho pedagógico concebido com a colaboração dos professores, profissionais especializados, gestores e as famílias, que pense em cada um dos estudantes."
Para o próximo ano, o grupo da Unifesp terá um curso de formação de professores e gestores escolares, com a participação de famílias de estudantes com TEA.
Marçal não é Bolsonaro, vai mais fundo: não foi adotado pelo mundo político, nem pelo centrão mais podre; espezinha políticos. É um garoto-propaganda das mentalidades da teologia da prosperidade ou da prosperidade teológica, temperado pelo que se chama dos valores da direita, que ele dissemina por meio de doutrinação, choque midiático e células familiares militantes. A precarização do trabalho e a descrença na capacidade do Estado de melhorar vidas (quando não atrapalha) aumentam o apelo desse messianismo individualista, se diz. Pode ser, mas sabemos pouco de detalhes do mundo do trabalho. Pelos grandes números, a formalização do trabalho está pouco abaixo do recorde do começo da década de 2010, assim como a parcela ocupada da população em idade de trabalhar; o salário médio passou do pico de 2013. A vida melhora um tico. Não parece social ou politicamente relevante. Há precarização no trabalho, mas não sabemos de seu tamanho e o que é apenas nova forma de precarização. Certo é que o emprego desta economia meio pobre não dará vida satisfatória à massa ou acesso à vida instagramável. A grande mudança seria o vislumbre dessa existência fotogênica conspícua e exemplos raríssimos, mas inspiradores, de que há atalhos para se chegar lá, driblando desigualdades, emprego ruim e escola inútil. A mudança religiosa tem peso, mas menos de um quarto dos eleitores paulistanos é evangélico e só um terço deles vota em Marçal (aliás, 15% não têm religião). Ideias de certos evangélicos é que parecem fazer parte de mudança cultural maior, revolução ainda pouco compreendida e que estoura outra vez na nossa fuça, na forma sórdida de um Marçal.
"A Substância", vencedor de melhor roteiro no Festival de Cannes deste ano, tematiza as consequências das expectativas sociais sobre a aparência física nos dias de hoje. Autor reflete sobre a disseminação do medo de envelhecer, que impulsiona procedimentos estéticos e tratamentos que prometem o rejuvenescimento e consome parcela crescente do PIB de países de todo o mundo.
O filme "A Substância" tem mais substância do que aparenta. Não se trata apenas de um suspense de terror. É um filme sobre como tudo o que é esperado das pessoas molda o estado de espírito.
Sobre ele, explica a diretora Coralie Fargeat: "É sobre o ódio a si mesma e a sensação de que nunca se é boa o suficiente, bonita o suficiente, magra o suficiente, jovem o suficiente".
Demi Moore em cena do filme 'A Substância', de Coralie Fargeat - Christine Tamalet/Divulgação O começo: uma grua sobre a calçada da fama da Hollywood Boulevard; uma nova laje é moldada, a da estrela Elisabeth Sparkle (Demi Moore), atriz ganhadora de um Oscar; num plano fixo, o tempo passa, ela é inaugurada e, depois, rachada, pisoteada, suja por ketchup, ignorada.
Está indicada a trajetória de uma mulher que precisa da sua juventude para colocar alimento na mesa e no ego. Ao final, numa referência à Jane Fonda, ela vira estrela de um programa de TV de ginástica. Mas aos 50 anos é demitida por ser "velha demais".
Sua saída é aderir a um procedimento experimental com um tratamento invasivo e rejuvenescer: Activator, que mais se parece uma injeção de Ozempic master. No banheiro da sua casa, ela aplica o produto e dá à luz seu clone, Sue (Margaret Qualley, a Pussycat de Tarantino em "Era uma Vez em... Hollywood"), uma jovem bailarina pronta para brilhar.
Criadora não conhece criatura. Quando uma vive, a outra hiberna. Uma depende dos fluídos da outra. A cada uma, o direito de viver uma semana. Assim, ela mesma, em versão mais jovem, a substitui magnificamente no programa de TV.
Com o tempo, Elizabeth e Sue começam a temer uma à outra, a se boicotar, a se odiar. Então, o filme entra num corredor percorrido por Oscar Wilde em "O Retrato de Dorian Gray" e por Robert Louis Stevenson em "O Médico e o Monstro" ("Strange Case of Dr Jekyll and Mr Hyde").
O dândi Dorian Gray tem uma pintura de corpo inteiro retratada pelo artista Basil Hallward, absorto por sua beleza. O retratado é seduzido pela vida de luxúria e sexo que sua aparência atrai, sabe que um dia irá envelhecer e faz um pacto: deseja que o retrato envelheça, não ele.
1 11 Veja cenas de 'A Substância', de Coralie Fargeat
Demi Moore em cena do filme "A Substância", de Coralie Fargeat Christine Tamalet/DivulgaçãoMAIS
VOLTARFacebookWhatsappXMessengerLinkedinE-mailCopiar link Dorian leva uma vida libertina e amoral, enquanto o retrato absorve tudo o que existe de ruim e decai. Seu sorriso despenca. Sua pele enruga. O sacrifício, fruto da vaidade, o levou a uma vida infeliz, criminosa e sem amores realizados. Por fim, num acesso de fúria, apunhala o retrato e se torna um cadáver desfigurado, enquanto a pintura recupera sua juventude.
O ódio de criadora e criatura extrapola em "A Substância". Ambas são a mesma pessoa, e quem as lembra é a voz misteriosa do call center da "clínica". A criatura não se reconhece na criadora. A inveja que a mais velha sente pela jovem, assim como o desprezo que a jovem sente pela mais velha, são dois estados da mesma consciência.
A autoestima baixa impede que elas percebam quem é quem. Duas consciências passam a coexistir e competir. Um "self-hatred" (que mal traduzido seria uma autoaversão) torna a mais velha violenta.
Elas se juntam e se julgam. Movidas pelo desejo de ser a versão perfeita, uma tenta destruir a outra. Nesse caminho, Dr. Jekyll vira inspiração. No livro, ele quer provar que a maldade dentro de cada um é conscientemente controlada por um pacto social.
Cria uma substância que libera o cruel que reprimimos e o chama de Mr. Hyde. O mal está dentro do bem, e a grade que os separa é frágil. O doutor bom e generoso, ao tomar a poção, se transforma num monstruoso assassino. Mas são a mesma pessoa
Vi Brad Pitt passar em Veneza. Seu rosto parecia caju. Maquiagem ou bronzeamento artificial? O Apolo das nossas fantasias, que se veste como marceneiro, sobe num telhado, tira a camisa para consertar uma antena, sua e olha o pôr do sol abrindo uma lata de cerveja, como em "Era uma Vez em... Hollywood", o que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, não está satisfeito com a paleta do rosto e o flambou.
1 20 Brad Pitt faz 60 anos; relembre curiosidades da vida e carreira do ator
Antes de começar a fazer sucesso em Hollywood, Pitt fez muitos bicos. Em um deles, usava uma fantasia de frango para atrair o público a uma @bradpittofflcial no InstagramMAIS
VOLTARFacebookWhatsappXMessengerLinkedinE-mailCopiar link Ele e parte da humanidade que, depois da pandemia, se viu em close durante o home office, não gostou e passou a temer pelo emprego. Achou quer podia passar por uma harmonização. A pele tem que estar radiante.
O que era obsessão de grandes atores de Hollywood, com medo de envelhecer, se popularizou. Por até R$ 200, se faz um peeling químico facial, ou dermoabrasão: um tratamento horripilante, como efeitos de filme de terror B, em que um ácido queima a pele, descama, remove manchas, acnes, reduz a oleosidade e aumenta a produção de colágeno.
O mercado também oferece o peeling de diamante e o ultrassônico. Peeling de fenol é mais agressivo e matou recentemente o empresário Henrique Chagas, que aos 27 anos achou que precisava rejuvenescer.
O laser lavieen no rosto traz os mesmos benefícios, usa a mesma degradação da pele e diminui a flacidez e olheiras. Ele remove vasinhos vermelhos próximos do nariz. Tem mais. Ultrassom micro e macro focado, por R$ 2.000, estimula a colagem por um ano. Fio de PDO (polidioxanona) enfiado no rosto estimula o colágeno por ser um corpo estranho com resultado imediato. Sem se esquecer a plástica.
Tem a opção do laser CO2, que deixa a pele inchada e avermelhada por quatro dias, mas é indicado para rugas e linhas de expressão, melhorar a textura da pele, manchas escuras ou melasma, manchas senis, estrias, cicatrizes de acne da região do rosto, trazendo rejuvenescimento.
O Botox, que paralisa o músculo, a neurotoxina da bactéria do botulismo, o veneno mais letal conhecido, bactéria que sobrevive até sem oxigênio, é talvez o procedimento mais popular, e por R$ 1.400 garante-se um rosto firme por seis meses.
Complexos vitamínicos, injeções de emagrecedores, eletroestimulação ou magnética, retirada de vértebras, raspagem de sobrancelhas, nariz, ácido hialurônico, fibras, hidratação, alimentos ricos em antioxidantes, cremes... Já se calculou a porcentagem do PIB que é consumida para retardar o envelhecimento?
Na Dinamarca, sim. Por conta do Ozempic, da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, que impactou o PIB do país, existem dois números: o com e o sem a inclusão do faturamento da injeção de semaglutida, para se saber o real estado da economia.
1 7 O que a ciência diz sobre tratamentos para emagrecer
A semaglutida, composto dos medicamentos Ozempic e Wegovy, ganhou popularidade devido à eficácia. É considerada segura, mas pode ter efeitos George Frey/REUTERSMAIS
VOLTARFacebookWhatsappXMessengerLinkedinE-mailCopiar link Segundo a Bloomberg, em valor de mercado, a Nordisk (US$ 530 bilhões), que criou um medicamento para pacientes com diabete tipo 2 e obesos, é maior que a economia dinamarquesa (US$ 405 bilhões). Não existem tantos diabéticos assim.
Ou seja, o nível de autoestima e do viver bem e saudável comanda a economia mundial e talvez supere o investimento em bem-estar social e a saúde do planeta. Isso, sim, é um filme de terror.
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